Vestida de branco e filmada em primeiro plano (do busto para cima), Marta não se estendeu nas explicações sobre sua decisão – as razões foram explicitadas em carta (veja íntegra abaixo) encaminhada aos correligionários de São Paulo, na qual ela menciona o PT como “protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”. Segundo a senadora, “valores” a levaram a sair do PT.
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“Mas o PT acabou se desviado do caminho, se contaminando com o poder. E eu quero dizer para vocês que eu nunca me desviei de meus valores – os valores que meus pais me ensinaram, com que eu criei os meus três filhos. Não me desviei da luta para a justiça social, para a luta de tudo o que eu sempre acreditei”, disse Marta, que mais cedo entregou ao diretório municipal do PT paulista a carta de desfiliação.
“É por essas razões que hoje eu deixo o partido. Não para desistir do caminho iniciado há 30 anos, mas exatamente para continuar a segui-lo”, acrescentou.
Na carta, Marta Suplicy também relata como está o clima no âmbito de sua bancada no Senado. “Como membro do PT, encontro-me em situação absolutamente constrangedora na bancada e no Plenário do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não mais me representa, assim como a milhões de brasileiros que nele um dia acreditaram”, registra a senadora.
Ameaçada de perder o mandato, uma vez que o PT promete recorrer à tese da fidelidade partidária para manter a vaga da senadora, Marta lembrou ter sido eleita com mais de oito milhões de votos e sinaliza que lutará para continuar no Senado. “Serei fiel ao meu mandato e permanecerei depositária dos valores defendidos por aqueles que votaram em mim, hipotecaram sua confiança pessoal, e abraçaram as ideias que defendo desde a época em que me tornei pessoa pública em programa diário de TV onde sempre me pautei por princípios éticos inegociáveis”, avisou.
No entanto, são cada vez mais frequentes os rumores de que, ao deixar o PT, Marta mira as eleições municipais de 2016, pleito que deve tê-la como candidata à Prefeitura de São Paulo pelo PSB. Também há a possibilidade de a senadora migrar para PDT ou PPS. Hoje (terça, 28), ela reuniu sua equipe de gabinete em Brasília para discutir o assunto.Desfiliação anunciada
Especulações sobre a saída de Marta Suplicy do PT se intensificaram desde novembro do ano passado, quando ela renunciou ao comando do Ministério da Cultura. Na ocasião, a senadora passou a disparar críticas à gestão de Dilma Rousseff e, em sua carta de demissão, disse que a pasta tem inúmeras carências.
Dias depois, Marta voltou a atacar o governo e seu próprio partido em entrevista veiculada em 11 de janeiro no jornal O Estado de S. Paulo. Sem poupar Dilma, a parlamentar – que, em 2014, engrossou as fileiras do movimento “volta, Lula” – declarou que não reconhecia mais o PT. “Ou o PT muda, ou acaba”, sentenciou.
No dia seguinte à publicação da entrevista, em 12 de janeiro, Marta encaminhou à Controladoria-Geral da União documentos que sugerem irregularidades em contratos de R$ 105 milhões firmados pelo ex-ministro Juca Ferreira, que retornava ao comando do Ministério da Cultura naquela segunda-feira (12). Também de acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, as suspeitas recaem sobre a relação do ministério com uma entidade que presta serviços à Cinemateca Brasileira, órgão vinculado à pasta com sede em São Paulo. Juca reagiu no mesmo dia dizendo que Marta foi melhor prefeita de São Paulo do que ministra da Cultura.
Leia a íntegra da carta em que Marta Suplicy requer desfiliação