Um dos principais aliados do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado a mais de 15 anos de prisão na Operação Lava Jato, o deputado Carlos Marun, representante do Mato Grosso do Sul pelo PMDB, finalmente tomou posse, nesta sexta-feira (15), como ministro-chefe da Secretaria de Governo, pasta responsável pela articulação política do Executivo com o Congresso. Membro da tropa de choque do presidente Michel Temer (PMDB) no Congresso, Marun substitui o deputado Tucano Antônio Imbassahy (BA) depois de uma falsa comunicação de posse, por parte do próprio Palácio do Planalto, e um adiamento provocado por motivos de saúde de Temer.
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Destacado para a missão de aprovar a reforma da Previdência, cuja votação está marcada para 19 de fevereiro, Marun assumiu com discurso sob encomenda para agradar Temer e colocar no foco a principal pretensão do governo, que não tem contido esforços em sinalizar ao mercado que tem condições de aprovar medidas de ajuste fiscal e demais matérias relativas à macroeconomia. “É necessário que haja mudanças, e um dos maiores desafios é a reforma da Previdência. Eu assumo esse desafio diante disso”, afirmou o novo ministro.
Em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco publicada em 3 de outubro, Marun reclamou do sai-não-sai do PSDB da base de apoio ao governo e disse que o partido não merece apoio do PMDB nas eleições do próximo ano. “Na outra denúncia, de 48 horas em 48 horas, o partido se reunia para ver se continuava no governo. Não quero esse tipo de parceiro. Vamos ser francos: dos 13 deputados do PSDB de São Paulo, 12 votaram a favor da denúncia. Será que o governador de São Paulo não podia ter pegado o telefone e ter garantido ao menos cinco votos entre esses deputados? Não posso acreditar que não tenha tido o dedo do governador Alckmin. Ou ele agiu contra nós ou cruzou os braços”, vociferou, referindo-se ao tucano Geraldo Alckmin e à primeira denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer, por corrupção passiva, barrada pela Câmara em 2 de agosto.
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Referindo-se ao estilo enérgico de Marun na defesa de seus correligionários, o presidente falou por menos de dez minutos e derramou elogios, como é praxe nessas ocasiões, no novo membro da cúpula palaciana e seu antecessor. “Acho que você tem muita energia para isso. Energia física, administrativa, intelectual”, declarou o presidente. “Finalmente, teremos um gigante aqui em favor da Presidência”, acrescentou, em alusão aos quase dois metros de altura do novo ministro.
No afago ao sucessor de Imbassahy, classificou-o como homem de grandes discursos – embora, na verdade, Marun tenha se destacado no Congresso pelos grandes confrontos verbais, alguns aos gritos e recheados de palavras chulas. Em uma delas, em 4 de outubro, protagonizou uma rodada de agressões por ocasião da votação, no plenário da Câmara, de um fundo eleitoral bilionário naquele dia enviado à sanção de Temer.
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“Não preciso dizer que é um grande tribuno, um orador valoroso”, discursou o presidente, ressaltando a importância do deputado nas discussões polêmicas na Câmara, como a PEC do Teto de Gastos e a reforma trabalhista. Na menção à reforma da Previdência, Temer fez afago até na imprensa brasileira – desde que assumiu temporariamente, em 12 de maio de 2016, em meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, a imprensa internacional tem adotado tom ainda mais crítico ao presidente.
“A imprensa apoia fortemente a renovação previdenciária em nosso país”, declarou o presidente, que, recuperando-se de uma cirurgia na uretra, também fez questão de agradecer pelo trabalho da “figura preciosa” de Imbasshy, e fez muitos elogios ao deputado tucano.
Antes de Marun, Imbasshy discursou. Sem menções ao fato de que vinha sendo boicotado na articulação política pelo chamado centrão, agremiação de bancadas que reúne mais de 200 deputados, o tucano se preocupou em deixar uma porta aberta no Palácio do Planalto – ele que pertence ao grupo que defende a aliança com o governo e o PMDB de Temer, tendência tucana que tem entre os próceres o senador Aécio Neves (PSDB-MG), ex-presidente nacional do partido, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, que recentemente se lançou à disputa pelo comando da legenda com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), da turma que deseja o desembarque da gestão peemedebista. Ambos desistiram da eleição em favor de Alckmin.
Com referências ao sincretismo religioso baiano, Antônio Imbassahy fez menção à gestão de “reconstrução nacional” que atribuiu a Temer, agradeceu pela oportunidade de chefiar a articulação “modesta contribuição nesse processo desafiador de reconstrução”.
A posse de Marun foi prestigiada por figuras como os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do Meio Ambiente, Sarney Filho; o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB); e o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (RJ).
Aliado fiel
Presidente da comissão que preparou para plenário o texto da reforma da Previdência, Marun não se importa em ser chamado de líder da tropa de choque do presidente Michel Temer. Gaúcho que se formou em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas fez a carreira política no Mato Grosso do Sul, onde também se formou em Direito, fez-se notar no Congresso Nacional inicialmente pelo porte físico – 1,89 de altura e 130 kg. Em discussões mais acaloradas em plenário ou nas salas de comissões temáticas, costuma impor a força corporal e, não raro, consegue afastar adversários políticos por meio dela.
Projetou-se nos primeiros anos desta legislatura (2015-2019) como fiel escudeiro do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Enquanto a maioria dos seguidores do outrora mais poderoso homem da República mudou de lado e o abandonou, permaneceu ao lado de Cunha até o último instante. Foi de Marun um dos dez votos contrários à cassação do parlamentar fluminense. Depois que o colega de partido foi preso, foi visitá-lo na cadeia em dezembro de 2016, com diárias e passagens aéreas pagas com verba pública – depois devolvida, garante o parlamentar. Sua influência no grupo de Cunha, que se tornou notória com a deflagração do processo de impeachment de Dilma Rousseff, aumentou ainda mais após a chegada de Temer ao comando do Executivo.
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A última missão de Marun no Congresso antes de ser nomeado ministro foi a relatoria da CPI da JBS, que chegou a pedir indiciamento, que poderia resultar em prisão, do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot por “subversão à ordem política” – mas Marun recuou e, após acordo com a oposição no colegiado, apenas recomendou a investigação de Janot. Como lembrou o colunista da Folha de S. Paulo Bernardo Mello Franco, o deputado “propõe que Janot seja enquadrado na Lei de Segurança Nacional, que era usada para perseguir adversários da ditadura militar”.
Na papel de oposição ao governo Temer, o ex-líder do PMDB no Senado Renan Calheiros (AL) tem dito, em discursos inflamados no plenário, que Cunha continua dando as cartas no governo Temer e “governa da cadeia”. Segundo Renan, que compõe o grupo de denunciados no “quadrilhão do PMDB” do Senado – e, como Temer e Cunha, é investigado na Lava Jato –, com a nomeação de Marun Cunha finalmente conseguiu emplacar um ministro para despachar ao lado de Temer. Além de Marun e Padilha, o outro peemedebista na trinca de ministros palacianos é Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), também suspeito de envolvimento no petrolão.
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