Destaque de capa das revistas deste fim de semana, o sucessor do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é usado pela revista Época para uma menção a um dos motes da campanha de reeleição do ex-presidente Lula, em 2006: “Deixa o homem trabalhar”, diz o título sob a foto de Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do Planejamento. Naquela ocasião, os petistas, ainda feridos pelo caso do mensalão, descoberto no ano anterior, amparavam-se nos bons resultados do primeiro mandato e, com o argumento da necessidade de mais tempo para concretizar os êxitos de Lula, pediam ao eleitor que o deixasse trabalhar por mais quatro anos.
Já na chamada de capa a revista Época evidencia a referência aos tempos de Lula: “A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda foi um alento. Agora, a presidente Dilma precisa dar a ele liberdade para agir”. Em texto introdutório, a reportagem retrata o escolhido de Dilma como “um dos nomes mais respeitados do país na área das finanças públicas”, e diz que o país “espera que ele tenha autonomia para fazer o que precisa ser feito” – ou seja, defende que a presidenta não conduza de maneira centralizadora a política econômica nacional, conduta que observadores da política atribuem a Dilma na relação com Mantega.
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“A nova equipe, com Levy à frente, terá a difícil missão de administrar a ‘herança maldita’ que a Dilma do primeiro mandato deixará para a Dilma do segundo mandato. Com um crescimento próximo de zero, a inflação queimando o teto da meta, fixado em 6,5% ao ano, juros e câmbio em alta e as contas públicas no vermelho, Levy e seus pares não têm tempo a perder. […] Um economista do mercado financeiro que conversou com ele depois de sua indicação afirma que Dilma o deixará trabalhar em paz. Isso foi dito na quinta-feira pelo próprio Levy. ‘Há uma confiança’, afirmou Levy. ‘Não tenho indicação nenhuma em sentido contrário.’ Para mudar a percepção em relação ao governo e despertar o ‘espírito animal’ dos empresários, que puxará os investimentos e o crescimento econômico, as primeiras ações da nova equipe econômica serão decisivas”, diz trecho da reportagem.
A revista diz que a Dilma terá de fazer “caminho inverso” daquele que foi percorrido por Lula, que “começou o governo com austeridade exemplar e foco no controle da inflação”, dando início aos gastos apenas em 2008, “para combater a crise global”. “Dilma gastou demais no primeiro mandato e agora terá de apertar os cintos para recolocar a economia nos trilhos. Terá também de acertar a regulação nos setores de energia elétrica, petróleo e gás, desarranjados no primeiro mandato. Eles precisam atrair grandes investidores para superar os gargalos existentes hoje”, acrescenta a matéria, segundo a qual o governo, “mais que tudo”, tem de recuperar a confiança de investidores perdida devido à “política econômica errática”, à prática da “contabilidade criativa” e à “postura relapsa” no combate à inflação.
Confira o trecho da reportagem disponibilizado na versão online de Época:
Repercussão
Vista como grande acontecimento da semana no mundo político, a formação da nova equipe econômica de Dilma para o segundo mandato domina as capas das revistas neste fim de semana, cada qual à sua maneira. A IstoÉ, por exemplo, mostra “a face tucana do PT” para ilustrar a visão de que Dilma, ao optar por um ministro da Fazenda de perfil ortodoxo e liberal, alinha-se às práticas de política econômica atribuídas ao PSDB de Fernando Henrique Cardoso e Armínio Fraga, presidente do Banco de Central na gestão do ex-presidente tucano.
“Se os símbolos dos partidos políticos retratassem as posições das legendas e dos seus principais representantes, a estrela do PT no segundo mandato de Dilma Rousseff poderia ganhar um bico tucano, símbolo maior do PSDB. Mesmo sob os protestos do seu partido e de aliados fisiológicos, Dilma dá aos primeiros contornos do seu próximo governo uma aparência semelhante ao que seus opositores defenderam durante a eleição. […] Ao reconhecer que algumas das propostas defendidas pelo adversário Aécio Neves (PSDB) durante a campanha eram mesmo vitais para a correção de rota, ficou difícil para Dilma fugir de uma composição ministerial com jeito de oposição e se livrar da acusação de ter cometido estelionato eleitoral”, diz trecho da reportagem (leia a íntegra aqui).
Já a revista Veja, que também estampa a foto de Levy em sua capa (“Caiu a ficha!”), lembra em sua chamada que Levy “é especialista em gastos públicos, cujo descontrole é a raiz dos males que impedem o crescimento do Brasil”. Para a publicação, foi “sábia” a escolha de Dilma para o chamado tripé econômico, que inclui Nelson Barbosa para o comando do Planejamento e Alexandre Tombini mantido na presidência do Banco Central – composição que agradou o mercado financeiro a ponto de elevar, com o mero anúncio da nova equipe, na semana passada, o índice Ibovespa e as ações da Petrobras.
“[…] escolha de Joaquim Levy para o comando do Ministério da Fazenda traz a perspectiva de uma mudança radical na política econômica, com a previsão de um desejado controle nos gastos e a volta do combate à inflação. É um passo na direção certa. Resta saber como Dilma Rousseff conviverá com ideias diferentes das suas”, observa a revista, em matéria intitulada “Uma nova chance para a economia”.
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