FOLHA DE S.PAULO
Governo mexe em regras e diminui ganho da poupança
O governo Dilma Rousseff anunciou ontem a redução da remuneração da caderneta de poupança com o objetivo de abrir espaço para quedas adicionais na taxa básica de juros. As novas regras de remuneração da mais tradicional e popular aplicação financeira do país mudam a partir de hoje. A Folha havia adiantado a que Dilma tomara a decisão anteontem. O novo modelo vale apenas para novos depósitos e novas contas – as que já existem seguem com o cálculo de seus rendimentos sem modificações.
Foi criado um “gatilho”. A poupança só passa a render menos quando quando a taxa básica do Banco Central, a Selic, for igual ou inferior a 8,5 % ao ano. Hoje ela está em 9%. Sempre que isso ocorrer, as novas cadernetas de poupança e novos depósitos terão seus rendimentos calculados com base em 70% da Selic, acrescidos da TR (Taxa Referencial, que não muda). Enquanto a taxa do BC estiver acima desse patamar nada muda, inclusive para as novas poupanças – que continuam a ter uma correção de 6,17% ao ano mais TR, como prevê o modelo atual.
O BC já indicou que deve promover novo corte dos juros na reunião dos dias 29 e 30 – o Planalto espera chegar ao “gatilho” de 8,5% nela. “A mudança é mínima, e não afeta os interesses e benefícios dos correntistas da caderneta de poupança”, afirmou o ministro Guido Mantega (Fazenda). A alteração preserva os atuais poupadores, mas afetará os novos depósitos em relação à realidade atual da poupança.
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Dilma diz a aliados que país precisava ‘medida ousada’ para voltar a crescer
A presidente Dilma Rousseff disse a sindicalistas, empresários e líderes aliados, em três reuniões distintas no Palácio do Planalto, que a mudança no rendimento da poupança é uma “medida ousada”, mas que tinha de ser “enfrentada” para permitir a queda dos juros no país. Segundo os participantes, Dilma disse não temer perder popularidade e foi elogiada pelos empresários por adotar uma medida polêmica. “São coisas que precisam ser feitas e serão feitas, fomos eleitos para isso”, afirmou no encontro com os empresários, o último dos três que teve para pedir apoio à medida.
A primeira reunião foi com o Conselho Político, que reúne líderes dos partidos aliados. Nela, parlamentares lembraram a tentativa frustrada do ex-presidente Lula de mudar a poupança. Bem-humorada, a presidente aproveitou para brincar com o ministro Guido Mantega (Fazenda), que comandava a pasta na época: “É que o Mantega evoluiu muito de lá para cá”.
Nas reuniões, Dilma reforçou que o país precisa vencer três entraves para continuar se desenvolvendo: a redução dos juros, a valorização cambial e a carga tributária do país: “Não estou aqui para vender facilidades. Esse é um passo que tem que ser dado”.
BB prepara redução nas taxas de fundos e juros mais baixos
O Banco do Brasil anuncia hoje medidas para atrair clientes endividados de outros bancos e captar investidores de menor renda, além de novo corte nos juros. A maior aposta é uma linha específica de crédito que, na prática, permite ao cliente que fez um empréstimo em outro banco pagar a dívida antiga e se refinanciar em melhores condições.
As facilidades para atrair endividados de outros bancos – chamada portabilidade de crédito – já foram adotadas pela Caixa. Tanto o Banco do Brasil como a Caixa são vistos pelo governo como fundamentais para aumentar a competição no setor bancário e forçar o setor privado a baixar as suas taxas.
Na próxima semana, o BB anuncia redução nas taxas de administração e nos valores mínimos para o investidor fazer a primeira aplicação em fundos de investimento voltados a cliente de alta renda. A expectativa é que a adesão a esses fundos, que têm taxas de administração de 1%, comece a partir de R$ 50.
Senador pede processo contra Demóstenes
Ao pedir ao Conselho de Ética do Senado a abertura de processo disciplinar contra Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o relator do caso, Humberto Costa (PT-PE), disse que o colega “faltou com a verdade” quando negou conhecer as atividades ilícitas de Carlinhos Cachoeira. Segundo Costa, o senador usou o mandato para atuar em favor dos interesses de Cachoeira e mantinha mais que “relações sociais” com o empresário, de quem é amigo.
Leia mais aqui no Congresso em Foco: Humberto Costa pedirá cassação de Demóstenes Torres
Demóstenes é investigado pelo Conselho de Ética por sua ligação com o empresário do ramo de jogos de azar. Em seu relatório, Costa o acusou de obter “vantagem indevida” por ter recebido presentes de casamento e um rádio Nextel de Cachoeira – mais um indício da quebra de decoro que, segundo o senador, justifica a abertura de processo no conselho.
Ele elaborou seu parecer sem mencionar as escutas telefônicas da Polícia Federal que flagraram conversas de Demóstenes com Cachoeira. Como o STF (Supremo Tribunal Federal) ainda vai julgar a possível nulidade das escutas, Costa teme que a defesa do senador questione o parecer se houver menção a elas.
Base aliada quer convocar Gurgel, que busca PSDB
Com apoio do Planalto, congressistas governistas da CPI do Cachoeira farão nova ofensiva para convocar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A operação tem o aval do governo que, como o PT, reprova a conduta do procurador. Ministros e petistas questionam o fato de Gurgel não ter aberto nenhum procedimento contra o senador Demóstenes Torres (GO) em 2009, quando recebeu o inquérito da Operação Vegas. Ele não fez a denúncia nem pediu diligências.
Anteontem, Gurgel recusou um convite para falar do caso na CPI. Disse estar impedido de prestar depoimento porque não pode se tornar testemunha no processo. Sobre não ter tocado o processo contra Demóstenes, afirmou que em 2009 não havia elementos para levar o caso adiante.
Ontem Gurgel buscou o apoio da oposição. Pela manhã, recebeu em seu gabinete os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) e Álvaro Dias, líder tucano no Senado, durante cerca de uma hora.
Se houve ‘corrupção’, mídia será investigada, diz relator
O relator da CPI do Cachoeira, deputado Federal Odair Cunha (PT-MG), disse ontem que “se houve cooptação e corrupção de alguns atores da mídia, isso deve ser investigado”. Para ele, “não há tema proibido”.
