Os advogados do ex-presidente Lula anunciaram, por meio de nota (íntegra abaixo), que vão acionar, mais uma vez, a Justiça contra a revista Veja, desta vez pela publicação de uma capa com referência à ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta no começo de fevereiro aos 66 anos. Com o título “A morte dupla”, a reportagem principal é ilustrada por um porta-retrato com uma imagem de Dona Marisa, como era conhecida a esposa de Lula. A foto foi feita em 2010, segundo a publicação, e ilustra o fato de que o petista, em depoimento ao juiz Sérgio Moro na última quarta-feira (10), atribuiu a Dona Marisa o interesse pelo famoso tríplex do Guarujá (SP) – cujas negociações fizeram Lula virar réu na Operação Lava Jato, com suspeita de ocultação de patrimônio, entre outros crimes. Lula nega as acusações e se diz perseguido pela Lava Jato e pela imprensa.
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“Em seu depoimento ao juiz Moro, Lula atribui as decisões sobre o tríplex no Guarujá à ex-primeira-dama, falecida há três meses”, diz a chamada de capa. Para os defensores de Lula, Veja “ofende” a memória de Dona Marisa por meio de “jornalismo inconsequente e sensacionalista”.
“Lula jamais ‘chegou a apontar o dedo para a mulher’ em depoimento prestado ao juízo de Curitiba no último dia 10, como afirmou de forma leviana a publicação. Lula esclareceu o que está nos documentos que estão à disposição da Lava Jato: D. Marisa comprou uma cota da Bancoop em 2005 e fez a gestão do investimento ao longo do tempo, até decidir, em 2014, que não iria comprar o triplex”, diz trecho da nota.
Nas redes
A publicação da capa com Dona Maria, mãe de três filhos, no fim de semana em que se comemora o Dia das Mães deu um tempero extra à polêmica. O assunto provoca intenso debate nas redes sociais sobre a escolha da imagem a estampar a reportagem principal, considerada de mau gosto por parte significativa dos internautas, mesmo entre aqueles que criticam o ex-presidente. Comentários em matérias ou postagens diversas, memes, textos extensos e outros tipos de manifestação ganharam as redes de ontem para hoje (sábado, 13), e dão sinais de que se reproduzirão nos próximos dias.
“Achei a capa muito pesada, sim. Não precisa gostar do tal Lula ou achar que é inocente. Basta se colocar no lugar dos filhos que passarão o 1º dia das mães sem a mãe”, protestou uma leitora, no Facebook.
PublicidadeMas há também quem defenda a escolha da revista. “O primeiro a ofender a memória da D. Marisa foi o próprio Lula. A revista apenas está noticiando o que todo mundo viu e ouviu no depoimento dele ao juiz Sérgio Moro”, opinou uma internauta, também no Facebook.
Reincidência
Não é a primeira vez que Lula ou correligionários processam a revista por reportagens de capa por eles consideradas ofensivas ou caluniosas. Em uma delas, o PT perdeu ação por difamação aberta contra a semanal como reação a reportagens publicadas no período pré-eleitoral de 2014. A Justiça do Distrito Federal negou o pleito petista (indenização de R$ 80 mil e publicação de resposta na revista) e disse não ter visto no conteúdo dos textos “intenção leviana e pura de ofender”, mas sim o caráter informativo e de interesse público, observados os direitos constitucionais de liberdade de imprensa. O PT havia apontado três materiais jornalísticos na ação: as reportagens “A Fúria contra Marina” e “PT sob chantagem”, veiculadas em meados de setembro de 2014, e uma entrevista com o colunista de Veja Marco Antônio Villa veiculada na TV Veja em 5 de setembro.
Em outra ocasião, na capa de 4 de novembro de 2015, Lula é retratado com roupa de presidiário na reportagem intitulada “Os ‘chaves de cadeia’ que cercam Lula”. O ex-presidente petista processo a revista e, novamente, perdeu a causa na Justiça, que acolheu a argumentação de que a imagem resumia a manifestação do povo nas ruas. A defesa da revista alegou que o boneco “Pixuleco”, assíduo em manifestações anti-PT e inspirador da capa mencionada, configura fato jornalístico passível de abordagem crítica.Confira a íntegra da nota:
“Fruto de jornalismo inconsequente e sensacionalista, buscando ofuscar a inocência de Lula e os atos ilegais da Lava Jato, a revista Veja ofende a memória de D. Marisa Leticia, falecida em 3/2/2017, ao veicular sua fotografia na capa e produzir conteúdo mentiroso.
Lula jamais ‘chegou a apontar o dedo para a mulher’ em depoimento prestado ao juízo de Curitiba no último dia 10, como afirmou de forma leviana a publicação. Lula esclareceu o que está nos documentos que estão à disposição da Lava Jato: D. Marisa comprou uma cota da Bancoop em 2005 e fez a gestão do investimento ao longo do tempo, até decidir, em 2014, que não iria comprar o triplex. Em 2015 D. Marisa – na condição de titular da cota – promoveu uma ação contra a Bancoop e a OAS pedindo a devolução dos valores que ela havia investido entre 2005 e 2009. Lula sempre sublinhou a legalidade dos atos de D. Marisa em relação a essa cota, jamais tendo atribuído a ela qualquer responsabilidade pelas afirmações que constam na acusação do Ministério Público, que são manifestamente descabidas.
Veja será responsabilizada judicialmente, na forma do artigo 12, parágrafo único, do Código Civil, pelo intolerável atentado à memória de D. Marisa por meio de mentiras e distorções.
Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins”