Por Eduardo Amaral
Especial para o Congresso em Foco
Dispersão e pequenos protestos foram a marca da Greve Geral em Porto Alegre. As ações começaram ainda na madrugada, quando os grupos se dividiram para fazer barricadas nas garagens de empresas de ônibus na capital gaúcha.
Das 11 empresas responsáveis pelo transporte coletivo, sete tiveram a saída interrompida no início da manhã. Em dois locais a Brigada Militar (BM) usou bombas de efeito moral e gás de pimenta para dispersar os manifestantes. A primeira ação foi na sede da empresa Nortran, responsável pelas linhas da zona norte da cidade. A ação durou pouco mais de cinco minutos, e os ônibus foram liberados por volta das 5h30.
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Outro local que teve conflito entre Brigada e manifestantes foi na Carris, localizada na zona leste. Diferente do que aconteceu na Nortran, a saída demorou um pouco mais pois os manifestantes reagiram a ação do pelotão de choque da BM. Os relatos são de que rojões e pedras foram atirados contra o batalhão, o que é repudiado pelos manifestantes.
“Não seríamos loucos de atirar contra o pelotão de choque da Brigada, fortemente armado”, afirmou o representante da CSP Conlutas, Érico Corrêa. Ele reconhece que os rojões foram utilizados, mas afirma que os mesmos foram jogados para o ar.
Bombas de gás foram disparadas para dispersar os manifestantes que ocupavam a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que incendiaram pneus para bloquear a rua Sarmento Leite por volta das 6h. Após a dispersão inicial, o grupo voltou a bloquear a mesma via, mas em outro ponto, desta vez sem o uso de de pneus queimado. Mesmo assim a BM voltou a usar bombas de gás após uma tensa negociação.
Apesar dos conflitos entre manifestantes e polícia, a Greve Geral pouco interferiu na rotina da capital gaúcha. No centro da cidade, local onde os protestos se concentram ao longo da manhã, o comércio funcionou normalmente. Apenas os bancos ficaram fechados durante o dia, exceção feita as instituições públicas como Banrisul e Caixa Econômica Federal. O maior impacto foi causado no Teensurb, que começou a operar uma hora mais tarde do que o habitual e sem cobrar passagem. Isso aconteceu porque o sindicato dos funcionários manteve a greve, mas a empresa decidiu manter o funcionamento dos trens. Apesar disso, a empresa alegou não ter como cobrar o valor da passagem pela falta de pessoal.
Uma decisão judicial determinou a presença de pelo menos um funcionário para atender os passageiros nos horários de pico, o que foi considerado insuficiente pela empresa. A justificativa dos gestores do Teensurb foi classificada como uma “balela” pelo presidente do Sindmetro RS, Luis Henrique Chagas em entrevista à rádio Guaíba. Durante todo o dia o Teensurb funcionou com uma tabela horária diferente.
Prisões geram controvérsia
Ainda durante a manhã três homens foram detidos após a BM dispersar os manifestantes que bloqueavam a saída da garagem da empresa Carris. Os primeiros presos foram dois manifestantes acusados de apedrejar ônibus que tentavam sair. Os dois foram encaminhados para o Palácio da Polícia e liberados poucas horas depois.
De acordo com a Associação dos Transportes de Passageiros de Porto Alegre (ATP), pelo menos 13 coletivos foram depredados.
O caso mais polêmico foi a prisão do professor da rede estadual, Altemir Kozer. Ele foi preso por carregar rojões e pedras. De acordo com a BM os materiais foram utilizados para atacar a tropa de choque, o que é negado pelos organizadores.
Diferente dos outros manifestantes, Kozer não foi liberado, mas encaminhado ao sistema prisional. Como o Presídio Central está lotado, ele foi encaminhado para o centro de triagem Pio Buck.
À tarde, uma comitiva se reuniu com o Secretário Chefe da Casa Civil, Fábio Branco, para cobrar a libertação de Kozer e garantir o tratamento adequado para o professor. “Ele não é do sistema prisional, queremos garantir que ele tenha um tratamento digno”, afirmou Corrêa.
De acordo com o sindicalista, Branco se comprometeu a averiguar o caso. A secretaria não confirmou que Kozer foi enquadrado na lei anti-terrorismo.
Outra cobrança dos manifestantes foi quanto a ação da BM. De acordo com o grupo, os policiais abordaram as mulheres chamando-as de “vagabunda”, entre outros xingamentos.
Outra queixa teria sido a abordagem em favor do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ). Segundo os relatos, os brigadianos abordavam os manifestantes dizendo: “espera o Bolsonaro ganhar e vamos bater mais ainda”. Em nota o governo disse que vai apurar as denúncias.
Opção de legenda: Ápice dos protestos aconteceu em frente ao Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, quando esteve reunido o maior número de pessoas.
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