O petista diz, entretanto, que vai evitar generalizações. “É preciso individualizar condutas. Quer seja entre alguns membros da imprensa, membros do empresariado brasileiro, membros do Congresso Nacional, agentes de governos municipais e estaduais e agentes do governo federal. Essas condutas que, individualizadas, serviram à organização criminosa, têm que ser investigadas por nós”, afirmou o relator da CPI, que ontem deu entrevista à Folha e ao UOL.
Desde o início do escândalo envolvendo Carlos Cachoeira, acusado de contravenção e corrupção, parte do PT e de outros partidos ligados ao governo têm afirmado que a investigação revelará relações ilegais entre órgãos de comunicação e suas fontes. Eles têm feito ataques específicos à revista “Veja”. Um jornalista da publicação tem o nome citado por integrantes do grupo.
Para evitar imprensa, governador sai pela cozinha
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), saiu ontem pela cozinha de um dos auditórios do BNDES para escapar de jornalistas que o aguardavam. Desde que o blog do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) publicou fotos e vídeos de Cabral com secretários de Estado e Fernando Cavendish, dono da Delta, em viagens ao exterior, o governador vem evitando jornalistas.
Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que participaram de evento com o ex-presidente Lula, conversavam na área reservada quando o governador percebeu que uma jornalista daFolha o aguardava. Enquanto Paes seguia em direção à jornalista, Cabral saiu pela porta que vinha sendo usada pelos garçons.
Segundo um deles, da cozinha, Cabral seguiu para a garagem, onde um carro o esperava. Segundo a assessoria do governador, ele saiu e voltou mais tarde, para participar de almoço com Lula.
Donos põem Delta à venda para evitar fechamento
No centro do escândalo envolvendo Carlinhos Cachoeira, a construtora Delta foi posta à venda para tentar salvar as operações da empresa. Segundo a Folha apurou junto a pessoas com acesso à operação, o grupo JBS manifestou interesse na aquisição.
Procurado, o empresário Joesley Batista, presidente da holding que controla o frigorífico JBS, disse que não poderia comentar o caso: “Vixe! Não posso falar disso, não”. Já a Delta optou por não se pronunciar a esse respeito.
As negociações, segundo quem acompanha o caso, estão a cargo do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que comanda o conselho de administração da holding. Procurado, Meirelles não foi localizado.
Garotinho acusa governador do RJ de negociar com Cachoeira
Em discurso na Câmara, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) acusou ontem o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) de ter “acertado” a entrada de Carlinhos Cachoeira na exploração do jogo do bicho no Estado. O deputado também afirmou que bicheiros entregam dinheiro “todo mês” para o Palácio da Guanabara, onde Cabral despacha. Por meio de sua assessoria, Cabral disse que “não comenta leviandades”.
Segundo Garotinho, a denúncia consta de fita enviada a ele na qual uma pessoa não identificada disse que o dono da Delta, Fernando Cavendish, intermediou com o governador a entrada de Cachoeira no negócio. Por meio do advogado, Cavendish disse que a “afirmação é leviana e não corresponde à realidade”.
Brizola Neto assume Trabalho e admite divergências no partido
O novo ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT), reconheceu ontem que ainda há divergências dentro de seu partido diante da decisão da presidente Dilma Rousseff de nomeá-lo para a pasta. “Ainda existem pequenas diferenças desse processo todo que precisam ser equacionadas”, afirmou o pedetista após a cerimônia de posse, no Palácio do Planalto.
Em seu discurso de posse, Brizola evitou o tom político. Elogiou o governo de Dilma e lembrou a memória do avô, Leonel Brizola. Ex-pedetista, Dilma também ressaltou o passado da família do novo ministro.
PF investiga relato de ex-agente da ditadura
A Polícia Federal abriu investigação sobre o paradeiro de supostas vítimas do ex-delegado Cláudio Guerra, que afirma ter matado e incinerado corpos de presos políticos na ditadura militar. O ex-policial prestou depoimento a um delegado da PF há cerca de um mês. A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram informados do relato, que está em sigilo.
A intenção é enviar as informações à Comissão da Verdade, ainda não instalada. O ex-agente da ditadura levou uma equipe da PF a quatro cidades onde diz ter ocultado cadáveres de militantes: Rio, BH, Petrópolis (RJ) e Campos (RJ). Os locais devem ser alvo de escavações.
Deputado sugeriu que ex-namorada fizesse aborto
Uma gravação divulgada anonimamente na internet mostra o deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), 53, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, sugerindo que sua parceira faça um aborto. Procurado pela Folha, Jordy reconheceu o diálogo. A mulher é uma ex-namorada de Jordy, Josiane Ferreira da Rosa.
Na conversa, Jordy afirma que “se tu quiseres ter [filhos], tu tens. Eu não vou ter condições de assumir”. Em outro momento, Josiane fala: “E eu não tenho condição de fazer um aborto”.
Ele rebate: “Tu tens que se orientar com um médico pro médico te dizer quais são as consequências e depois eu te ajudo a pagar o psicólogo pra te ajudar a superar isso”. Segundo o deputado, não houve aborto e Josiane já está no final da gravidez.
Lula chega a evento de bengala e pede desculpa por voz baixa
Visivelmente abatido e amparado por uma bengala, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem a sua segunda aparição pública desde que terminou o tratamento contra um câncer de laringe. Ele participou de um seminário sobre a África organizado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio.
De acordo com a assessoria do ex-presidente, ele vem se recuperando bem, mas ainda precisa de ajuda da bengala para caminhar. Durante o tratamento, Lula perdeu 18 quilos, parte deles já recuperada.
Dos sete integrantes da mesa oficial ontem, Lula fez o discurso mais longo, de cerca de 20 minutos. Ele pediu desculpas pelo ritmo mais lento e pelo tom mais baixo de sua voz. “Faz sete meses que eu não falo. Espero que não tenha esquecido como faz isso”, disse o ex-presidente.
O GLOBO
Mesmo com nova regra, poupança bate fundo com taxa além de 1,34%
Depósitos em caderneta de poupança feitos hoje já serão afetados pelas novas regras. Por isso, especialistas em finanças pessoais apontam que o investidor deve ficar ainda mais atento na hora de escolher onde aplicar o dinheiro. De acordo com levantamento do site www.comdinheiro.com.br, mesmo com as perdas, a nova poupança ainda será mais atraente que os fundos com taxa de administração acima de 1,34%, considerando a Selic a 8,5% ao ano.
– O ganho com as novas regras da poupança será menor e, para pequenos valores, é difícil achar fundos com taxas de administração que valham a pena. A Caixa está se movimentando para reduzir, mas em geral as taxas são abusivas – disse o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e responsável pelo site, Rafael Paschoarelli.
A maior dificuldade, concorda o professor da FIAP Marcos Crivelaro, é o investidor encontrar fundos de investimentos nos quais seja possível aplicar pequenos valores com taxas de administração competitivas, em torno de 1%. – Quem tem poucos recursos, fica sem alternativa. Para ter um ganho melhor, ou precisa aplicar mais ou estar disposto a deixar o dinheiro investido por mais tempo – diz ele.
Com R$ 10 mil, perda de R$ 33
A mudança na poupança vai atingir em cheio os ganhos do investidor. Simulação feita pelo site www.comdinheiro.com.br, a pedido do GLOBO, mostra que um investidor que aplicar R$ 10 mil na caderneta terá R$ 10.582,91 ao fim de ano, o que significa R$ 33,87 a menos do que teria pelas antigas regras da poupança (R$ 10.616,78). O cálculo considera uma taxa básica de juros, a Selic, de 8,5%. Este é o nível para o qual começa a valer o novo formato de remuneração e também a taxa que o mercado espera que a Selic alcançará em breve.
Fundos DI (pós-fixado) com taxa de administração de 2% ao ano terão, considerando as mesmas condições, um ganho de R$ 521,72. No caso de fundo com taxa de 1,5%, o saldo será de R$ 10.564,36. Com uma taxa de 1%, esse rendimento sobe para R$ 607,99 e, somente nessas condições, ganha da poupança. A simulação para os fundos já considera o ganho líquido, ou seja, está descontada a alíquota de 17,5% do Imposto de Renda (IR) para as aplicações pelo período de um ano.
À medida que a Selic cai, a diferença entre a rentabilidade antiga da poupança e da nova se amplia. Com uma taxa de 8,25%, o saldo em um ano será de R$ 10.565,97 para uma mesma aplicação de R$ 10 mil, uma diferença de R$ 50,81. O ganho será de R$ 587,17 para o investidor que aplicar seus recursos em um fundo DI com taxa de administração de 1%.
Senado volta a ser pressionado a analisar fim do voto secreto
Embora seja dada como certa a cassação do senador Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado, há receio entre senadores de que, na votação secreta no plenário, ele seja absolvido. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), voltou a cobrar ontem que o presidente José Sarney (PMDB-MA) ou a presidente em exercício, Marta Suplicy (PT-SP), ponha em votação o substitutivo do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) a uma emenda constitucional de sua autoria que acaba com o voto secreto em plenário para cassação de mandato.
Dias disse que, se houver vontade política da Mesa, a proposta de emenda constitucional (PEC) pode ser aprovada a tempo da votação do processo de Demóstenes no plenário. – O substitutivo está em processo de votação no plenário, já transcorreram as cinco sessões de discussão, e só falta votar. Mas há dois anos está parado. Já fui à tribuna duas vezes cobrar a inclusão na pauta desde que começou o caso Demóstenes, mas ninguém se manifesta ou toma a iniciativa de incluir na ordem do dia para a conclusão da votação.
Até hoje, na História do Senado, apenas o ex-senador Luiz Estêvão (DF) teve o mandato cassado pelo plenário, no voto fechado. Ocorreu em junho de 2000, após evidências de envolvimento no escândalo do TRT de São Paulo protagonizado pelo então juiz Nicolau dos Santos Neto.
Longa parceria com Cachoeira
No relatório de 63 páginas lido ontem no Conselho de Ética do Senado, em que pediu a abertura de processo por quebra de decoro contra Demóstenes Torres (sem partido-GO), o senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou uma série de atos e ações do senador goiano para mostrar que ele defendia os interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira desde que chegou à Casa, em 2003. Costa usou os dados da atividade parlamentar de Demóstenes para comprovar que ele mentiu ao dizer que a relação com Cachoeira era apenas de amizade e que sempre teria militado contra a legalização dos jogos de azar.
Esse relatório preliminar, que surpreendeu a defesa do senador, deve ser votado no Conselho dia 8. Só depois da instauração do processo e da apresentação da acusação e da defesa, o relator Humberto Costa pedirá ou não a aplicação da pena máxima a Demóstenes, que é a perda do mandato.
A cassação já é considerada certa no Conselho de Ética, onde o voto é aberto. No plenário, a votação será com voto secreto. Ontem, Demóstenes esteve no plenário do Senado, mas não compareceu à sessão do Conselho.
‘Cachoeira é meu amigo pessoal’
Sob risco de ter o mandato cassado, o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) não se furta a dizer que é amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo em fevereiro. Em alguns casos, ele vem atuando até mesmo como uma espécie de porta-voz do contraventor. Ontem, ele foi ao plenário da Câmara para reafirmar a amizade e lembrou a todos que o bicheiro estava completando 49 anos.
– Todos têm acompanhado que meu nome é citado várias vezes como uma pessoa que falou frequentemente com o sr. Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que, por sinal, faz aniversário hoje. Está preso na Papuda (presídio em Brasília), faz 49 anos e é meu amigo pessoal – discursou Leréia.
Mês passado, foi Leréia que anunciou a morte da mãe do contraventor, que ainda estava preso em Mossoró (RN). O deputado é um dos parlamentares flagrados nas escutas feitas pela PF com autorização da Justiça. Numa das gravações, o bicheiro chega a passar o código de segurança de seu cartão de crédito para que Leréia possa fazer uma compra na internet. – Quero ser convidado ou convocado, a maneira que for, imediatamente pela CPMI – afirmou o deputado em plenário.
‘Vamos colocar a Delta para dentro’ – trecho de entrevista com deputado Odair Cunha
O relator da CPMI do caso Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), disse que não tem intenção de blindar a Delta Construções, como acusou a oposição durante a primeira sessão de trabalho da comissão, anteontem. Disse que a empresa vai “para dentro” da CPI. Ao GLOBO, afirmou que está focado 100% no trabalho e que será inevitável que as investigações respinguem em algumas pessoas, do governo ou não. Mas, para ele, isso não o preocupa. Odair também negou acordo entre os partidos para poupar os governadores citados, garantindo que a CPMI irá tratar da questão dos governadores a partir de junho, como está no plano de trabalho aprovado anteontem.
