Um dos mais conhecidos e respeitados profissionais de Relações Institucionais e Governamentais do país, Jack Corrêa foi procurar o deputado Marcelo Freitas, do PSL de Minas Gerais, que é o relator do projeto de desoneração da folha de pagamentos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
O conteúdo deste texto foi publicado antes no Congresso em Foco Insider, serviço exclusivo de informações sobre política e economia do Congresso em Foco. Para assinar, entre em contato com comercial@congressoemfoco.com.br.
Jack Corrêa representa o setor de produção cinematográfica brasileiro, um segmento que, como todos os demais da área cultural, sofreu muito na pandemia da covid-19. Durante um bom tempo, as pessoas não saíam de suas casas, não iam a espetáculos. Num momento ainda de transição para o mercado de streaming, com mais dúvidas que certezas quanto a essa transição, os filmes ainda dependem muito do desempenho nas salas de exibição. Jack Corrêa sondava a possibilidade de incluir o setor que representa entre os que hoje têm a desoneração da folha.
Leia também
O profissional não conhecia o deputado. De cara, quando ele entrou no gabinete, viu um escudo do Atlético Mineiro. Encontrou ali um fortíssimo ponto de conexão. Também mineiro, Jack Corrêa também é atleticano doente. Puxou pelo time o início da conversa, até chegar à cidade natal de Marcelo Freitas, Montes Claros. E discorrer sobre amigos e conhecidos comuns na cidade. Somente depois é que ele entrou na questão que o levava até ali.
Marcelo Freitas é relator do tema na CCJ. Ali, avalia aspectos constitucionais da proposta. Não seria ele que ampliaria o escopo da desoneração da folha. Mas Jack Corrêa acabou saindo dali com preciosas dicas sobre os passos que deveria percorrer para tornar viável a reivindicação do setor que representa.
Lobby stories
Publicidade
No início de um livro que acabou de lançar contando histórias da sua profissão – Lobby Stories –, Jack Corrêa resume em um tripé o que é fundamental para bem exercer o trabalho de profissional de Relações Institucionais e Governamentais, que passou a ser mais conhecido pela sigla RIG: “Conhecimento, Relacionamento e Discernimento”.
É preciso conhecer profundamente o setor que representa. Quais são as suas características, peculiaridades, vantagens e dificuldades. Qual a pauta que esse segmento tem com os poderes. E ter na ponta da língua os argumentos sobre por que suas reivindicações são justas.
É preciso fazer relacionamentos. Jack Corrêa conta que quando trabalhava para a Fiat Automóveis obtinha uma grande quantidade de convites para o Salão do Automóvel, que acontece todos os anos em São Paulo. Ele fretava um ônibus e levava para o salão seguranças e outros servidores do Palácio do Planalto, que passavam um dia percorrendo os estandes e conhecendo os carros novos. Saíam ao final do dia com uma sacola da montadora com boné, camiseta e outros brindes. Isso ajudava Jack Corrêa a ter bom trânsito no Planalto.
E é preciso discernimento. Uma conversa mal formulada, uma abordagem errada, arruína para sempre uma possibilidade de entendimento e que se chegue ao atendimento do pleito do setor para o qual o profissional trabalha.
Para Jack Corrêa, os novos tempos tornaram mais desafiadora a atividade de RIG. Os sucessivos escândalos desde o Mensalão e a Lava Jato fizeram com que tanto os governos como as empresas aprimorassem os seus cuidados de compliance. Atrair autoridades com presentes e viagens, coisa comum no passado, foi ficando algo cada vez mais proibitivo. É preciso mais saliva para alcançar os objetivos. “Essas pessoas que apareceram nesses escândalos, e mesmo agora na CPI da Covid, não são lobistas. São operadores de propina. É preciso entender que não é esse o trabalho de quem faz Relações Institucionais e Governamentais”, diz ele.
Por isso, Jack Corrêa tem trabalhado forte o lobby de si mesmo. Junto com a Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), ele tenta agora fazer com que avance o projeto que regulamenta a profissão, algo que se tenta em vão desde a década de 1980, quando o então senador Marco Maciel apresentou um projeto nesse sentido. Há, segundo ele, um projeto da ex-deputada Cristiane Brasil. Jack quer retomá-lo à pauta e vê-lo aprovado pelo menos no início do ano que vem. “Regras claras sobre a atuação serão ótimas para todos”, defende ele.
Deixe um comentário