Leia também
Nos bastidores, Rogério Rosso, líder do PSD na Câmara, é considerado um seguidor de Cunha. O parlamentar, segundo mais votado do DF nas eleições de 2014 e no exercício de seu primeiro mandato, foi carimbado como o candidato do peemedebista à sua sucessão na Presidência da Casa. Rosso tem também o apoio de parte do Centrão, como é conhecido o grupo alinhado a Cunha, mas ainda não se lançou como candidato. Até o momento, a escolha do deputado afastado para seu lugar na Presidência é Beto Mansur (PRB-SP).
O mais enfático aliado local do peemedebista, porém, é Laerte Bessa (PR). Não é raro ver o deputado em discussões acaloradas em defesa de Cunha, tanto no plenário quanto no Conselho de Ética – onde Bessa substituiu Vinícius Gurgel (PR-AP) para encorpar a defesa de Cunha no colegiado. No mês passado, durante uma reunião do Conselho, Bessa afirmou que “Cunha fez um grande favor ao país (ao dar prosseguimento à admissibilidade do processo contra Dilma Rousseff), pois encaminhou o impeachment da maior estelionatária do país, uma ladra; só por isso votaria nele”. Porém, Bessa já estuda mudar de opinião em plenário, onde processos de cassação têm votação aberta, com identificação de todos os votos.
“Mal necessário”
O deputado federal mais votado do Distrito Federal, Alberto Fraga (DEM), já afirmou que considera Cunha “um mal necessário para o país”. Integrante da bancada BBB (bala, boi e Bíblia), assim como Cunha, Fraga diz que o agora ex-presidente da Câmara foi o único parlamentar com coragem para mudar o quadro. Recentemente, porém, o democrata tem adotado um discurso mais neutro, a fim de diminuir sua rejeição na corrida eleitoral pelo Governo do Distrito Federal.
A versão “paz e amor” de Fraga assemelha-se ao discurso adotado por Rôney Nemer, eleito pelo PMDB, mas atualmente no PP. Rôney é afilhado político do ex-vice-governador Tadeu Filippelli – presidente do PMDB local e homem de confiança do presidente interino Michel Temer. A ida de Rôney para o PP na janela partidária, inclusive, tem como objetivo fortalecer a articulação local de Filippelli e preencher a lacuna deixada pelo ex-cacique pepista no Distrito Federal, Benedito Domingos, preso desde março deste ano na Papuda, presídio de segurança máxima que tem acolhido figurões não só da política local, mas também de âmbito nacional.
Já Izalci (PSDB), disse que nunca votou em Cunha para a Presidência da Casa. Para ele, com a renúncia, a situação do peemedebista ficou “insustentável”. O tucano ainda considera o “cúmulo” a possibilidade de que o sucessor venha a ser um nome imposto pelo próprio ex-presidente – que, além de ter renunciado, já estava afastado do mandato parlamentar, por determinação do Supremo Tribunal Federal, onde é réu em duas ações penais da Operação Lava Jato.
“A base de Cunha diminuiu consideravelmente. Hoje acredito que ele tenha no máximo 150 votos contra a cassação em plenário”, afirmou o parlamentar ao Congresso em Foco.
Augusto Carvalho (SD) também passou a declarações contra Cunha. Por meio do Facebook, o deputado chegou a manifestar alívio com a renúncia. “Finalmente o pesadelo está acabando. A renúncia de Cunha, tardia, enseja a arrumação definitiva da casa”, registra o perfil do parlamentar em postagem feita por volta das 18h desta quinta-feira (7).
A única parlamentar brasiliense que critica o ex-presidente desde a eleição para o comando da Mesa Diretora da Casa é Erika Kokay (PT). Os discursos contra Cunha ganharam força com o processo de impeachment de Dilma, sua correligionária, que ela diz considerar um “golpe”. Para a petista, “a renúncia de Cunha da presidência da Câmara é acordo com Temer para salvar seu mandato”.
Salvação
A renúncia foi a saída que Cunha encontrou para salvar seu mandato e evitar a cassação já pedida pelo Conselho de Ética e à espera de definição final no plenário da Câmara. Alguns de seus aliados ainda pretendem anular todo o processo e reiniciar o julgamento. A alegação é que houve falha na análise das contraprovas apresentadas por Cunha no colegiado.
Um dos mais íntimos amigos de Cunha na Câmara, o deputado evangélico Ronaldo Fonseca apresentou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) um parecer pedindo a anulação da decisão do Conselho de Ética. A palavra final da CCJ ocorrerá na próxima semana, mas até mesmo os defensores do peemedebista já admitem reservadamente que ele não tem mais chances de reverter a situação.