Atribui-se a John Lennon a frase “pense global, aja local”. Seguindo essa linha, este artigo não discute exatamente a famosa operação da Polícia Federal – a Lava Jato. Tampouco trata do escândalo do bicheiro Carlos Cachoeira, que gerou prisões, CPIs, cassação de senador, mas agora parece dormente na consciência coletiva.
Precisamos conversar sobre nossas crises distritais. Falar sobre o que não se fala. A população do Distrito Federal, e das demais unidades federativas, deve se apropriar dos seus traumas locais. Sentir as próprias feridas para poder superá-las.
Poucos brasilienses debatem, por exemplo, o fato de o julgamento da deputada distrital Liliane Roriz, por compra de votos e falsidade ideológica, ter sido adiado pela terceira vez pelo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Ainda menos brasilienses discutem o fato de que cada deputado distrital “possui” R$ 18,6 milhões em emendas ao orçamento anual para direcionar livremente. Esse valor, inclusive, é maior do que o disponível aos deputados federais – R$ 15,3 milhões anuais (por quê?).
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Quanto à crise hídrica pela qual passa o DF, é preciso discutir se a fiscalização permanente poderia ter evitado esse cenário de escassez crítica. É possível perguntar, por exemplo: onde estavam as agências de fiscalização da água, a Comissão de Meio Ambiente da CLDF (que atende pela sigla CDESCTMAT) e os relatórios diários da Caesb há, pelo menos, um ano?
De forma semelhante, a outra crise do DF, a financeira, também não surgiu em um réveillon. Foi consequência de anos de má gestão fiscal e financeira dos recursos públicos. Todos vimos a construção mirabolante de um novo estádio num DF com déficit de 5,7 mil professores, de mais de 6 mil médicos e de clubes de futebol na série A (problema menos grave, é verdade). Agora vemos, calmamente, a instalação de uma TV Legislativa que prevê para este ano custo de R$ 2,3 milhões.
PublicidadeEm todos esses casos, o olhar atento e crítico do cidadão poderia ter feito a diferença. A fiscalização popular deve ser atual e concomitante. O que vem depois do gasto é choro e ranger de dentes.
É por isso que o Observatório Social de Brasília se compromete a ser um fiscal permanente da gestão pública e permeável à participação popular. Pensando global e agindo local para evitar futuras crises hídricas, fiscais e também morais. Deixar de acompanhar a política nacional, jamais. Mas ficar atento, na mesma proporção e com semelhante entusiasmo, aos problemas aqui do nosso quadradinho.
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