O ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB), que até hoje era candidato ao governo de Minas Gerais, divulgou “carta aos mineiros” (íntegra abaixo) nesta quarta-feira (1º/ago) dizendo-se revoltado com a decisão de seu partido, também anunciada hoje, de retirar sua candidatura em uma composição com o PT. Segundo o acordo, que deve ser formalizado nas próximas horas e terá efeito em 11 estados, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, acertam a saída de Lacerda da corrida ao governo e incluem no pacote, como contrapartida, a retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco.
Assim, o PT sai do caminho da reeleição de Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco, enquanto o petista Fernando Pimentel também vê sua tentativa de se reeleger governador de Minas beneficiada sem a concorrência de Márcio Lacerda. Para o agora ex-candidato ao Palácio da Liberdade, algo inadmissível. O acordo inclui ainda a posição de neutralidade do PSB na corrida presidencial, negando a Ciro Gomes (PDT) – principal concorrente do PT no campo da esquerda e pretendente do apoio dos socialistas –, uma parceria que poderia fortalecê-lo com graves consequência para os petistas.
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“A mim foi oferecida, como alternativa à candidatura ao governo do estado, a candidatura ao Senado em uma composição com o Partido dos Trabalhadores, sugestão com a qual prontamente discordei. Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo”, protestou o ex-prefeito de BH, lembrando que Carlos Siqueira vinha dizendo “clara e publicamente que a nossa candidatura era uma das prioridades do partido”.
Na carta, embora tenha manifestado divergência à aliança, Márcio Lacerda não deixa claro se vai rejeitar a vaga do PSB ao Senado. Caso aceite a disputa, outra frente de atrito se abrirá entre petistas e socialistas, uma vez que a petista Dilma Rousseff já está em franca campanha àquela Casa legislativa. Dilma lidera todas as pesquisas de intenção de voto no estado.
Peleja à esquerda
O acordo PT-PSB também prevê o apoio do atual governador de Pernambuco à candidatura do ex-presidente Lula, preso e ameaçado de inelegibilidade, ou ao nome que ele indicar para a sucessão de Michel Temer (MDB). Foi o máximo que o PT conseguiu arrancar do PSB para a corrida presidencial, além da neutralidade do partido em nível nacional – algo que, no atual contexto pré-eleitoral, representa um baque para Ciro Gomes, que tentava um casamento com os socialistas e continua isolado na campanha presidencial.
PublicidadeCiro também já tentou seduzir a deputada gaúcha Manuela D’Ávila, também sem sucesso. Hoje (quarta, 1º/ago), Manuela foi confirmada por aclamação como a terceira candidatura própria do partido para a Presidência da República. Agora, a tendência é que seja intensificado o cortejo da comunista pelo PT, que sonha com uma composição de chapa com Manuela encabeçada por Lula ou seu indicado.
Mais ceso, a colunista Mônica Bergamo (Folha de S.Paulo) adiantava a possibilidade de acordo entre PT e PSB. “Um dos empecilhos para uma coligação [nacional entre PT e PSB] era o governador de São Paulo, Márcio França (PSB-SP). Ele concorre à reeleição e uma aliança com o PT era considerada tóxica para suas pretensões eleitorais, já que a legenda é reprovada por ampla maioria no estado”, escreveu a colunista.
Leia a carta de Márcio Lacerda:
Carta aos Mineiros
Desde o ano passado, tenho percorrido todo o Estado para construir uma alternativa viável e concreta para enfrentar os problemas graves e sérios de Minas Gerais. Nesta minha caminhada, a qual chamei de peregrinação de aprendizado, minha prioridade era pedir a atenção das pessoas, para conversarmos sobre o que os mineiros queriam para as suas vidas, suas angústias e sonhos para as suas famílias e para o estado. Procurei conversar com todos os segmentos da população para apresentar ao povo mineiro soluções para garantir a esperança de novos tempos para o nosso estado.
Fui extremamente transparente e sincero com as pessoas. A exemplo do país, a situação de Minas Gerais está extremamente grave. O buraco está bem mais embaixo do que a maioria da população pensa. Como é do meu jeito, e a maioria das pessoas que me conhece sabe disso, fui sincero, franco e transparente. Papo reto. Preto no branco. Olho no olho.
Com esse meu jeito, com esta proposta, ao longo de quase 200 cidades visitadas, dialogando, ouvindo, conversando e falando a verdade com as pessoas, conquistamos o apoio e a confiança de significativa parcela dos mineiros. As pesquisas hoje demonstram que conseguimos criar uma real e concreta possibilidade à polarização que domina Minas Gerais há quase vinte anos.
Apesar da situação extremamente grave pela qual passa o estado, vi com meus próprios olhos que, mesmo enfrentando muitas adversidades, o mineiro nunca desiste. Tem muita gente produzindo, trabalhando, inovando, dando bons exemplos que perfeitamente podem ser replicados por toda Minas Gerais.
Eu sempre tive uma vida repleta de desafios. Na adolescência e na juventude já comecei a luta contra as injustiças sociais. Na iniciativa privada, procurei ser um empreendedor moderno, inovador, que transformou uma ideia em uma grande empresa, geradora de emprego e renda em todo o país. Mais recentemente, na gestão pública, também busquei colocar em prática os conceitos de inovação, produtividade, ética, coragem, firmeza e,
principalmente, resultados concretos para a vida das pessoas. Em especial como prefeito de Belo Horizonte, alcancei o reconhecimento como excelente gestor tanto no Brasil quanto fora do país.
Sempre fui motivado pela esperança, pela busca de soluções, em reunir as pessoas para resolver os problemas. Esta é a minha forma de trabalhar e que quero implantar em Minas Gerais.
No entanto, na tarde de hoje fui surpreendido pelo meu partido, o PSB, que através do seu presidente Carlos Siqueira, que ao contrário de diversas manifestações anteriores onde disse clara e publicamente que a nossa candidatura era uma das prioridades do partido, veio a Belo Horizonte comunicar que a direção nacional do partido tomou a decisão política de alinhamento com o PT em Minas Gerais. A mim foi oferecida, como alternativa à candidatura ao governo do estado, a candidatura ao Senado em uma composição com o Partido dos Trabalhadores, sugestão com a qual prontamente discordei.
Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo.
Sou um cidadão que vem tentando contribuir ao longo da minha vida para tentar tornar o mundo um lugar melhor. Mesmo quando interesses que não estão a serviço para o melhor da população, das cidades, estados e país, não podemos perder a esperança. O povo mineiro nunca perdeu a esperança e continuará tendo em mim um cidadão, como você, que acredita que uma mudança profunda precisa acontecer. Eu acredito. E é possível.
Marcio Araújo de Lacerda
PDT e PSB se aproximam e formalizam aliança em favor de Márcio Lacerda em Minas Gerais