Pesquisa sobre reforma da Previdência encomendada ao Ibope pela Presidência da República revela que a maioria dos entrevistados apoia as mudanças, desde que não alterem seus próprios direitos adquiridos. A consulta começou a ser realizada em 31 de maio – 15 dias depois da divulgação dos áudios que, gravados por Joesley Batista (dono da JBS), quase derrubaram o presidente Michel Temer – e transcorreu até 4 de junho, mas não foi divulgada pelo governo.
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A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em todos os estados do país e revelou que, na opinião de 58% delas, a reforma do sistema previdenciário deve ser feita, desde que o entrevistado mantenha seus direitos, individualmente. Por outro lado, outros 28% disseram que a reforma não deveria ser realizada. O Ibope mostrou ainda que, àquela época, quando até a renúncia de Temer começava a ser cogitada na mais grave crise da gestão peemedebista, 69% classificaram o governo Temer como ruim ou péssimo. Ótimo ou bom somaram 6%, enquanto 23% o classificaram como regular. Por fim, 2% disseram não saber classificar a gestão.
<< Leia a íntegra: Ibope – Avaliação de Governo e Reforma da Previdência
A rejeição ao governo Temer também se verificada quando a pergunta é se o entrevistado (o) “aprova ou desaprova o desempenho atual” da gestão peemedebista: 80% dos entrevistados disserem desaprovar, enquanto 14% declararam sua aprovação (4% disseram não saber a resposta; 1% não responderam).
PublicidadeContrasta com a não divulgação do trabalho os próprios gastos de Temer com esse tipo de serviço encomendado ao Ibope: de janeiro a novembro de 2017, a Presidência da República pagou R$ 2,27 milhões em ordens bancárias ao instituto. O valor consta de levantamento realizado pelo Congresso em Foco no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), instrumento de registro, acompanhamento e controle das execuções orçamentária, financeira e patrimonial do governo federal.
Foi a única pequisa encomendada ao Ibope pelo Planalto e devidamente homologada em 2017. Mas, como evidenciou a má avaliação do governo, bem como a desconfiança em relação à reforma da Previdência, não foi dada a devida publicidade ao trabalho. Na atual leva de propagandas que o governo tem bancado em escala nacional, a Presidência tenta mostrar a ideia de que o sistema previdenciário, além de deficitário, privilegia uma minoria que, entre outros, é formada por servidores públicos – postura que tem revoltado a classe, como este site mostrou em 2 de dezembro.
O levantamento mostra também que a população vê governos anteriores como os responsáveis pelo rombo previdenciário. Para 64% dos entrevistados, a situação da Previdência Social “é consequência das ações de vários governos, que vem se arrastando há mais de 20 anos”. Já entre os 28% que culpam um governo específico pela situação do sistema, 58% responsabilizam a gestão Temer pelo quadro atual. Segundo o Ibope, a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e seu nível de confiança é de 95%.
Pessimismo
A pesquisa mostra questões curiosas, como o fato de que 15% dos entrevistados dizem desconhecer quem é o atual presidente do Brasil. Outros 58% disseram que a situação econômica do país está pior do que a dos seis meses anteriores, enquanto 69% declararam que a “economia brasileira está em um momento difícil e deve piorar ainda mais”.
Em relação às mudanças na Previdência, 92% disseram ter “visto ou ouvido” notícias a respeito por meio da televisão. O percentual despenca quando o veículo de informação que levou o assunto ao entrevistado são as “páginas do governo federal na internet”: 2%. Jornais impressos receberam 9% das respostas.
Mas a reforma preferida dos consultados é a que promove redução dos gastos do governo (76% a favor; 19% contra), seguida da reforma tributária (55%; 28%), da mudança nas leis trabalhistas (47%; 43%), da reforma política (71%; 21%) e da redução de ministérios e de cargos comissionados (67%; 23%).
