O GLOBO
Jornada Mundial da Juventude – só o papa salva
Uso de discursos populares, proximidade com fiéis e simpatia do Pontífice argentino conquistam brasileiros. Numa Jornada com problemas, à qual o próprio prefeito Eduardo Paes deu nota zero, Francisco é a grande estrela
A escolha de Jorge Mario Bergoglio para Papa da Igreja Católica deixou muito brasileiro ressabiado. Quatro meses depois, em visita ao Rio para a Jornada Mundial da Juventude, evento que sofre com desorganização gigante — caos no transporte público e mudanças de locais de cerimônias em cima da hora, fatos que fizeram o prefeito Eduardo Paes dar nota zero à organização da festa —, o Papa Francisco virou uma unanimidade por sua empatia e comunicação com o público, algo que não se via desde João Paulo II. Circulou pela cidade num carro popular de vidros abertos em dia de mau tempo, sorrindo e beijando criancinhas. Quebrou protocolos e disse que gostaria de entrar em casas de Varginha para tomar cafezinho, mas não cachaça. E lembrou do hábito dos brasileiros de colocar mais água no feijão para partilhar comida, deixando fiéis histéricos. Após a Via Sacra, ontem, trezentos manifestantes protestaram na Avenida Atlântica, assustando peregrinos, mas foram isolados pela Força Nacional.
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Num encontro com oito jovens detentos no Palácio episcopal São Joaquim, na Glória, o Papa Francisco reagiu à violência policial contra meninos de rua no Rio, ao repetir várias vezes: “Violência, não! Só amor! Candelária, nunca mais!”, referindo-se à chacina de 1993.
Protesto na Avenida Paulista contra Cabral acaba em depredação RIO.
Além da encenação da Via Sacra, Copacabana recebeu ontem mais uma manifestação contra o governador Sérgio Cabral, que chegou a interromper o show posterior à Via Sacra, na Avenida Atlântica. Frisando não serem contrários à Igreja e sim à corrupção, os manifestantes se reuniram por volta das 17h em frente à estação do metrô Cardeal Arcoverde, com cartazes e faixas. Já de noite, quando havia cerca de 300 pessoas, o grupo seguiu em direção à orla, palco da Jornada Mundial da Juventude. Lá, 70 homens da Força Nacional formaram um cordão de isolamento para impedir a passagem dos manifestantes.
Organizados pelo Facebook, manifestantes protestaram ontem em São Paulo contra os excessos cometidos pela Polícia Militar do Rio e pediram a saída do governador Sérgio Cabral do Palácio Guanabara. Algumas faixas também traziam palavras de ordem contra o governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin. No ato divulgado em redes sociais como “em solidariedade aos irmãos cariocas”, cerca de 300 pessoas ocuparam a Avenida Paulista aos gritos de “Fora Cabral”, enquanto quebravam agências bancárias e tacavam fogo em sacos de lixo. O grupo ainda derrubou uma das bases da PM na região, lançada para o meio da avenida, e tentou tombar e atear fogo no carro de uma emissora de TV. Como não conseguiram, depredaram o veículo, que teve os vidros quebrados.
Durante a manifestação, chamada de “Vaza, Cabral”, jovens, usando lenços para esconder o rosto, chegaram a tirar grades da Paulista para quebrar vidros de bancos. Alguns manifestantes invadiram as agências e oito delas foram depredadas.
Ao longo do trajeto entre o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Praça Oswaldo Cruz, o grupo também gritava “Polícia fascista”. Uma grande faixa lembrava o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, desaparecido desde 14 deste mês, depois de ter sido levado para a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Entre os organizadores do protesto em São Paulo estão os grupos Anonymous e o Black Bloc, suspeitos de envolvimento nos últimos protestos do Rio. Sem dar números, a polícia informou ter detido alguns jovens ligados aos dois grupos que participavam de depredações.
Protesto contra Cabral cruza o caminho da Jornada da Juventude
O grupo, porém, conseguiu chegar à areia e ficou perto do palco. O policiamento foi reforçado, e a PM usou a tática de abordar os manifestantes de forma mais conciliadora, como fizera na quinta-feira durante o protesto no Leblon. Para o tenente-coronel Mauro Andrade, que estava à frente dos policiais, isso diminui o risco de violência:
– Acho que ontem (anteontem) conseguimos fazer uma manifestação com grande volume ser pacífica. A expectativa de hoje (ontem) é repetir essa parceria entre a polícia e os manifestantes.