O GLOBO: A CPMI corre o risco de virar pizza, como já acusam alguns parlamentares da oposição?
ODAIR CUNHA: Vários parlamentares, de todos os partidos, aprovaram o plano de trabalho, o que sinaliza que o plano aponta para uma investigação séria, com uma lógica investigatória a partir dos dois inquéritos da Polícia Federal, as operações Vegas e Monte Carlo. É isso o que faremos.
Por que o senhor evitou deixar claro que a investigação atingirá a Delta Construções?
ODAIR: Primeiro, vamos ouvir o Cláudio Abreu (ex-diretor da Delta no Centro-Oeste), que está preso e que tem várias ligações (gravadas pela PF). Vamos investigar as relações de Carlinhos Cachoeira com setores empresariais e agentes de mercado. Não vamos deixar de investigar nada. Vamos colocar a Delta para dentro. Não estamos excluindo ninguém.
Justiça manda retirar fotos de blog
A Justiça do Rio determinou ontem que o ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) retire de seu blog as fotos em que Jordana Kfouri, então noiva do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, aparece em viagem do governador Sérgio Cabral a Paris, em 2009. O juiz Wilson Marcelo determinou a retirada das imagens atendendo a um pedido de liminar do pai de Jordana, que alegou o uso indevido da imagem da filha, já falecida. A ordem deve ser cumprida em 48h, sob pena de multa de R$ 500 mil.
Antes da decisão, a irmã de Jordana, a arquiteta Garna Kfouri, afirmou que houve uso indevido de imagem. – Houve uso da imagem da minha irmã para fins eleitoreiros e políticos – afirmou Garna, que deu entrevista antes de sair a liminar.
Documentos sigilosos sob guarda
Para proteger os documentos sigilosos já enviados pelo Supremo Tribunal Federal, inclusive uma grande parte que ainda não foi tornada pública, um forte esquema de segurança está sendo montado no Senado para proteger a sala da CPI do caso Cachoeira onde será armazenada toda a documentação. Além de um grupo de 12 agentes da Polícia Legislativa que ficarão responsáveis por guardar a entrada 24 horas por dia, o local terá câmeras de segurança, e nenhum parlamentar poderá ingressar nele com equipamentos eletrônicos.
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o relator, Odair Cunha (PT-MG), reuniram-se ontem na “caverna” para definir as novas adaptações físicas e tecnológicas a fim de que, só a partir de segunda-feira, os parlamentares tenham acesso ao local e à documentação das operações Monte Carlo e Vegas.
Governo acompanhará crimes contra imprensa
A Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH) criará um observatório para acompanhar investigações de atentados cometidos contra jornalistas. A decisão foi anunciada ontem pela ministra Maria do Rosário, após encontro com representantes do setor que estiveram em Brasília para pedir a federalização dos crimes contra profissionais da imprensa. Também deve ser aberto um canal de comunicação direta com o governo para denunciar ameaças à liberdade de expressão.
O grupo formado por representantes da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e Altercom, que representa comunicadores de blogs, acusou as policias estaduais de estimularem a impunidade. – São raríssimos os casos de identificação de violência contra jornalistas e responsabilização de seus autores porque as autoridades policiais no âmbito de cada unidade da federação não têm empenho em apurar estes episódios. A impunidade na investigação e na responsabilização tem estimulado a multiplicação de casos de violência contra profissionais da comunicação – afirmou o presidente da ABI, Maurício Azêdo.
Ato em SP pede punição a crimes da ditadura
Dezenas de pessoas participaram ontem de um ato pedindo punição para os crimes da ditadura brasileira, na Rua Tutoia, bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo. Eles fizeram o “Ato pela Memória, Verdade e Justiça”, em frente ao antigo Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão durante a ditadura militar. Hoje, no endereço, funciona o 36º Distrito Policial.
Os manifestantes carregavam cartazes com fotos de presos e desaparecidos políticos e faixas com os dizeres “Brasil, mostra sua cara”. Os participantes pediam o início dos trabalhos da Comissão da Verdade e muitos demonstraram estar chocados com as declarações de Cláudio Antônio Guerra, ex-delegado do Dops, que relata no livro “Memórias de uma guerra suja” que pelo menos dez corpos de militantes teriam sido incinerados numa usina de açúcar, em Campos.
Ontem, a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) anunciou que Cláudio Guerra deverá ser ouvido pela Comissão Parlamentar da Verdade, ligada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A deputada apresentará semana que vem requerimento para que o ex-delegado do Dops confirme aos parlamentares o depoimento que consta no livro.
Em evento no Rio, Lula aparece usando bengala
Ainda debilitado e abatido pela recuperação do tratamento contra um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou ontem de um evento, no Rio, amparado, pela primeira vez, por uma bengala. Ele participou da abertura do seminário “Investindo na África: Oportunidades, desafios e instrumentos para a cooperação econômica”, organizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e pelo BNDES, como parte das comemorações dos 60 anos do banco. Com muita dificuldade para falar, Lula deixou o tradicional improviso de lado e leu o seu discurso de aproximadamente 20 minutos.
– Faz sete meses que eu não falo. Espero que eu não tenha desaprendido. Vou falar o mais devagar possível para ver se a garganta permite – brincou Lula antes de começar o discurso voltado para o setor econômico.
O ex-presidente, que não falou com a imprensa, chegou ao palco com a bengala e amparado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Lula sentou ao lado do governador Sérgio Cabral (PMDB) e, em vários momentos, parou o discurso para beber água.
MP estadual pode passar a eleger procurador-geral
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou ontem proposta que altera a forma de escolha dos procuradores-gerais de Justiça dos estados e do Distrito Federal. Atualmente, cada Ministério Público estadual forma uma lista tríplice, mas cabe ao governador escolher qual dos três será o escolhido. Com a mudança, os integrantes do próprio Ministério Público elegerão o procurador-geral, que deverá ter seu nome aprovado também pela Assembleia estadual. A proposta vai ser analisada agora por uma comissão especial na Câmara.
Recentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, escolheu como chefe do MP Márcio Elias Rosa. Ele foi o segundo nome mais bem votado da lista. Na justificativa da proposta, os autores destacam a importância do Ministério Público e alertam para o perigo que a atual forma de escolha traz para a independência do Ministério Público. A proposta não mexe na forma de escolha do procurador-geral da República, que cabe ao chefe do Executivo.
Novo ministro admite ‘pequenas divergências’
A presença de Brizola Neto no Ministério do Trabalho, segundo a presidente Dilma Rousseff, reforça a parceria do PDT com o Palácio do Planalto. Ex-integrante do PDT, Dilma atribuiu ao trabalhismo conquistas como a jornada de oito horas, o salário-mínimo, o direito à organização sindical e a adoção de uma legislação de proteção ao trabalhador. Ao discursar, porém, Brizola Neto, não citou o presidente do PDT em nenhum momento.
Após a posse, ele reconheceu haver no PDT “pequenas diferenças” que ainda precisam ser resolvidas. Defendeu que prevaleçam os compromissos públicos e programáticos do partido, em vez de “preferências pessoais”. – Ainda existem pequenas diferenças que precisam ser equacionadas. A verdade é que o partido hoje, quase na sua totalidade, está convencido de seu papel, do seu posicionamento no campo político, e isso é muito maior do que pequenas divergências – disse o novo ministro.
Na posse de Brizola Neto, trégua no PDT
Na cerimônia de posse do novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, ontem, no Palácio do Planalto, a ordem era deixar de lado as divergências que marcaram o processo de escolha do substituto definitivo de Carlos Lupi, presidente do PDT, que deixou o governo em dezembro do ano passado sob suspeitas de irregularidades em convênios da pasta. Sobraram elogios de todos para todos.
Lupi já chegou ao Planalto negando que o PDT tenha se dividido sobre a nomeação de Brizola, embora a demora na escolha do novo ministro tenha sido em função de resistências no partido ao deputado escolhido por Dilma. – Eu nunca tive mal-estar. Tinha três nomes colocados, o dele era um dos nomes. A escolha foi da presidente, como não poderia ser diferente. Ela escolheu um dos três. Ok, ótimo. Sempre será escolha da presidente. E também do partido, claro. É um belíssimo nome – disse Lupi.
A cerimônia, embora concorrida, não contou com a presença de muitos parlamentares. Nem mesmo o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), que era contra a indicação de Brizola Neto, compareceu.
O ESTADO DE S. PAULO
Mudança na poupança começa a valer nessa sexta para novos depósitos
O rendimento da caderneta de poupança ganha cara nova a partir desta sexta-feira. O ganho da aplicação financeira mais popular do País passará a ser um porcentual da taxa básica de juros e não mais um valor fixo. A mudança não afetará as poupanças antigas, apenas as que forem abertas agora ou novos depósitos nas contas já existentes. A medida abrirá espaço para o Banco Central continuar a reduzir os juros como defende a presidente Dilma Rousseff.
Pela nova regra de remuneração, o dinheiro depositado na poupança será corrigido mensalmente pelo equivalente a 70% da taxa básica de juros mais a variação da Taxa Referencial (TR). Isso valerá sempre que a Selic estiver em 8,50% ao ano ou em patamar menor. Se a taxa estiver acima disso, o rendimento continuará sendo o atual: 0,5% ao mês mais a variação da TR. A nova fórmula de remuneração das cadernetas foi aprovada ontem pela presidente Dilma, depois de uma longa reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no Palácio da Alvorada.
Na avaliação do titular da Fazenda, a mudança na caderneta deve ser entendida como uma “reforma estruturante”, que irá reduzir os entraves para a queda da taxa básica de juros. Como a remuneração atual da poupança é fixa, o juro pago ao poupador acaba servindo como um piso para a Selic, que atualmente está em 9% ao ano. Pelas regras vigentes, a poupança paga hoje o equivalente a 6,17% por ano.
‘CPI não vai blindar ninguém. Não há tema proibido’, afirma relator – trecho de entrevista com o deputado Odair Cunha
Relator da CPI do Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PT-MG) só terá acesso aos documentos das Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, a partir de segunda-feira. Daí a demora na convocação de autoridades supostamente envolvidas com o esquema de Carlinhos Cachoeira. Mas o petista garante que a CPI não vai blindar ninguém.
O sr. é favorável à convocação dos governadores Marconi Perillo (GO), Agnelo Queiroz (DF) e Sérgio Cabral (RJ)?
Não há nenhuma preocupação em convocá-los ou não. Nós vamos tomar a decisão com base nas informações que nós tivermos dos inquéritos da Polícia Federal. Não vou fazer juízo sobre os governadores a partir de matérias jornalísticas. Quero deixar uma coisa clara: não há blindagem a ninguém. Não há tema proibido na CPMI. Nós vamos investigar a organização criminosa do Carlinhos Cachoeira e quem se relacionou com ela. Todos os tentáculos dessa organização devem ser por nós investigados.
Por que o sr. não convocou o dono da Delta, Fernando Cavendish, nessa primeira fase da CPI?
Coloquei na primeira leva de convocados gente da Delta. A partir deste depoimento, das quebras de sigilo e da leitura dos inquéritos da Polícia Federal, ele e outros poderão ser convocados.
Mesmo depois de o procurador-geral, Roberto Gurgel, ter levantado a suspeita de que Cachoeira seria sócio oculto de Cavendish?
Na hora em que o procurador-geral da República nos encaminhar os documentos que motivaram a denúncia dele e eu tiver acesso aos documentos, eu farei juízo de valor. Estamos aguardando esse documento chegar à CPI.
O sr. pretende requisitar os documentos e relatórios de outras CPIs, como a dos Bingos?
As outras CPIs já cumpriram o seu papel.
Cabral vê ‘zero risco’ de ter caído em grampo com dono da Delta
Diante das suspeitas sobre sua relação com Fernando Cavendish, controlador da Delta, um dos focos da CPI do Cachoeira, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), traçou uma estratégia baseada na inexistência – pelo menos por ora – de indícios que o envolvam no escândalo. “Zero, zero risco de haver uma conversa minha tratando de assuntos públicos com o Fernando”, disse o governador a interlocutores do PMDB, no fim de semana. Dois pontos sustentam a tática de Cabral: não foram encontrados grampos da Operação Monte Carlo nos quais o peemedebista apareça beneficiando Cavendish; e, segundo a versão do governador, eles só costumam abordar assuntos privados, sem tocar em interesses públicos. A Delta tem, com o Estado do Rio, contratos de obras que somam R$ 1,49 bilhão.
