O empresário Joesley Batista, da JBS, detalhou à Procuradoria da República no Distrito Federal como, segundo ele, avisou os ex-presidentes Lula e Dilma sobre a existência de contas-correntes para pagar propina, no valor de R$ 300 milhões, para o PT. O áudio do depoimento, prestado no último dia 12 em Brasília, foi publicado pelo site da revista Veja.
Joesley contou que se encontrou com Dilma no Palácio do Planalto durante a campanha dela à reeleição em 2014. Ele relatou o que alega ter dito à petista:
“Presidenta, eu vou falar um negócio aqui para a senhora. A senhora não precisa me confirmar nada. Mas só para te falar o que o Guido (Mantega, então ministro da Fazenda) me fala para a gente estar na mesma página. Tinha uma conta tal, que tinha 70 milhões (de dólares), outra 80 (milhões de dólares). Diz ele uma ser sua e uma ser do Lula. Veio as eleições, a gente já fez 300 e tantos milhões. Em tese, está acabando o dinheiro.”
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De acordo com o delator, os valores se referiam a um acordo feito com Mantega para garantir US$ 150 milhões ao PT em troca de investimentos bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fundos de pensão na JBS. Ele disse que pagava 6% de propina sobre o valor de todos os recursos públicos aportados ao grupo. O dinheiro destinado ao partido, segundo o empresário, ficava em conta no exterior e era liberado para candidatos do PT ou indicados pela legenda.
Joesley afirma que contou à presidente que estava preocupado com o pedido feito pelo tesoureiro da campanha dela, o ex-ministro Edinho Silva, de um aporte de R$ 30 milhões para o então candidato a governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). “Fazendo esses 30 milhões, aí acabou mesmo o dinheiro, aí não tem mais nada. Queria que a senhora ficasse ciente disso. É para fazer mesmo 30 milhões?”, perguntou Joesley a Dilma. “Ela (Dilma) falou: ‘Tem que fazer mesmo, os 30 milhões’”, relatou o empresário.
Ele disse que avisou Lula sobre a existência da conta de R$ 300 milhões no exterior em favor do partido na sede do instituto que leva o nome do ex-presidente. “O Lula não estava me pedindo dinheiro nem nada. Mas eu fui lá porque eu estava preocupado com essa história da conta dele, de estar gastando dinheiro dele, supostamente, se fosse ele mesmo. Aí eu fui lá e só contei a história para ele. Eu disse: ‘presidente, eu vim aqui, tal, porque estou muito preocupado, a gente vai ser o maior doador de campanha disparado. Eu tenho atendido aí o partido, o Guido (Mantega), todo mundo, tal, tem pedido, mas, enfim, já está em 300 e tantos milhões. O senhor está consciente aí da exposição que vai dar isso, do risco de exposição e tal?”
PublicidadeSegundo ele, Lula não reagiu ao questionamento. “Enfim, ele se encostou para trás, olhou bem para mim, ficou calado, não falou nada”, declarou o empresário. “Eu dei meu dever cumprido. Eu falei: ‘Olha, estou vindo aqui te falar isso só para o senhor precisa saber disso’. Porque eu, naquele momento ali, eu entendi que, ele sabendo que tinha sido mais de 300 milhões, amanhã ele não poderia vir me cobrar… Se aquele dinheiro fosse dele.”
O empresário disse que as contas foram “zeradas” em 2014 e que o dinheiro foi usado para financiar campanhas políticas de partidos e políticos indicados por Mantega.
Lula e Dilma contestaram, por meio de nota, as declarações do delator da Lava Jato:
Íntegra da nota da defesa de Lula:
“Verifica-se nos próprios trechos vazados à imprensa que as afirmações de Joesley Batista em relação a Lula não decorrem de qualquer contato com o ex-Presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados.
A verdade é que a vida de Lula e de seus familiares foi – ilegalmente – devassada pela Operação Lava Jato. Todos os sigilos – bancário, fiscal e contábil – foram levantados e nenhum valor ilícito foi encontrado, evidenciando que Lula é inocente. Sua inocência também foi confirmada pelo depoimento de mais de uma centena de testemunhas já ouvidas – com o compromisso de dizer a verdade – que jamais confirmaram qualquer acusação contra o ex-Presidente.
A referência ao nome de Lula nesse cenário confirma denúncia já feita pela imprensa de que delações premiadas somente são aceitas pelo Ministério Público se fizerem referência – ainda que frivolamente – ao nome do ex-Presidente.
Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira”
Íntegra da nota da assessoria de Dilma:
“A propósito das notícias a respeito das delações efetuadas pelo empresário Joesley Batista, a Assessoria de Imprensa da presidenta eleita Dilma Rousseff esclarece que são improcedentes e inverídicas as afirmações do empresário:
1. Dilma Rousseff jamais tratou ou solicitou de qualquer empresário, nem de terceiros doações, pagamentos ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais, tanto em 2010 quanto em 2014, fosse para si ou quaisquer outros candidatos.
2. Dilma Rousseff jamais teve contas no exterior. Nunca autorizou, em seu nome ou de terceiros, a abertura de empresas em paraísos fiscais. Reitera que jamais autorizou quaisquer outras pessoas a fazê-lo.
3. Mais uma vez, Dilma Rousseff rejeita delações sem provas ou indícios. A verdade vira à tona.
Assessoria de Imprensa
Dilma Rousseff”
Dilma nega ter recebido recursos em contas na Suíça
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