Após o término da encenação da Via Sacra, porém, ocorreu um princípio de confusão na Avenida Atlântica, quando um rapaz teve sua Bandeira do Brasil rasgada e discutiu com um policial. O problema começou no momento em que manifestantes chutavam a grade de proteção do palco. O show chegou a ser interrompido. Temendo invasões e quebra-quebra, alguns comerciantes da região fecharam as portas. Fiéis que assistiram ao ato religioso tentaram se desviar do protesto na hora de deixar Copacabana.
PT interrompe comemorações pelos dez anos no governo
A onda de protestos pelo país e a queda de popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff, apontada pela última pesquisa CNI/Ibope, cancelaram eventos do PT. Dos dez encontros programados, com a presença de Dilma e do ex-presidente Lula, para comemorar dez anos do partido na Presidência, apenas seis foram realizados e não há mais nenhum previsto. Além disso, as caravanas do senador Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo do Rio em 2014, sofreram um recuo estratégico e só deverão voltar ao ritmo normal em outubro, após análise dos efeitos causados pelas manifestações.
Principal entusiasta de um terceiro mandato do ex-presidente Lula, cuja proposta chegou a defender publicamente, o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP) criticou a postura do partido.
– Nossa origem é a base, e nós nos distanciamos da base. O PT não deve apenas se preocupar com a conjuntura internacional, com o PIB (Produto Interno Bruto). Tem que se preocupar com a base eleitoral – afirmou o parlamentar, amigo do ex-presidente há pelo menos 40 anos.
Segundo Ribeiro, as manifestações pegaram de surpresa o PT e também os outros partidos:
– Estamos todos perplexos. É o momento de refletir e analisar os prejuízos. Mas isso não é apenas com o PT. É também com o PMDB do Rio, o PSDB de São Paulo e até com o PSB de Pernambuco, do governador Eduardo Campos.
O sexto e último evento comemorativo dos dez anos do PT no governo ocorreu na última quinta-feira, num hotel em Salvador. A previsão da legenda era que fossem realizados mais quatro encontros este ano. Nos discursos, Dilma e Lula insistiram na necessidade de promover mudanças o mais rápido possível. Eles destacaram a implantação do financiamento público de campanhas como forma de atender à voz das ruas e combater a corrupção.
Após 6 meses, famílias de Santa Maria esperam ajuda
Seis meses após o incêndio na boate Kiss, que matou 242 pessoas em Santa Maria (RS), parentes de vítimas ainda esperam pelo pagamento de indenizações prometidas por prefeitura, governo do estado e União para cobrir despesas de funeral e com médicos. O prefeito Cezar Schirmer (PMDB) disse que não vai “pagar enterro para rico”.
Mais Médicos: metade dos inscritos usou dados falsos
Dos 16.530 médicos formados no Brasil que se inscreveram no programa Mais Médicos, do governo federal, 8.307 deram números inválidos de registro nos Conselhos Regionais. Mas o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, evitou falar em sabotagem. Outros 1.920 inscritos se formaram no exterior, em 61 países diferentes. (Págs. 1 e 5)
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FOLHA DE S.PAULO
SP tem noite de caos com trânsito recorde e protesto violento
Cidade registra 300 km de congestionamento às 19h30. A cidade de São Paulo bateu ontem seu recorde histórico de congestionamento — com 300 km de filas registrados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). O índice superou, às 19h30, a marca de 295 km de 1º de junho do ano passado, até então a maior desde que a medição passou a ser feita pelo órgão, na década de 1980.
Na prática, quase 35% de todas as vias monitoradas pela companhia ficaram travadas –bem acima da média de 23% para esse horário. O engarrafamento recorde ocorreu apesar do mês de férias escolares, quando a lentidão costuma ser menor.
Ele foi resultado de uma combinação de fatores –incluindo acidentes, chuva e um protesto que fechou a av. Paulista e acabou em vandalismo no começo da noite. Os 300 km de filas ocorrem num momento em que a gestão Fernando Haddad (PT) estuda a ampliação do rodízio de veículos em 240 km de vias de fora do centro expandido.
