Delcídio foi preso no dia 25 de novembro do ano passado, quando exercia o cargo de líder do governo no Senado e era um dos principais representantes do PT no Congresso Nacional por oferecer a outro delator da Operação Lava Jato – o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró – apoio financeiro, proteção judicial e até um plano de fuga do país em troca do seu silêncio.
Leia também
Dirigente da estatal durante o governo Fernando Henrique, Delcídio do Amaral foi abandonado pelos petistas ao ser pilhado em tentativa de obstruir as investigações da Lava Jato.
Veja os principais trechos da entrevista:
Lula comandava
Publicidade“Eu errei ao participar de uma operação destinada a calar uma testemunha, mas errei a mando do Lula. Ele e a presidente Dilma é que tentam de forma sistemática obstruir os trabalhos da Justiça, como ficou claro com a divulgação das conversas gravadas entre os dois. O Lula negociou diretamente com as bancadas as indicações para as diretorias da Petrobras e tinha pleno conhecimento do uso que os partidos faziam das diretorias, principalmente no que diz respeito ao financiamento de campanhas. O Lula comandava o esquema.”
Dilma sabia de tudo
“A Dilma herdou e se beneficiou diretamente do esquema, que financiou as campanhas eleitorais dela. A Dilma também sabia de tudo. A diferença é que ela fingia não ter nada a ver com o caso.
(…) O Lula tinha a certeza de que a Dilma e o José Eduardo Cardozo [ex-ministro da Justiça, atual advogado-geral da União] tinham um acordo cujo objetivo era blindá-la contra as investigações. A condenação dele seria a redenção dela, que poderia, então, posar de defensora intransigente do combate à corrupção. O governo poderia não ir bem em outras frentes, mas ela seria lembrada como a presidente que lutou contra a corrupção.”
O papel de Delcídio
“O Lula sabia que eu tinha acesso aos servidores da Petrobras e a executivos de empreiteiras que tinham contratos com a estatal. Ele me consultava para saber o que esses personagens ameaçavam contar e os riscos que ele, Lula, enfrentaria nas próximas etapas da investigação. Mas sempre alegava que estava preocupado com a possibilidade de fulano ou beltrano serem alcançados pela Lava Jato. O Lula queria parecer solidário, mas estava mesmo era cuidando dos próprios interesses. Tanto que me pediu que eu procurasse e acalmasse o Nestor Cerveró, o José Carlos Bumlai e o Renato Duque.
Na primeira vez em que o Lula me procurou, eu nem era líder do governo. Foi logo depois da prisão do Paulo Roberto Costa [ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, preso em março de 2014]. Ele estava muito preocupado. Sabia do tamanho do Paulo Roberto na operação, da profusão de negócios fechados por ele e do amplo leque de partidos e políticos que ele atendia. O Lula me disse assim: ‘É bom a gente acompanhar isso aí. Tem muita gente pendurada lá, inclusive do PT’. Na época, ninguém imaginava aonde isso ia chegar.”
O papel de Aloizio Mercadante
“A presidente sempre mantinha a visão de que nada tinha a ver com o petrolão. Ela era convencida disso pelo Aloizio Mercadante [atual ministro da Educação], para quem a investigação só atingiria o governo anterior e a cúpula do Congresso. Para Mercadante, Dilma escaparia ilesa, fortalecida e pronta para imprimir sua marca no país. Lula sabia da influência do Mercadante. Uma vez me disse que, se ele continuasse atrapalhando, revelaria como o ministro se safou do caso dos aloprados [dossiê falso negociado, em setembro de 2006, por assessores de Mercadante para cacifá-lo contra José Serra na disputa pelo governo de São Paulo]. O Lula me disse uma vez bem assim: ‘Esse Mercadante… ele não sabe o que eu fiz para salvar a pele dele’.”
Petrolão financiou Dilma
“O petrolão financiou a reeleição da Dilma. O ministro Edinho Silva, tesoureiro da campanha em 2014, adotou o achaque como estratégia de arrecadação. Procurava os empresários sempre com o mesmo discurso: ‘Você está com a gente ou não está? Você quer ou não quer manter seus contratos?’. A extorsão foi mais ostensiva no segundo turno. O Edinho pressionou Ricardo Pessoa, da UTC; José Antunes, da Engevix; e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. Acho que Lula e Dilma começaram a ajustar os ponteiros em meados do ano passado. Foi quando surgiu a ideia de nomeá-lo ministro.”
Deixe um comentário