Quanto à idade mínima para aposentadoria, o governo lembrou que era de 65 anos para mulheres na proposta original e passou para 62 anos: 49% disseram concordar totalmente, enquanto 17% concordaram em parte. “O tempo de contribuição para aposentadoria integral passa de 49 anos na proposta original para 40 anos na proposta atual”, apontou o governo, ao que 47% disseram concordar totalmente e outros 20% responderam concordar parcialmente.
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Na seção “Recomendações”, o cenário descrito pelo Ibope não era bom para o governo, o que demandaria providências na comunicação oficial. “De maneira geral, a pesquisa revela um clima de pessimismo quanto ao futuro do país e de desesperança quanto à melhoria de desempenho tanto do Governo Federal quanto da economia do Brasil em um futuro próximo. Uma comunicação que evidencie ações governamentais voltadas para a diminuição do desemprego e dos gastos públicos e para o controle da inflação, podem ser favoráveis no sentido de recuperar o otimismo da população adulta brasileira sobre o governo e a economia”, diz o documento.
Já na parte de “Conclusões/Considerações Finais”, o trabalho também demonstra o relativo desconhecimento do tema “Previdência Social” entre os entrevistados. “Questionados sobre o pagamento de aposentadorias e outros benefícios da Previdência, mais de um terço acredita que a Previdência tem recursos suficientes, enquanto os demais se dividem entre a crença na falta de recursos e os que não ouviram falar sobre o assunto. Já sobre o futuro dos recursos disponíveis, pouco mais de quatro em cada dez entrevistados acredita que eles serão escassos para os pagamentos previdenciários; cerca de três em cada dez não ouviram falar sobre o assunto e os demais acham que os recursos serão suficientes”, diz outro trecho da pesquisa.
Por telefone
Outra pesquisa Ibope, esta feita por telefone, mostra um quadro menos negativo para o governo. O Congresso em Foco solicitou acesso ao trabalho, mas ainda não recebeu o conteúdo. Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o trabalho ainda não foi homologado e, portanto, não foi tornado público. Segundo o órgão, o levantamento pode vir a ser homologado até 31 de dezembro ou três meses depois, em março de 2018.
Mas uma reportagem do jornal Correio Braziliense publicada nesta segunda-feira (11) informa que, de acordo com a pesquisa telefônica, a rejeição popular à reforma da Previdência foi reduzida. A secretaria de comunicação do Planalto disse a este site que, a despeito da não homologação do levantamento, os dados estão corretos.
Segundo o texto assinado por Alessandra Azevedo, a maioria da população entende que, com a reforma da Previdência, o governo terá uma folga orçamentária que lhe permitirá investir em saúde, educação e segurança pública. “[…] falta convencê-la da necessidade de se instituir uma idade mínima para aposentadoria e explicar a regra de transição para se chegar à exigência de 62 anos, para mulheres, e de 65, para homens”, diz trecho da reportagem.
“Com a nova investida nas propagandas e os recentes cortes na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 287, a aprovação à reforma subiu de 18% para 26% nos últimos dias. A rejeição caiu de 46%, no início de novembro, para 30%, no fim do mês. No mesmo período, os indecisos foram de 33% para 42%, uma margem grande para angariar apoio. Ainda de acordo com o levantamento, 67% dos brasileiros concordam que servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada tenham as mesmas regras para se aposentar, e 55% são favoráveis à reforma acabar com privilégios de algumas categorias”, acrescenta o jornal.
Leia a íntegra da reportagem do Correio
Embora reconheça não ter votos para aprovar a reforma, o governo está mobilizado há semanas para conseguir os 308 exigidos na aprovação de uma PEC. Segundo o calendário idealizado pelos governistas, a matéria terá discussão iniciada na próxima quinta-feira (14) em plenário, de maneira que seja votada em primeiro turno na próxima semana, a partir de segunda-feira (18), a quatro dias do fim do ano legislativo.
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