Segundo a CET, um dos principais motivos do recorde ontem foi um acidente no viaduto Engenheiro Alberto Badra (zona leste), no acesso da avenida Aricanduva, que envolveu três carros e deixou um morto e dois feridos. O acidente às 14h30 fechou a pista no sentido Itaquera até as 19h20. Teve impacto direto na marginal Tietê, que ficou travada em 21,2 km dos 23,5 km de sua extensão.
Os congestionamentos também foram agravados pela chuva e pelo protesto que fechou a av. Paulista no fim da tarde por uma hora, com cerca de 300 pessoas contra a repressão policial no Rio. A manifestação, no entanto, teve seu pico só à noite e não era suficiente para explicar a lentidão recorde. Neste ano, a CET já tinha registrado a terceira maior marca histórica em 12 de junho, com 282 km de filas.
Manifestantes tentam invadir palco de evento aberto pelo papa
Logo após o encerramento do evento da Jornada Mundial da Juventude, ontem em Copacabana (zona sul do Rio), um grupo de manifestantes tentou invadir a área que dá acesso ao palco onde esteve o papa Francisco.
No momento em que isso ocorreu, o pontífice e a sua comitiva já tinham deixado o local, mas permaneciam outros religiosos e jornalistas.
Cerca de 50 agentes da Força Nacional fizeram um bloqueio na altura da avenida Princesa Isabel para conter 500 manifestantes, segundo a PM. Enquanto isso, policiais militares e a equipe de segurança do evento levavam mais grades de metal para isolar a área e impedir a invasão.
Cercados, os manifestantes atravessaram a pista e conseguiram chegar na areia, diante do palco. Peregrinos que assistiam ao show de encerramento da noite se assustaram e saíram às pressas. Na confusão, algumas pessoas tiveram pertences furtados.
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O ESTADO DE S. PAULO
Papa fala em incoerências na Igreja e articula reforma
O papa reconheceu pela primeira vez em público “incoerências” na Igreja e, durante a Jornada Mundial da Juventude, articula uma reforma da Cúria a ser iniciada assim que retomar a Roma. Em pronunciamento durante a via-crúcis, ontem, na Praia de Copacabana, Francisco fez um mea-culpa, diante da Igreja que ele assumiu. Fontes do Vaticano admitiram que o pontífice tem dedicado boa parte de seu tempo ao estudo de mudanças. No Rio, o papa aproveitou folga na agenda, durante a terça-feira, quando estava oficialmente de “descanso”, para discutir projetos com grupos religiosos e cardeais latino-americanos. A meta é criar estrutura que permita esvaziar brigas pelo poder e implementar uma gestão moderna.
Papa Francisco: “Jesus se une a tantos jovens que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho”
‘Candelária ’ nunca mais’
Na presença de oito jovens internados em instituições do Rio, o papa Francisco fez um alerta contra a violência policial no Brasil. “Candelária, nunca mais”, disse. Os garotos deram ao papa um rosário gigante, com os nomes dos oito jovens e crianças mortos há 20 anos.
Paes admite falhas na organização
Irritado, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), assumiu “todas as responsabilidades” pelas falhas de organização da Jornada. Ele admitiu que a organização “não está bem”. Somente na dragagem de rio em Guaratiba, local descartado por causa das chuvas, a Prefeitura gastou R$ 6 milhões.
Paulista tem quebra-quebra
Passeata pacífica de cerca de 300 pessoas na Avenida Paulista, em apoio aos protestos quebra-quebra cariocas, terminou em depredação quando se juntaram anarquistas mascarados.
Banco público supera privado em concessão de crédito
Impulsionados pelo segmento imobiliário e pelos investimentos, os bancos públicos responderam, em junho, por 50,3% do crédito do País. É a primeira vez que ás instituições estatais dominam o mercado desde 1999. Em junho, os créditos providos pelos bancos públicos alcançou R$ 1,3 bilhão. Ao mesmo tempo, houve um encolhimento da participação dos bancos nacionais e estrangeiros nesse mercado. A fatia das instituições privadas domésticas recuou de 34,9% para 34,2%, e a dos bancos estrangeiros passou de 15,7% para 15,5%.
