Em discurso na tribuna do Senado, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) negou, nesta quarta-feira (19), ter recebido dinheiro da Odebrecht, conforme delataram quatro executivos da empreiteira. Alvo de inquérito da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), a ex-ministra da Agricultura disse não entender por que ela e o marido, Moisés Gomes, foram envolvidos em “tamanha atrocidade” pelos delatores.
“A vontade desinteressada de apedrejar, diminuir e destruir pessoas? Simplesmente acusar de forma leviana e inconsequente? De ser beneficiado com a liberdade e a impunidade às custas da honra de terceiros? Para livrar a sua pele às custas de pessoas sérias e idôneas que trabalham pelo Brasil? Ou querem apenas aumentar as estatísticas e colocar todo mundo no mesmo fubá, no mesmo angu, na mesma panela?”, questionou a senadora. “Eles só sabem denunciar. Quero saber a boca na botija, o horário. A que horas foi? Como foi? Mas isso não dizem em nenhum momento”, reclamou.
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Segundo Kátia, não há crime em pedir doação a empresas. “Quem pede doação de campanha, na campanha eleitoral, é porque não roubou durante o mandato; é porque não extorquiu durante o mandato; é porque não vendeu ações, não vendeu emendas, não vendeu trabalho aqui dentro”, afirmou.
Kátia contou que vai pedir ao ministro Edson Fachin, que relata os processos da Lava Jato, que dê celeridade ao seu inquérito e que marque com “a maior brevidade possível” o depoimento dela e do marido.
“A minha honra e do meu esposo, que é um homem honesto, honrado e trabalhador, de meus eleitores e admiradores e de minha família tem pressa e não pode esperar a vontade o tempo do meu acusador”, discursou.
Relatos divergentes
Os ex-executivos da Odebrecht Cláudio Melo Filho, José de Carvalho Filho, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis e Mário Amaro da Silveira disseram, em depoimento ao Ministério Público, que a senadora recebeu da empreiteira R$ 500 mil, divididos em duas parcelas de R$ 250 mil, em sua campanha eleitoral de 2014 ao Senado, por intermédio de Moisés. O repasse, segundo eles, não foi contabilizado oficialmente.
De acordo com o inquérito, a senadora era identificada nas planilhas da empreiteira pelo codinome “Machado”. Os delatores afirmam que os encontros com Moisés ocorreram no Hotel Meliá Jardim Europa, em São Paulo. Em seu depoimento, Amaro reclamou de Kátia: “A senadora foi eleita, mas nunca fez nada por nós no Tocantins”.
Em seu discurso, Kátia Abreu disse que, em períodos eleitorais, sempre apresentava às possíveis empresas doadoras de sua campanha, especialmente as do agronegócio, projetos que pretendia defender no Congresso Nacional.
“Não foi diferente com a Odebrecht: ligamos, conversamos, apresentamos projetos e objetivos públicos da campanha e do mandato, como disseram os delatores, a troco de absolutamente nada”, relatou. Segundo a senadora, a empreiteira não fez qualquer doação para sua candidatura em 2014.
“Depois de algumas tratativas e encontros, os representantes da Odebrecht, não doaram absolutamente nada à senadora Kátia Abreu; apresentaram uma lista de possíveis doadores, também de construtoras, que eu deveria procurar para pedir ajuda a essas empresas. E, com essa lista desses possíveis doadores, fiz também o meu trabalho com o meu esposo, que é o meu esposo, é o meu companheiro, é solidário nas horas em que preciso, assim como sou solidária com ele. Queriam que eu pedisse a quem para me ajudar? A um estranho, um vizinho, algum inimigo?”
A senadora fez um apelo aos seus eleitores e aos colegas de Senado: “Vocês preferem acreditar numa máfia – em capo, pai e filho – e a sua corja a acreditar com quem vocês convivem todos os dias? Será possível que não há a mínima sensibilidade para entender isso?”.
Mais uma que, como todos os outros, grita: “não fiz nada!”, “sou inocente!”, “estão me acusando sem provas!”
Se formos acreditar em todos eles, pode arquivar a Lava Jato.