Em mais um capítulo da crise interna do PSDB, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, encaminhou carta de demissão ao presidente Michel Temer nesta segunda-feira (13). A decisão vem a público quatro dias depois de o presidente afastado do partido, senador Aécio Neves (MG), ter destituído o colega Tasso Jereissati (CE) para “garantir isonomia” na disputa com o governador de Goiás, Tasso Jereissati, pelo comando tucano. Deputado federal por Pernambuco, Bruno se licenciou para assumir a pasta, que chefiava desde maio de 2016, e agora é o primeiro dos quatro ministros do PSDB a desembarcar da base aliada.
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“Ainda há muito o que se fazer. O país responde rapidamente ao comando da boa gestão, testemunhei isso. É hora das [sic] prioridades serem mais da sociedade e menos das corporações”, diz trecho da carta (leia na reprodução abaixo).
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Em maio, no dia seguinte à divulgação das gravações que flagraram Temer com o delator Joesley Batista, dono da JBS, Bruno chegou a anunciar o rompimento com o governo, mas foi convencido a permanecer à frente do ministério. Sete meses depois, em meio à divisão entre adversários e apoiadores de Temer no tucanato, e às vésperas do ano eleitoral, Bruno pode estimular a saída dos outros ministros do PSDB. Agora, o partido ainda tem Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).
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Bruno informou a Temer sobre sua decisão minutos antes de participar, com a presença do presidente, de lançamento de projeto do Ministério das Cidades. Na ocasião, o agora ex-ministro deslizou durante o discurso e chegou a se referir ao passado, como que a lembrar feitos. “Não tenho a menor dúvida de que deixamos… que o governo de vossa excelência deixa plantado, com a regularização fundiária e com o cartão reforma”, declarou.
O deputado deixa o governo no momento em que o chamado “centrão”, conglomerado de bancadas que reúne mais de 200 deputados, exige que Temer redistribua ministérios entre partidos mais fiéis que o PSDB – que, na votação das duas denúncias contra o presidente, viu metade de seus membros optar pelo prosseguimento das investigações. A reforma ministerial já é admitida abertamente por Temer, à medida que os tucanos batem em revoada. Partidos como PR, PP e PTB almejam as vagas que venham a ser abertas pelo PSDB, que tem 46 deputados.
Tucanos em guerra
Bruno Araújo deixa o governo Temer antes mesmo da data-limite informalmente estipulada para o fim da aliança, a partir de 9 de dezembro, quando o partido deve decidir em convenção nacional quem o comandará pelos próximos anos. Extremamente dividido entre o grupo de Aécio, que insiste na manutenção da aliança com o governo, e o de Tasso Jereissati, que inclui nomes como Fernando Henrique Cardoso, o PSDB é a principal legenda de apoio à gestão peemedebista, além do PMDB, e pode provocar uma debandada ainda maior na base aliada, envolvendo partidos como o DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ).
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Na decisão que destituiu Tasso do comando interino do partido, Aécio, afastado justamente por ter sido denunciado na Operação Lava Jato, acabou por provocar ainda mais animosidade entre os polos do partido, com deputados revoltados a manifestar descontentamento no plenário da Câmara e nas redes sociais. O senador cearense tinha assumido o comando da sigla após Aécio se afastar do posto, em maio deste ano, depois da divulgação de áudios que integravam o acordo de delação dos donos da JBS. Aécio foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista. Agora, quase seis meses depois – período em que chegou a ser afastado do cargo de senador e foi obrigado a ficar em casa durante a noite por determinação do STF, mas conseguiu que seus colegas de Senado revertessem a decisão 20 dias depois – o mineiro reassume o cargo.
“Estou reassumindo a presidência do partido e, ato contínuo, indicando nosso mais antigo vice-presidente, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, para conduzir com imparcialidade a eleição que se dará na convenção nacional marcada para o próximo dia 9 de dezembro”, diz Aécio em comunicado. A imparcialidade a que o senador se refere opõe Tasso e Perillo, mas o próprio governador de São Paulo e presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, já é cotado para comandar o partido em uma tentativa de unificá-lo internamente.
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Leia a íntegra da nota:
Voto final
Bruno Araújo foi o responsável por dar o voto decisivo, de número 342, que autorizou o prosseguimento para o Senado do processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, em abril do ano passado. Agora fora do governo Temer, deve se somar aos chamados “cabelas pretas” do PSDB, como são chamados deputados novos e que defendem o rompimento da aliança com Temer.
Mas o deputado pernambucano já se disse defensor da política reformista de Temer, e deu exemplo de seu apoio. No dia 26 de abril deste ano, por exemplo, o ministro foi exonerado de última hora do cargo para voltar à Câmara e reforçar os votos favoráveis à reforma trabalhista, por exemplo, atendendo aos anseios da gestão peemedebista.
Também deixou o ministério por um dia para reforçar o grupo tucano que votou para salvar Temer, em 25 de outubro, das acusações de organização criminosa e obstrução de Justiça. O total de insatisfeitos com o presidente no PSDB passou de 21 para 23, em relação à votação de 2 de agosto, quando o peemedebista também foi salvo, momentaneamente, das investigações.
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