Contas do governo
O governo central registrou superávit primário de R$ 34,4 bilhões – o pior 1º semestre da meta fiscal desde 2010. Resultado é também 28,3% menor do que 0 obtido em 2012.
Inscrições no Mais Médicos têm 45% de CRMs errados
O primeiro período de inscrições do programa Mais Médicos terminou ontem com 18.450 profissionais inscritos. Mas 45% das inscrições trazem números errados de registro nos Conselhos Regionais de Medicina, reforçando a suspeita de que pode ter havido boicote ao programa. A inconsistência apareceu após o Ministério da Saúde cruzar informações para checar o risco de boicote.
Movimento tenta se afastar de Dilma
Na corrida para coletar 1,5 milhão de assinaturas e tornar viável uma reforma política já para as eleições de 2014, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral teme que o respaldo do Palácio do Planalto carimbe a proposta como “chapa branca”.
Estagiário perde batalha contra ministro
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu o arquivamento da ação movida pelo ex-estagiário do Superior Tribunal de Justiça Marco Paulo dos Santos contra o ministro da Corte Ari Pargendier. A decisão foi tomada na quinta-feira após o processo ficar parado nas mãos de Gurgel por quase três anos.
O episódio envolvendo o agora ex-estagiário e o ainda ministro do STJ ocorreu no dia 19 de outubro de 2010, época em que o magistrado presidia a Corte.
Segundo relato do rapaz à Polícia Civil do Distrito Federal, ele aguardava sua vez de utilizar um caixa eletrônico no prédio do tribunal quando foi advertido pelo ministro do STJ, que estava usando o caixa naquela hora.
“Quer sair daqui que eu estou fazendo uma transação pessoal?”, disse o magistrado, segundo contou o rapaz à polícia. Na seqüência, o estagiário afirmou ter respondido: “Senhor, estou atrás da faixa de espera”.
Ainda de acordo com a denúncia do ex-estagiário, o ministro retrucou exigindo que ele utilizasse outro caixa. O rapaz, então com 24 anos, respondeu dizendo que somente naquele caixa poderia fazer a operação desejada.
Ainda segundo Santos, o ministro, então, afirmou: “Sou Ari Par-gendler, presidente do STJ, e você está demitido”. Em seguida, perguntou o nome do rapaz e arrancou o crachá de seu pescoço.
Na opinião do procurador-geral da República, o ministro do STJ puxou o crachá de Santos só para ver o nome do estagiário.
“Pelo que se extraí das declarações do noticiante (o ex-estagiário), a conduta do magistrado de puxar o crachá em seu pescoço não teve por objetivo feri-lo ou humilhá-lo, mas apenas o de conhecer a sua identificação”, afirmou Gurgel em seu parecer encaminhado na quinta-feira ao Supremo Tribunal Federal, responsável pelo caso.
Para Gurgel, não houve ofensa. “Do próprio relato feito pelo noticiante não se extrai da conduta do magistrado a intenção de ofendê-lo de qualquer modo, tendo agido movido pelo sentimento de que o noticiante encontrava-se excessivamente próximo, não mantendo a distância necessária à preservação do sigilo da operação bancária que realizava”, escreveu o procurador.
Ainda segundo Gurgel, o fato de Pargendler ter demitido o estagiário em razão do episódio “não alcança relevância penal”. Apesar de haver câmeras de segurança próximas ao caixa, que poderiam ter gravado o incidente, fontes do STJ e o ofício de Gurgel indicam que as imagens não foram requisitadas,
O pedido de arquivamento feito por Gurgel ainda será analisado pelo relator do processo no Supremo, ministro Celso de Mello. Mas, como cabe ao Ministério Público promover a investigação, o arquivamento do caso é dado como certo.
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No quarto dia da visita ao Brasil, o papa Francisco classificou de inesquecível a celebração em Copacabana e disse que, se tantos jovens se desiludem com a política por causa da corrupção, também perdem a fé na Igreja, e até em Deus, devido à “incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho”. Irritado, prefeito admitiu sucessão de falhas na organização da Jornada Mundial da Juventude e pediu desculpas.
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