No vídeo abaixo, petista e tucano travam uma disputa ideológica sobre a postura do Brasil em âmbito internacional, mas o tema da Operação Lava Jato logo surgiu. À medida que a discussão esquentava, Tasso deixou a diplomacia de lado e acusou o colega de receber dinheiro da Petrobras. Embora não esteja entre os primeiros denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF), Lindbergh é um dos investigados do núcleo político que, segundo a Polícia Federal, atuava no esquema de fraude em contratos com a Petrobras. Lindbergh reagiu com indignação.
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Veja no vídeo (a discussão ganha força a partir dos 12 minutos e 30 segundos):
Tudo começou justamente com o ligeiro equívoco de Tasso Jereissati a respeito da fala de Chico Buarque, conhecido pela identificação com o governo do PT e, de maneira geral, com a chamada ideologia de esquerda. “Chico Buarque disse que a presidente Dilma fala grosso com os Estados Unidos e fala fino com a Bolívia, alguma coisa desse tipo. Essas bravatas criaram um clima que a gente…”, discursava o tucano, imediatamente interrompido pelo petista.
“Não! O que ele [Chico] disse é que vocês falavam grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos. Essa foi a afirmação do Chico Buarque”, rebateu Lindbergh.“Não, foi não. Foi literalmente…”, tentou continuar Tasso, novamente interrompido.
Publicidade“Foi! Foi literalmente que os tucanos falam grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos”, insistiu Lindbergh, com razão em relação ao teor da fala do artista. “É que a política externa de vocês era dependente dos Estados Unidos, esse é o ponto.”
A partir daí a animosidade se instalou na CRE. Depois de alguma discussão com outros participantes da audiência, Tasso e Lindbergh voltaram a se estranhar quando o petista atentou para a “defesa impressionante” que o tucano estaria a fazer dos Estados Unidos, como parceiro estratégico do Brasil. Tasso, que já havia criticado a postura “estudantil anti-imperialista” personificada em Lindbergh, começou a alterar o tom da argumentação. Por outro lado, o petista também demonstrava irritação em suas intervenções.
“Eu não sou a pessoa mais indicada para pedir um pouco de calma a todos. Porque, muitas vezes, eu baguncei reuniões presididas por vossa excelência na CAE [Comissão de Assuntos Econômicos]. Vamos esperar, vossa excelência terá a palavra em seguida”, interveio o presidente do colegiado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), dirigindo-se a Lindbergh e deixando escapar risos nervosos, na tentativa de apaziguar os ânimos.
Cara-pintada
Tasso voltou à carga. “Eu vou pedir para ele [Lindbergh] que se exalte, não tenha calma. Se exalte, por favor, com raiva dos Estados Unidos. Esse seu discurso de estudante, eu me lembro, era uma beleza, cara-pintada, contra os americanos…”, reagiu o senador, em menção à época em que Lindbergh era líder estudantil no Rio de Janeiro e foi um dos protagonistas do movimento que levou, em 1992, ao impeachment do agora colega de Senado Fernando Collor (PTB-AL).
“O que eu ouvi, até agora, do senhor, são bobagens”, arrematou o tucano, dando início ao bate-boca e à campainha da comissão, acionada em vão por Aloysio Nunes.
Sob o olhar constrangido do ministro Mauro Vieira, uma troca de acusações foi iniciada na CRE. Tasso começou a dizer que Lindbergh frequentemente demonstra “irritação” em discussões na Casa. “Aliás, exaltação que a gente tem visto com frequência no Plenário do Senado. [Tem visto] vossa excelência se irritar, gritar, fazer discursos completamente fora do tom. Vossa excelência está sendo processado porque está recebendo dinheiro de Petrobras”, acusou o parlamentar cearense.
“Vossa excelência está baixando o nível! Eu vou mostrar que não tenho nada a ver com isso, senador Tasso! Vossa excelência está baixando o nível!”, treplicou Lindbergh. “Eu, não! A Polícia Federal”, insistiu Tasso. “Vossa excelência perdeu o senso! Tem que, primeiro, saber o seguinte: eu não sou sequer denunciado, eu só tenho um inquérito. Vossa excelência tem que respeitar! Eu não sou condenado, nem vou ser! Não vai dar em nada porque não há nada errado! Vossa excelência vai ver. E vai pedir desculpas”, vociferou o petista.
Acusação
A acusação sobre Lindbergh foi ensejada no depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que diz ter sido procurador pelo petista para ajudá-lo a levantar recursos para sua campanha eleitoral de 2010, quando se elegeu para o Senado. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustenta que o ex-líder cara-pintada recebeu R$ 2 milhões para sua campanha graças à intervenção de Paulo Roberto. Segundo Janot, o delator afirmou que Lindbergh “tinha conhecimento do caráter ilícito dos valores recebidos”. Declaração que o petista nega.
De acordo com os investigadores, o senador voltou a se aproximar de Paulo Roberto em 2014, meses antes de sua prisão, para pedir auxílio na arrecadação de sua campanha ao governo do Rio, eleição em que ficou na quarta colocação. Lindbergh nega com veemência qualquer envolvimento com o esquema. Em nota divulgada por sua assessoria em outubro do ano passado, quando surgiram informações sobre o depoimento do ex-diretor da Petrobras, o senador contestou a versão do delator.
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