Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Casa Civil Antônio Palocci e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega eram os responsáveis por arrecadar dinheiro à campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010 e na campanha à reeleição em 2014. De acordo com o empreiteiro, a ex-presidente sabia de doações via caixa dois. Marcelo falou ao tribunal na ação que pode levar à cassação da chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) nas eleições de 2014.
O relator da ação no TSE, ministro Herman Benjamin, encaminhou aos demais ministros da Corte um relatório parcial do processo, que está em sigilo e foi revelado na tarde desta quinta-feira (23) pelo site O Antagonista. Em uma parte dos documentos apresentados pela Odebrecht à Procuradoria-Geral da República, uma planilha atualizada até 31 de março de 2014 registra uma doação para o Instituto Lula, em ano eleitoral, no valor de R$ 4 milhões.
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Disponibilizado pelo ex-diretor do Departamento de Operações Estruturadas Hilberto Mascarenhas, em uma das planilhas aparece escrito: “Doação Instituto 2014!”. O setor de Mascarenhas era conhecido como setor de propinas da empreiteira Odebrecht. Nos documentos apresentados pela empreiteira, Lula é tratado por “Amigo”.
Uma conta corrente mantida pela empreiteira era vinculada ao PT e, por meio dela, eram realizados, também, pagamentos ao marqueteiro João Santana. Marcelo Odebrecht disse que, no governo Lula, Palocci movimentava e depois, entre o governo Lula e Dilma, Guido Mantega passou a cuidar. Conforme seu depoimento, o principal objetivo da conta era atender às necessidades da Presidência da República durante os dois governos.
Na planilha, pelo menos três codinomes estavam vinculados à conta: “Itália”, Antonio Palocci; “Amigo”, ex-presidente Lula; e “Pós Itália”, Guido Mantega. Sobre os valores, os dados apresentados sobre o saldo seria R$ 71 milhões em 22 de outubro de 2013 e R$ 66 milhões em 31 de março de 2014.
Dilma sabia
PublicidadeDe acordo com Marcelo Odebrecht, até 2010, todos os pedidos eram feitos por Palocci. Até então, não havia negociações com Dilma. No entanto, após iniciar seu primeiro mandato, em 2011, passou a tratar da “relação” do PT com a Odebrecht.
“Ela [Dilma] começou a cuidar, digamos assim, da relação – porque 2010 ela praticamente nem olhou as finanças, acho que todos os pedidos de doação foram feitos por Lula, Palocci. E ela nem se envolvia em 2010”, disse Odebrecht.
De acordo com ele, durante a campanha à reeleição, Dilma teria recomendado que todos os recursos fossem doados ao PT, mas especificamente, para sua campanha. O assunto foi tratado com Guido Mantega, que teria relatado o pedido da petista: “Marcelo, a orientação dela [Dilma] é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente paras as necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva ou esses partidos da coligação”.
Em um dos trechos do documento, Marcelo Odebrecht diz que a ex-presidente Dilma Rousseff sabia. “A Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia que nós éramos quem doá… quem fazia grande parte dos pagamentos via Caixa Dois para João Santana. Isso ela sabia”, diz.
Conforme relatado pelo G1, que também afirma ter tido acesso ao documento, Marcelo Odebrecht afirmou ter doado R$ 150 milhões à chapa Dilma-Temer em 2014, mas não separou os valores em doação oficial e caixa dois.
“Nós tínhamos uma relação intensa com o governo. Essa relação intensa, ela gerava também a expectativa de que a gente fosse um grande doador. Então, eu, para não ser pego de calças curtas, eu sempre tentava negociar com meus empresários um valor que, na hora que viesse essa demanda do governo, eu tivesse, da parte deles, uma segurança de que esse recurso haveria”, disse Odebrecht.
Dos R$ 150 milhões, R$ 50 milhões seriam pela aprovação, em 2009, da medida provisória 470/2009, editada pelo governo Lula e que beneficiava empresas do setor.
“Então, em 2009, houve, de fato, para esse caso, uma contrapartida específica para a aprovação de um projeto de lei que atendia a várias empresas. E esses cinquenta milhões vieram com um pedido para a campanha de 2010. Só que acabou não indo para a campanha de 2010, não sendo utilizado na campanha de 2010, e acabou sendo utilizando na campanha de 2014”, disse o empresário ao TSE. Guido Mantega, de acordo com Marcelo Odebrecht, era o interlocutor da empresa com o governo.
Sobre o início da relação com Dilma, ele disse ter avisado que tratava das doações com Palocci. “Eu falei com ela [Dilma]… olha, Presidente, em 2010, 2009, em 2010, eu falei: Presidente, tudo eu estou tratando com o Palocci, era o meu combinado com o Lula, tá ok? Ela falou: ‘Tá ok’.”
Em nota, a assessoria da ex-presidente Dilma informou que ela “sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio” e afirmou que é preciso incluir provas aos depoimentos.
Leia a íntegra da nota de Dilma:
NOTA À IMPRENSA
Não adianta lançarem novas mentiras contra Dilma Rousseff
A respeito de informações publicadas nesta quinta-feira, 23, sobre um supostas declarações, avisos e afirmações atribuídas ao empresário Marcelo Odebrecht, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff esclarece:
1. A ex-presidenta Dilma Rousseff não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula.
2. É preciso deixar claro: Dilma Rousseff sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio.
3. Dilma Rousseff jamais pediu recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais, ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores.
4. O senhor Marcelo Odebrecht precisa incluir provas e documentos das acusações que levanta contra a ex-presidenta da República, como a defesa de Dilma solicitou – e teve negado os pedidos – à Justiça Eleitoral. Não basta acusar de maneira leviana.
5. É no mínimo estranho que, mais uma vez, delações sejam vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita e inusual, justamente no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral, órgão responsável pelo processo que analisa a cassação da chapa Dilma-Temer, está prestes a examinar o relatório do ministro Herman Benjamin.
6. Espera-se que autoridades judiciárias, incluindo o presidente do TSE, Gilmar Mendes, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, venham a público cobrar a responsabilidade sobre o vazamento de um processo que corre em segredo de Justiça.
7. Apesar das levianas acusações, suspeitas infundadas e do clima de perseguição, criado pela irresponsável oposição golpista desde novembro de 2014 – e alimentada incessantemente por parcela da imprensa – Dilma Rousseff não foge da luta. Vai até o fim enfrentando as acusações para provar o que tem reiterado desde antes do fraudulento processo de impeachment: sua vida pública é limpa e honrada.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
DILMA ROUSSEFF”
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