A influenciadora e neta do lendário Carlos Gracie, Jenifer Gracie, que faz parte do idolatrado clã de lutadores de jiu-jitsu, aparece no Portal da Transparência como beneficiária do auxílio emergencial. A jovem, que mora nos Estados Unidos, aparece como beneficiária de R$ 3.900, valor dividido em cinco parcelas de R$ 600 e outras três, de R$ 300. Jenifer, porém acusa o próprio pai, o lutador aposentado Carlion Gracie, de ter usado os documentos dela para se inscrever no programa e receber de forma fraudulenta o benefício social criado para auxiliar as pessoas em vulnerabilidade durante a pandemia do novo coronavírus.
“Estou na Justiça contra o meu pai, ele está com os meus documentos e foi ele que pegou o benefício no meu nome”, contou Jenifer ao Congresso em Foco. Ela disse que registrou ocorrência na delegacia de Teresópolis (RJ) para reaver seus documentos pessoais que estariam com Carlion Gracie. “Em julho vou estar no Brasil, infelizmente vou ter que comparecer a uma audiência contra ele. Por ter pego o auxílio do governo no meu nome, sem a minha autorização e outros motivos.”
Leia também
Jenifer afirma que o pai pegou seus documentos pessoais, além da documentação de sua mãe, falecida em 2016, com sua madrinha. Segundo ela, de posse dos papeis, Carlion fez o cadastro no auxílio emergencial utilizando o seu nome.
“Ele me contou depois que pegou (o auxílio), e eu na hora fiquei preocupada e falei ‘pai, não faça isso, vai dar problema para mim’. Mas não pude fazer nada, porque eu estava no Estados Unidos. Quando cheguei ao Brasil, fui ao banco e cancelei a conta e o benefício”, explica Jenifer. No Portal da Transparência, porém, o beneficio não aparece como bloqueado ou cancelado.
A conta da Caixa Econômica Federal, usada para receber as parcelas do benefício, teria sido aberta por Jenifer exclusivamente para ajudar o pai. “O nome dele estava sujo”, explica a jovem.
Como mostrou o Congresso em Foco na semana passada, nove integrantes da família que introduziu o jiu jitsu no Brasil receberam auxílio emergencial, mesmo divergindo do perfil dos beneficiários do programa temporário. Quase todos os integrantes do clã apoiam publicamente o presidente Jair Bolsonaro.
PublicidadeNo Portal da Transparência, do governo, Carlion Gracie aparece como tendo recebido duas parcelas do benefício, em março e abril de 2020, no total de R$ 1200. O pagamento teria sido suspenso em seguida. A partir de maio, Jenifer passa a constar no mesmo portal como beneficiária do programa social. Teria recebido, até dezembro de 2020, o total de R$ 3.900 que, segundo ela, teriam ido para o bolso do pai.
Carlion Gracie preferiu atacar a filha a explicar sobre a suposta fraude no recebimento do auxílio emergencial. Ele atribuiu as declarações de Jenifer a uma disputa judicial travada entre eles pelo espólio da mãe da influencer.
“Primeiro, minha filha Jenifer está se vingando por eu ter descoberto que ela estava me enganando em um inventário fraudulento, que eu descobri que ela estava me ocultando, como se eu não tivesse direitos nos bens deixado pela minha esposa falecida”, declarou o lutador aposentado em mensagem pelo Whatsapp ao Congresso em Foco. “Sem contar que quando descobri, em vez de vir se explicar porque fez isso, ela começou a me intimidar e me ameaçar com mentiras e calúnias, e sobre esse tal auxílio que ela me acusa.”
Ao ser confrontado com as informações do Portal da Transparência, no qual aparece como beneficiário do auxílio emergencial, o ex-lutador bloqueou a comunicação com a reportagem. O espaço continua aberto caso Carlion Gracie queira se manifestar.
“Ele tem que devolver. Se a justiça achar que eu tenho que devolver, eu vou”, finaliza Jenifer Gracie.
Ministério não diz se investigará
O Congresso em Foco procurou o Ministério da Cidadania, pasta responsável pelo auxílio emergencial, para perguntar sobre quais providências o órgão tomaria diante dos supostos recebimentos indevidos dos benefícios sociais por alguns membros da família Gracie.
Em nota, a assessoria de imprensa do Ministério declarou que “foi instituída a Estratégia Integrada de Atuação contra as Fraudes ao Auxílio Emergencial (EIAFAE), que conta com a Polícia Federal, o Ministério da Cidadania, a Caixa Econômica, o Ministério Público Federal (MPF), a Receita Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União TCU). O ministério é responsável por receber e tratar denúncias e repassar as informações para a ação dos demais órgãos no combate aos crimes relacionados aos pagamentos do benefício.”
Ao ser questionado sobre exatamente quais procedimentos seriam adotados para identificar se houve fraudes nos casos específicos, e se alguma investigação teria sido iniciada a respeito, a assessoria da pasta não mais respondeu à reportagem. O espaço continua aberto para o Ministério da Cidadania se manifestar.
Deixe um comentário