Morreu neste sábado o jornalista Rubem Azevedo Lima, aos 94 anos, um dos grandes ícones da história do jornalismo brasileiro. Ele estava internado no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, com problemas pulmonares e cardíacos. O corpo será velado no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, a partir das 14h deste domingo (21).
“Nenhum jornalista acompanha as atividades do Congresso Nacional há mais tempo do que Rubem”, dizia em 22 de junho de 2005 a introdução da antológica entrevista que o jornalista, aos 83 anos, concedeu ao Congresso em Foco. Ao preparar o leitor para as palavras de Rubem, o então repórter Edson Sardinha, hoje editor-executivo do site, de saída revelou uma faceta do mestre em tempos de jornalismo digital.
Leia também
“Prestes a completar 60 anos de carreira, é um usuário freqüente da internet. É no computador que lê diariamente os principais jornais do mundo, logo após acordar, sempre às seis da manhã. Em busca de informações para a coluna de opinião que assina toda segunda-feira no jornal Correio Braziliense, é mais assíduo no Senado e na Câmara do que a grande maioria dos parlamentares”, diz o texto, no qual Rubem lamentou o declínio de qualidade do Congresso.
Leia a íntegra da entrevista com Rubens Azevedo: “A decadência do Parlamento”
O jornalista, viúvo de Therezinha Luzia de Jesus Outeiro Azevedo, deixa três filhos (Rodrigo, Ricardo e Maria Teresa), seis netos e três bisnetos. Em sua longa e produtiva trajetória, conviveu com importantes personalidades brasileiras e presenciou momentos históricos como o governo Getúlio Vargas, a ditadura militar, a Assembleia Nacional Constituinte, a mudança da capital federal do Rio de Janeiro, onde começou a carreira jornalística no célebre jornal Correio da Manhã.
PublicidadeCom sua passagem, Rubem segue agora o roteiro de ilustres personagens com quem conviveu como profissional, uma turma que reúne nomes como Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, Tancredo Neves, Jorge Amado.
Longa trajetória
Com formação técnica forjada no dia-a-dia, Rubem teve sua veia humanística cultivada dentro de casa e na Faculdade Nacional de Direito (UFRJ). Filho do deputado Azevedo Lima, eleito nos anos 1920 pelo bloco Operário Camponês, Rubem viu ainda pequeno o pai partir para o exílio em Portugal, durante o Estado Novo.
O jornalismo apareceu por acaso na vida desse carioca de São Cristóvão nascido em 2 de junho de 1923. Depois de ingressar, por concurso público, na Imprensa Nacional, em 1946, Azevedo Lima, como também era chamado, foi seduzido pela oferta do Diário Trabalhista, jornal de pequena projeção. O reconhecimento viria mesmo no Correio da Manhã, onde ficou até 1974, quando o jornal da lendária Niomar Moniz Sodré Bittencourt foi fechado pela ditadura.
Passou também pelos jornais Tribuna da Imprensa e Folha de S.Paulo, onde permaneceu até a aposentadoria em 1986. No jornal paulista, conquistou, um ano antes, o prêmio Esso na categoria Informação Política, com a reportagem “Radiografia do Serviço Secreto”. Recusou-se a parar e continuou a exercitar suas paixões nas páginas do Jornal de Brasília e do Correio Braziliense, como colunista.
Foi em 29 de outubro de 2013 que recebeu uma das últimas homenagens. Naquele dia, Rubem recebia a Medalha Ulysses Guimarães, concebida para condecorar figuras de destaque na consolidação de instituições da democracia. A solenidade se deu no plenário da Câmara que ele tão bem conhecia, por ocasião dos 25 anos da Constituição de 1988.
“A Assembleia Constituinte fez uma obra prima. O Brasil vivia uma ditadura, uma das mais duras. A Câmara e o Senado não tinham liberdade. Naquele momento, o país começou a abrir-se. A Assembleia Constituinte propiciou a reconstrução do país, em bases democráticas. Foi um momento histórico e valioso para o avanço do país”, disse Rubem na ocasião.
Voltando à entrevista de Rubem a Edson Sardinha, vale registrar uma declaração sob medida para nossos tempos de Operação Lava Jato e aguda crise política. O entrevistador quis saber se jornalismo tem que ser sempre de oposição. Ele assim respondeu: “Tem de ser sempre crítico. Você não pode acreditar na verdade absoluta de ninguém. Votei, por exemplo, no Fernando Henrique, em 1994, porque ele parecia, na ocasião, o melhor quadro. Ele traiu tudo o que fazia no Senado. Depois, votei no Lula, porque ele prometeu isso e aquilo. Traiu de novo. Não sei mais em quem o eleitor brasileiro pode acreditar”.
<< A propósito: jornalismo, política e o sonho de outro Brasil