Reportagem – é o aprofundamento de uma notícia ou o mergulho em um fato importante, mesmo que não seja recente, em busca de revelações exclusivas. A reportagem, na acepção aqui utilizada, está no universo do “jornalismo investigativo”, que remete ao esforço para tornar públicos fatos relevantes que autoridades ou pessoas poderosas gostariam de manter ocultos. Uma boa reportagem requer pesquisas intensas, entrevistas com grande diversidade de fontes, reiteradas checagens e cuidado especial na apresentação do conteúdo final, que pode trazer complementos como vídeos, infográficos, mapas e painéis de visualização de dados. Também deve trazer – ou, no mínimo, tentar obter – as explicações de quem pode ter sua imagem arranhada pela sua publicação.
Para Joaquim Barbosa, Roberto Jefferson beneficiou-se do esquema que ele mesmo denunciou
Ao analisar o terceiro partido envolvido com a compra de votos de parlamentares no Congresso para consolidar a base do governo, o PTB, o ministro relator do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, considerou que o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do mensalão, praticou o crime de corrupção passiva ao receber dinheiro do PT. Assim, Jefferson também se beneficiou, na avaliação do ministro do STF, do esquema montado durante o primeiro governo Lula, que ele denunciou. O ex-vice-líder do partido Roméu Queiroz e ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri também foram condenados por Joaquim pelo mesmo crime.
Jefferson delatou o esquema em 2005 e, no mesmo ano, teve seu mandato cassado pela Câmara. Ele é acusado de ter recebido R$ 4 milhões de empresas de Marcos Valério em troca de apoio do PTB, do qual ainda é presidente, ao governo. O valor fazia parte de um acerto de R$ 20 milhões feito com o PT para as eleições de 2004. No entanto, a defesa nega que o PTB vendeu seu apoio e elega que não havia nada de irregular no acordo firmado entre o PTB e o PT.
Segundo o relator, os primeiros pagamentos feitos ao PTB foram recebidos por José Carlos Martinez, ex-presidente da sigla, morto em 2003. Ele foi substituído por Roberto Jefferson que passou a receber os repasses. “Ora, pagamento nesse montante, em espécie, para um presidente de partido político, com poder de influenciar sua bancada, equivale sem dúvida à prática corrupta”, assinalou o relator
Porém, para Joaquim Barbosa, ainda que Roberto Jefferson não tenha aderido à prática criminosa, como alega, o crime estaria caracterizado pelo fato de que o ex-deputado recebeu recursos do PT e os distribuiu para pessoas sobre as quais quis revelar a identidade. “Jefferson sabia da existência do que chamou de mesada. Mais do que isso, sabia que Martinez vinha recebendo recursos em espécie neste mesmo esquema operacionalizado por Delúbio [ex-tesoureiro do PT] e Valério [publicitário acusado de ser o operador do esquema]”, disse Barbosa.
“As provas deixam claro que os pagamentos foram feitos a partir de abril de 2003 até julho de 2004, em dinheiro vivo pelo núcleo publicitário em conluio com o grupo político.[…] Jefferson tinha consciência de que os pagamentos eram feitos para consolidar a base do governo no Congresso”, disse Joaquim, para quem Jefferson sabia dos repasses e tinha informações para saber que eles partiam do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. “Pode-se concluir, portanto, que os recursos não eram destinadaos a pagar despesas de campanhas”.
O ministro destacou que o repasse dos R$ 4 milhões foi feito no gabinete do PTB, em Brasília. No entanto, não há recibo que comprove o pagamento, que Emerson Palmieri admitiu ter recebido em 2004. Segundo o relator, as provas demonstram que ele auxiliou os parlamentares do partido, “participando, portanto, do crime de corrupção passiva”.
No caso do ex-deputado Roméu Queiroz, Joaquim considerou que ele vendeu seu apoio na Câmara dos Deputados em troca dos recursos que o PT oferecia aos aliados. O ministro afirmou que Queiroz se encontrou com o publicitário Marcos Valério, responsável por executar os repasses, poucos dias antes de ele receber R$ 50 mil. Para o ministro, ficou claro que o réu solicitou e recebeu o dinheiro em espécie.
O ministro citou depoimento de Roberto Jefferson em que contou que o PT chegou a negociar, em 2004, o pagamento de R$ 20 milhões ao PTB e o fato teria sido anunciado aos parlamentares da sigla. Para Barbosa, isso “evidencia que os repasses e promessas de pagamentos exerceram forte influência dos deputados do PTB nas votações [no Congresso], tendo em vista a importância das somas envolvidas em troca de apoio político”.
Em depoimento prestado e citado por Barbosa, Jefferson afirmou: “O PT inaugurou na legislatura passada [primeiro governo Lula] a prática mais viciada de política que há. Nós sempre soubemos que há em algumas assembleias e câmaras municipais, mas na Câmara dos Deputados, foi a primeira vez que eu vi”.
No início da sessão de hoje, o relator votou pela condenação, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), do ex-tesoureiro do PL (atual PR) Jacinto Lamas. O ministro absolveu Antônio Lamas, ex-assessor da liderança do PL na Câmara por falta de provas. Nesta quinta-feira (20), o ministro retomará o seu voto pela análise do crime de lavagem de dinheiro cometido pelos três réus. Joaquim analisa o item seis da denúncia do mensalão, que trata da compra de apoio político. Na segunda-feira (17), o ministro analisou a relação do PP com o esquema.
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