Cabral tem deplorado, contudo, o que chama de “exposição de famílias” – segundo ele, iniciado com a divulgação de fotos de casais que o acompanhavam em viagens ao exterior pelo blog do ex-governador e deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). As imagens mostram Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, acompanhados de Cavendish e da então mulher do empresário, Jordana Kfuri Cavendish, morta em junho em um acidente de helicóptero na Bahia que tornou pública a amizade entre o governador e o controlador da Delta. Nas imagens, os casais estão em um restaurante em Mônaco e no show do grupo U2 em Nice (França), em 2009.
Nesta quarta-feira, 3, a Justiça do Rio determinou que Garotinho retire de seu blog, em 48 horas, as imagens da mulher de Cavendish, em ação movida pelo pai de Jordana, Dario Kfuri. No blog, o deputado lamentou ter usado a imagem dela. “Todavia algumas situações são fatos jornalísticos contundentes e reveladores.”
MPF denuncia ex-diretor da Delta por fraude em documentos de licitação
O Ministério Público Federal (MPF) no Tocantins ajuizou ação penal contra o ex-diretor da Delta Construções, Carlos Roberto Duque Pacheco, por uso de documentos falsos na obtenção de certidão de acervo técnico (CAT), documento representativo de habilitação em procedimentos licitatórios e que franqueia a empresa a se habilitar em licitações de limpeza urbana em municípios de médio e grande porte no país, segundo informações do MPF.
Segundo a denúncia, em 5 de fevereiro de 2009, Carlos Roberto falsificou dois documentos públicos perante o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Tocantins (Crea/TO), para obter junto à autarquia federal a CAT também falsa. Teriam sido falsificados o Atestado de Capacidade Técnica e a Anotação de Responsabilidade Técnica para instruir o procedimento do Crea, cujo objeto era a expedição da CAT em favor da empresa Delta.
O MPF afirma que o Atestado de Capacidade Técnica supostamente forjado por Carlos Roberto refere-se a contrato emergencial firmado pelo município de Palmas (TO) e a empresa Delta Construções SA, e descreve serviços que não foram executados pela empresa. Os promotores argumentam que a falsidade do documento é revelada porque Carlos Roberto é apontado como um dos responsáveis técnicos pela execução dos serviços iniciados em 24 de fevereiro de 2006, mas só foi admitido na empresa Delta em 12 de junho 2006, quase quatro meses depois.
Leréia parabeniza Cachoeira e diz querer ser ouvido na CPI
Investigado pela Corregedoria da Câmara e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ligações com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) fez um pequeno pronunciamento no plenário da Câmara, nesta quinta, para comunicar que pediria para ser ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o esquema montado pelo contraventor.
Leréia aproveitou o fato de Carlinhos Cachoeira completar 49 anos nesta quinta para lembrar a data e reafirmar que é amigo do contraventor. “Todos têm acompanhado que meu nome é citado várias vezes como o de uma pessoa que falou frequentemente com o senhor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que, por sinal, faz aniversário hoje. Está preso na Papuda, faz 49 anos e é meu amigo pessoal”, disse Lereia.
Em seguida, ele fez um comunicado à Câmara: “Eu gostaria de comunicar a esta Casa que tomei a decisão de manifestar oficialmente ao senhor presidente da CPI, senador Vital do Rego, e ao nobre relator, deputado Odair Cunha, meu interesse em imediatamente dar minhas explicações a respeito do que tem sido noticiado pela imprensa.”
Servidora do Tribunal de Justiça de São Paulo ganha R$ 230 mil ‘sem motivo’
Uma única servidora do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivete Sartorio, recebeu R$ 229.461,49 em apenas 14 meses, a título de pagamentos antecipados, fora os vencimentos. Os desembolsos para Ivete, que é escrevente técnico judiciário, ocorreram entre agosto de 2009 e outubro de 2010, na gestão dos presidentes Vallim Bellocchi (2008-2009) e Vianna Santos (2010). Expediente intitulado “antecipação de pagamentos a funcionária relacionada ao então presidente Vianna Santos” indica mês a mês todos os procedimentos que resultaram na concessão de créditos a Ivete. Uma planilha revela que todas as solicitações atendidas não foram acompanhadas de justificativa. Anotação “sem motivo” aparece ao lado do “autorizado”.
Os créditos concedidos a funcionários são capítulo à parte na crise que atravessa a corte paulista e estão sob inspeção por ordem do presidente do TJ, desembargador Ivan Sartori. São três procedimentos em curso. O primeiro trata dos contracheques milionários a cinco desembargadores; o segundo examina a liberação antecipada de valores a 41 outros magistrados; o terceiro trata dos recursos para servidores. Os valores, assevera o TJ, são devidos porque de natureza alimentar e trabalhista. A inspeção busca identificar como e sob quais critérios houve as antecipações.
Ivete Sartorio trabalhou no gabinete civil da Presidência, gestão Vianna Santos. Antes, em 2008, ela atuou com Vianna na Presidência da Seção do Direito Público. Naquele ano, alegando “motivo financeiro”, Ivete protocolou pedido de recursos referentes a férias dos exercícios 1986, 2002, 2003, 2004 e 2005, “mais os dias de licença-prêmio, com isenção de I.R.”. Este pleito foi indeferido por “restrições orçamentárias”. A apuração mostra que depois Ivete recebeu 13 repasses sucessivos, dos quais 5 relativos a férias não tiradas a seu tempo; 4 a título de licença-prêmio e 4 por Fator de Atualização Monetária (FAM). Nesta quarta-feira, 3, Ivete não quis se manifestar.
