Para o senador Magno Malta (PR-ES), praticante de lutas e patrocinador entusiasta de lutadores de MMA, “algo estranho” está por trás das intenções de José Mentor. “Algo bom não é”, disse Magno ao Congresso em Foco, lembrando que, apresentado em 2009, a abordagem do projeto vem à tona em ano de eleições municipais. “Mas ninguém pode barrar a força popular, ninguém pode barrar a vontade das pessoas em mudar de vida. Esse esporte é um grande instrumento de combate e prevenção às drogas, começou a ganhar as favelas, os guetos, dando uma oportunidade de futuro para as pessoas que antes estavam entregues às drogas, perdidas no crime”, acrescentou.
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Para Magno, o projeto de Mentor é um “resquício de censura” e representa um “retrocesso” na legislação brasileira. Mas, emenda o senador, a matéria não será exitosa. “Esse projeto não tem futuro. Sou um parlamentar que nunca fugiu da luta. Vou fazer um enfrentamento com ele [Mentor], e vamos sair vencedores. As pessoas vão ficar do nosso lado, e não do lado de quem quer coibir um esporte que tira tantos jovens nas drogas, dá oportunidade para tanta gente”, provoca.
O senador capixaba diz ainda não temer iniciativas semelhantes àquela já formalizada pelo deputado Mentor. Ele lembra que o Ministério da Justiça e nomes como o senador Wellington Dias (PT-PI), que recentemente discordou de um projeto de Magno sobre a inclusão da luta em escolas, são obstáculos a serem transpostos por meio do debate.
“Me sinto mal [com as objeções], envergonhado. Eu chamaria isso de atitude de covardia. Eu convivo há 30 anos com família que choram todos os dias por causa de seus filhos drogados, sem oportunidade. Esse esporte é uma contribuição ao combate contra a violência, que o governo de que ele [Wellington] faz parte não consegue resolver”, lamenta Magno, que também pertence à base de sustentação do governo que critica.
Pelos ringues da vida
A disposição de Magno Malta para a “briga” não se resume ao plano ideológico. Praticante de boxe e espécie de tutor de diversos lutadores brasileiros, o senador é figura fácil nos principais eventos da luta no Brasil. Em 31 de janeiro passado, ele no “Pink Fight MMA”, realizado em Porto Seguro, Bahia, a primeira competição do esporte para mulheres no país e versão feminina do “Jungle Fight” – torneio em que o ex-líder do PSDB no Senado, o faixa-preta de jiu-jitsu Arthur Virgílio (AM), era presença garantida.
Neste vídeo abaixo, a reportagem da TV Sul Bahia postada no Youtube mostra a presença da TV Globo no Pink Fight, em mais um sinal do interesse da emissora no universo das competições de vale-tudo. O microfone global aparece aos três minutos de filme. Confira:
“Se hoje o Brasil tem respeito mundial no esporte não é no futebol. É na luta”, disse à reportagem Magno Malta, que chega a custear alimentação, estadia e treinamento de alguns atletas em Brasília e no Espírito Santo, seu reduto eleitoral. “O MMA é muito profissional, e os atletas são muito bem treinados, com muita técnica, e preparadíssimos para a luta. Ninguém coloca pessoas despreparadas dentro de um ringue pra tomar soco de ninguém à toa”.
Luta na escola
O senador adiantou à reportagem que pretende apresentar projeto de lei que inclui lutas marciais no currículo instituições de ensino, como parte de seu projeto de recuperação de crianças e jovens carentes em situação de vulnerabilidade. Um dos criadores do Projeto Vem Viver, que atua em Vila Velha há cerca de 30 anos, Malta acredita que a violência não está nas artes marciais, mas em outros setores da sociedade. “Devia haver um projeto para impedir que homens públicos, artistas, atores de televisão, cantores apareçam fumando, bebendo, por terem tanta visibilidade”, considera.
Para o senador, diversos esportes apresentam um nível até mais alto de violência, e nem por isso são proibidos. Ao contrário, são tradicionais, mobilizam multidões e movimentam gigantescas cifras junto ao mercado consumidor. “Violento é briga de torcida, tiro, rasgar nota de carnaval”, diz Magno, referindo-se ao tumulto causado por vândalos na apuração de notas no carnaval de São Paulo, na última terça-feira (21). “Você vê o tempo todo perna de jogador de futebol quebrada na televisão, e disso ninguém reclama. Existe uma violência muito grande em todo tipo de esporte em que há contato.”
Além do profissionalismo visto por Magno nas lutas de vale-tudo, há ainda outro elemento favorável ao esporte apontado pelo senador – o culto à saúde. “Os caras do MMA não querem tomar nem guaraná. Eles são geração saúde, são muito saudáveis e se cuidam muito”, diz. Para Magno Malta, o MMA não seria explorado na telinha da Globo se não fosse sua “boa imagem” (o tema MMA foi inserido na novela “Fina Estampa” por meio do personagem Wallace Mu, campeão mundial na trama vivido pelo ator Dudu Azevedo).
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