Em entrevista ao Congresso em Foco, Fernando Fero nega que a inflação esteja descontrolada e diz que parte da subida dos preços está atrelada ao alto consumo e a problemas econômicos internacionais. Mas aponta que a “baixa qualidade” do diálogo dentro da base aliada no governo Dilma também contribuiu para esse e outros percalços na economia brasileira.
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“O governo do presidente Lula teve um comportamento político diferenciado, que nós, de certa maneira, perdemos”, disse o ex-líder do PT. “Foi de menor qualidade do que no governo Lula. Tanto que nós ultimamente tivemos que mudar ministros para retomar a iniciativa no campo da articulação. E isso tem consequências na economia.”
Ferro lembrou que os índices econômicos do passado não devem voltar por causa da conjuntura econômica. “Aquele período do governo Lula não está acontecendo. Tivemos outros indicadores, em outro contexto econômico e mundial, diferentes desses. Não está uma situação fácil”, disse.
O deputado diz que a inflação é sazonal e motivada por crises mundiais na produção de alimentos. Defensor do governo, Ferro entende que segurar o preço da gasolina, como tem sido feito, é uma das maneiras de combater o problema. Outra é aumentar os investimentos. “O governo vai fazer. Vai vir uma nova fase de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento pra abrir mais oportunidades na economia.” Ele torce para que a nova safra, mesmo com os problemas na irregularidades das chuvas, reduza o preço dos alimentos.
Crítico dos presidenciáveis Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), ele diz que os candidatos adotaram um discurso “de direita” ao defenderem mais austeridade nos gastos do Estado. “No fundo, negam as conquistas sociais do nosso governo.”
PublicidadeVeja os principais trechos da entrevista com o deputado Fernando Ferro:
Congresso em Foco – Não há como ser oposição sem ser direita? O PSB é direita?
Fernando Ferro – O discurso do Eduardo Campos se aproximou muito do do Aécio. Não só o contato físico e a sequencia de reuniões, mas, me parece, uma tabelinha funcionando aí. Estão municiando-se mutuamente. Ele está construindo um discurso conservador, ao falar que o Estado está gastando muito, que tem que fazer um ajuste fiscal. O que ele quer dizer com isso? Vai ter que cortar o Bolsa Família, o Luz pra Todos, os investimentos sociais?
Será que não está falando de funcionalismo?
Está falando de despesas do governo, que o governo gasta mal, gasta muito. Isso se assemelha ao que Aécio tem falado. É preciso sinalizar para o empresariado com esse discurso de austeridade econômica e fiscal. No fundo, nega as conquistas sociais do nosso governo.
O PSB é de direita ou esquerda?
Eles estão fazendo oposição pela direita.
O que pode ser feito para diminuir a inflação?
Isso é questão sazonal [temporária, comum em determinadas épocas que se repetem]. Não tem como. É uma crise mundial climática, de escassez de alimentos. Aumentou o poder aquisitivo da população brasileira. O povo está comendo mais. A produção que se tinha para alguns anos atrás… Evidente que gera essa pressão de preços e pressão inflacionário. De fato, mas é uma questão sazonal, não é uma questão estrutural.
O cidadão vai comprar um pacote de arroz por R$ 14: isso não tira voto?
Claro. Cria um clima que está sendo aproveitado… A oposição está querendo criar um clima de que se perdeu o controle da inflação. Isso não é verdade. Estamos enfrentando um contexto conjuntural, de pressão inflacionária que tem a ver… O Brasil não é uma ilha. Tem uma crise mundial aí. Enquanto estamos convivendo com uma inflação de 6%, por aí afora a situação é muito pior. Temos em todo mundo o aumento do desemprego, os indicadores sociais pioram. Aqui é ao contrário.
Então o governo não precisa fazer nada com a inflação?
Precisa. Tem que tomar providência porque você não pode relaxar nisso. Ficam reclamando porque a gente não aumentou o preço da gasolina. Você imagina se a gente faz isso? Combinado com essa situação, você pode criar uma onde de aumento ainda maior.
Além de segurar o preço da gasolina, o que mais precisa ser feito?
Acho que o governo tem uma contribuição com o aumento do investimento para colocar a economia. O governo vai fazer. Vai vir uma nova fase de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento pra abrir mais oportunidades na economia. Isso vai fazer parte de uma sequencia que tem tido de mobilização da economia. Você não pode desconsiderar que recentemente foi vista a imagem do Brasil para investimento como boa. Tanto que aumentou o número de investimentos. Diferente do discurso da negação, estão vindo investidores para o Brasil.
O senhor diz que a inflação é sazonal. Até quando vai essa inflação?
Não sei. Nós vamos ter um período agora de nova safra. Vamos depender disso. Como foi um ano de regime de chuva complicado, é possível que vamos ter que conviver com essa pressão inflacionaria e com esses aumentos ainda por um tempo, mas eu acredito que sob controle.
Por que temos crescimento de PIB baixo e inflação alta?
Não é nossa virtude crescimento de PIB. Somos o terceiro PIB, depois de China e Coreia. E os outros países que não cresceram? Temos que comparar com isso. Brasil não é uma ilha. É um país que está dentro do contexto de uma crise internacional.
Mas com PIB baixo, a inflação não tinha que ser menor?
Não necessariamente. Uma pressão de aumento de demanda em algumas áreas, para uma população que melhorou o poder aquisitivo. Essa população que teve acesso a bens vai pressionar. Temos que conviver com isso aí. De fato, aquele período do governo Lula não está acontecendo. Tivemos outros indicadores, em outro contexto econômico e mundial, diferentes desses. Isso é o que inspira um cuidado e monitoramento. Por isso tivemos que apelar para uma política de elevação de juros. A situação… não está uma situação fácil.
Mas o governo Lula não teve também méritos próprios? Ou ele pegou carona em uma maré? Não tem o que se fazer? Somos vítimas da conjuntura tanto para melhorar como para piorar?
Eu acho que o governo do presidente Lula teve um comportamento político diferenciado, que nós, de certa maneira, perdemos. Até no diálogo com algumas áreas. Isso aí, realmente, a nossa articulação política foi, eu diria, de menor qualidade do que no governo Lula. Não há como não reconhecer. Tanto que nós ultimamente tivemos que mudar ministros para retomar a iniciativa no campo da articulação política. E isso tem consequências na economia. Há reclamação de setores que perderam a capacidade de dialogar com algumas áreas. Houve de fato dificuldades aqui na Câmara. Nossa agenda aqui na Câmara foi afetada inclusive com a alteração da nossa base de sustentação aqui que modificou. Num ano eleitoral, essas coisas tendem a aflorar com mais intensidade. Não vejo como ficar livre disso. E aí nossos adversários e até os ex-aliados – que agora são oposição – vão se aproveitar desse cenário para fazer a disputa eleitoral e política.
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