Na semana passada, por telefone, ela disse: “Eles foram pagando, é um direito que a gente tem e pagaram. Sou servidora há muitos anos. A gente fica feliz quando recebe alguma coisa. É direito trabalhista, férias indeferidas por absoluta necessidade de serviço. É um dinheiro que há muitos anos a gente recebe. A gente tem que ter alguma compensação. Passa a vida toda sem receber nada. Requerimentos todos fazem. Conforme eles têm dinheiro pagam ou não”. Em outubro de 2010, com salário bruto de R$ 17.297,55 e 30 anos de serviço, ela foi autorizada a receber mais R$ 40.937,54, por 71 dias de licença-prêmio – saldo remanescente do “Bancão”, como o financeiro do TJ chama a base de dados relativos aos créditos acumulados de cada juiz ou funcionário.
Ministra Maria do Rosário compara métodos da ditadura aos do nazismo
A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, comparou os métodos usados por agentes durante a ditadura militar, descritos no livro Memórias de Uma Guerra Suja, divulgado na última quarta-feira, 2, a ações do tempo do nazismo. A ministra fez questão de ressaltar não ter lido o livro do ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo Cláudio Guerra.
O livro de Guerra, uma coletânea de entrevistas dadas aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Menezes, traz a informação de que opositores do regime militar teriam sido incinerados nos fornos de uma usina de cana-de-açúcar em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro. O ex-delegado afirma ter ele mesmo levado os corpos até o local.
“As declarações são graves e trazem a público métodos comparáveis ao nazismo”, afirmou. “Mas todas essas declarações e todas as outras que surjam podem e devem ser trabalhadas no âmbito da Comissão da Verdade”, afirmou. A comissão, no entanto, ainda não foi instalada, já que seus membros não foram indicados.
Gravação mostra deputado Arnaldo Jordy pedindo a mulher que aborte
Uma gravação de três minutos, divulgada no Youtube, mostra o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) pressionando uma mulher a abortar o filho supostamente dele. O diálogo entre os dois é áspero e a mulher, identificada como Josy, recusa-se a fazer o aborto e cobra de Jordy que lhe dê apoio durante a gestação.
No momento mais tenso, Josy argumenta: “Tu estás pensando que a minha vida é fácil, que eu vou pegar, chegar contigo e dizer `Tá bom, eu vou fazer o aborto?””. O deputado retruca: “Eu não tô dizendo que é uma decisão fácil, mas é uma decisão, Josy”. A discussão prossegue e Jordy promete pagar as custas do aborto e até psicólogo para ela “superar o trauma”. Sem acordo, ele tenta o argumento decisivo: “Josy, eu não tenho a menor condição! Eu pago três pensões. Isso é uma loucura!”
Josy insiste que tem dúvidas e medo, e diz que sua decisão é manter a gravidez. “Preciso saber se vou ter seu apoio, se tiver de carregar o bebê nove meses na barriga”, diz ela. O deputado tenta sua última cartada. “Uma criança é pro resto da vida, eu não tenho condições, Josy. Eu não tenho tempo nem de cuidar dos meus filhos que já estão aí”. Jordy é candidato a prefeito de Belém.
O presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), informou que o órgão só levará o caso à análise se for provocado por um partido, por entidade civil ou por alguma decisão judicial. Segundo ele, o conselho nunca julgou um parlamentar por esse tipo de situação, embora aborto seja crime com pena de um a três anos de detenção prevista no Código Penal.
CORREIO BRAZILIENSE
Gatilho na poupança para derrubar juros
A presidente Dilma Rousseff bateu o martelo, ontem, sobre as mudanças nas regras da poupança. Como adiantou o Correio na edição de 20 de abril, os novos depósitos passarão a ter uma rentabilidade inferior à atual caso a taxa básica de juros (Selic) caia abaixo de 8,5% ao ano. Os 98 milhões de brasileiros que já possuíam saldo na caderneta, entretanto, não precisam se preocupar: o dinheiro e o rendimento dele ficam intocados.
As alterações valem apenas para quem aplicar a partir de hoje. Dilma passou o dia reunida com parlamentares, sindicalistas e empresários em busca de apoio para a medida. A estratégia era convencer de que não há qualquer semelhança com o confisco promovido pelo governo Collor, em 1992.
As novas regras vigoram a partir de hoje, porém, ainda não têm efeito prático sobre a rentabilidade da poupança, o rendimento só muda caso a Selic venha a ficar abaixo ou igual a 8,5% ao ano. A partir desse nível, o lucro do poupador será equivalente a 70% da Selic, mais a Taxa Referencial (TR), ou seja, em vez dos 6,17% anuais de lucro, o retorno seria de 6,2%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez questão de frisar ainda que a caderneta continua isenta de Imposto de Renda e com liquidez diária — o consumidor pode sacar no momento em que desejar.
Demóstenes feriu o decoro, indica relator
O relatór io do senador Humber to Costa (PT-P E), apresentado ontem no Conselho de Ética, complica ainda mais a situação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O texto de 63 páginas revela indícios de que o parlamentar goiano usou o mandato em benefício dos interesses do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e mentiu no plenário da Casa. O documento termina pedindo a abertura do processo disciplinar por suspeitas de quebra de decoro e será votado no Conselho de Ética na próxima terça-feira.
A tramitação do julgamento político de Demóstenes, que pode culminar com a perda de mandato, ainda não tem prazo para ser concluída. Caso não seja arquivado no Conselho de Ética, o processo seguirá para votação no plenário, com a punição sugerida pelo relator em seu parecer conclusivo. Mas, independentemente do resultado, a própria defesa do parlamentar admitiu ontem, durante a sessão, que a abertura do procedimento já representa a mor te política do senador.
Humberto Costa adiantou em quanto tempo pretende dar fim ao processo contra o senador. “Minha intenção é concluir os trabalhos do Conselho de Ética em até dois meses.” Ele afirmou ainda que parte dos pleitos de defesa não deverá ser atendida pelos integrantes do Conselho de Ética, entre eles a realização de perícia nos diálogos entre Demóstenes e Cachoeira, gravados pela Polícia Federal com autorização da Justiça, veiculados pela imprensa.
Garotinho ataca Cabral
Na esteira da crise política causada pelas relações suspeitas entre o bicheiro Carlos Cachoeira e figuras públicas como parlamentares e governadores, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) emplacou uma série de denúncias contra o atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Em seu blog pessoal, Garotinho começou a publicar diariamente fotos e vídeos de 2009 que supostamente provam a ligação pessoal entre Cabral e Fernando Cavendish, diretor afastado da Delta Construções. A empresa é apontada pela Polícia Federal como participante do esquema irregular de Cachoeira e é alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Congresso.
Ontem, Garotinho divulgou novas fotos em que Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, divertem-se em uma viagem ao Principado de Mônaco ao lado de Cavendish e Jordana Kfouri, mulher do empresário que morreu no acidente de helicóptero que também vitimou a nora do governador no ano passado. O parlamentar ainda tornou público um vídeo em que os dois casais comemoram, em Paris, o aniversário de Adriana e a eleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB).
A acusação mais grave, no entanto, o deputado fez no plenário da Câmara. Garotinho afirmou ter uma gravação na qual um diretor da Delta, falando em nome de Cavendish, conversa com um dos chefes do jogo do bicho carioca sobre um acordo feito com Sérgio Cabral. “Foi acertado com o governador, por meio do Fernando, da Delta, que 30% do mercado do jogo no Rio é de Carlinhos (Cachoeira). Vocês vão ter que abrir”, teria dito o emissário de Cavendish, segundo Garotinho. O bicheiro do Rio teria respondido: “Não vou abrir coisa nenhuma! Nós temos um acordo, mandamos todo mês um dinheiro lá para o Palácio (Guanabara, sede do governo do Rio)”.
Leréia quer depor na CPI do Cachoeira
Pressionado pelo PSDB a dar satisfações sobre seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e até a deixar o partido para evitar constrangimentos, o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) enviou um ofício à CPI do Cachoeira pedindo para que seja convidado ou convocado a depor “imediatamente”. O parlamentar goiano subiu à tribuna do plenário para anunciar que enviaria o documento ao presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e ao relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). Ele também confirmou que Carlinhos Cachoeira é seu “amigo pessoal” e parabenizou o bicheiro pelo aniversário ontem — detido no Complexo Penitenciário da Papuda, o contraventor completou 49 anos.
Em gravações feitas pela Polícia Federal, Leréia aparece recebendo a senha do cartão de crédito de Cachoeira, supostamente para fazer pagamentos de despesas pessoais. O deputado, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ainda teria facilitado a emissão de vistos para a sogra do bicheiro, Meire Alves Mendonça, no ano passado e pediu emprestado o apartamento do bicheiro no Rio de Janeiro, para acompanhar o réveillon em Copacabana.
Força-tarefa para vetar Código
A presidente Dilma Rousseff determinou que o texto do Código Florestal aprovado na Câmara dos Deputados há duas semanas seja analisado com lentes de aumento pelos ministros das áreas afins. Dilma quer que os chefes das pastas de Meio Ambiente, Agricultura e Desenvolvimento Agrário apontem os trechos que devem ser vetados e deem sugestões para cobrir os itens que vão ficar sem regulamentação devido aos vetos. A saída mais provável para preencher essas lacunas é a edição de Medidas Provisórias (MPs).
Ontem, senadores anunciaram uma articulação para “assessorar” a presidente no tema. A intenção é participar do processo de reconstrução do texto, para diminuir possíveis danos resultantes dos vetos presidenciais, que devem ocorrer em 15 de maio. A sugestão que reúne a maioria dos senadores é de tentar recuperar trechos do texto aprovado no Senado — que contou com o aval do Palácio do Planalto —, posteriormente modificado pela Câmara.
Nessa linha, o senador Blairo Maggi (PR-MT) propôs ontem, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, que sejam levadas propostas a Dilma Rousseff para cobrir os buracos que podem ser criados a partir dos vetos. Na próxima quarta-feira, os membros das comissões de Meio Ambiente, de Agricultura e de Ciência e Tecnologia deverão se reunir para discutir o tema. O intuito do grupo é recuperar, por meio de MP, as partes do projeto aprovado no Senado que foram excluídas na Câmara, possibilitando a sanção, ainda que parcial, do texto.
PDT volta ao Trabalho
O novo ministro do Trabalho assumiu ontem o cargo que o PDT esperava retomar havia cinco meses. Apesar de Brizola Neto, agora licenciado do mandato de deputado federal, ser dos quadros pedetistas, a indicação é interpretada por alguns integrantes do partido como escolha pessoal da presidente Dilma Rousseff, sem atender por completo aos anseios da legenda. Agora, o momento é de afinar o discurso da sigla e definir questões como os nomes que vão compor a equipe ministerial, que só devem ser anunciados nas próximas semanas. Enquanto isso, o ministro já definiu o mote de sua gestão: modernizar as relações de trabalho.
“Necessitamos que a interferência do Estado nessas relações (de trabalho) se atualize. As empresas mais modernas e eficientes são as que entendem seus trabalhadores como parte. Não é apenas para o trabalhador, mas também da empresa o interesse de que as relações de trabalho evoluam”, defendeu o ministro em seu discurso de posse.
Consciente do fato de que sua indicação desagrada a alguns integrantes do PDT, Brizola Neto reconheceu que ainda precisam ser feitos alguns entendimentos internos. “Ainda existem pequenas diferenças desse processo (de escolha) que precisam ser equacionadas, mas a verdade é que o partido — pelo menos a grande maioria — está convencido do seu papel, do seu posicionamento no campo político nacional, e isso é muito maior do que pequenas divergências”, sustentou.
Lula solta a voz
O primeiro discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o tratamento contra o câncer na laringe diagnosticado em outubro passado foi feito ontem, em evento que marcou o início das comemorações dos 60 anos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lula chegou ao evento, realizado no Rio de Janeiro, apoiado em uma bengala.
Segundo a assessoria do ex-presidente, o motivo do apoio é a fraqueza provocada pelo tratamento contra a doença, que o fez perder 18 quilos. “Faz sete meses que não falo. Espero que não tenha desaprendido a falar”, disse Lula, antes do pronunciamento , que durou cerca de 20 minutos. O ex-presidente leu o discurso — o que não costumava fazer antes do tratamento.
“Vou ler o mais rápido possível para a garganta permitir que eu termine”, disse. No seminário, chamado “Investindo na África: oportunidades, desafios e instrumentos para a cooperação econômica”, Lula exaltou a relação entre os dois países: “Em lugar de ficarmos paralisados com a crise internacional, que não foi criada nem por brasileiros nem por africanos , precisamos estreitar relações . O Atlântico não mais nos separa, nos une nas mesmas fronteiras , nos banhamos nas mesmas águas”.