Presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) prestou depoimento em ação penal em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e, nesta mesma segunda-feira (28), livrou-se de um inquérito que corre na corte, este sobre suspeita de boca de urna nas eleições de 2014 (leia mais abaixo). Depois da ida ao STF, a parlamentar petista, que é ré na Operação Lava Jato sob acusação de recebimento de propina, disse-se vítima de “perseguição” e classificou o processo como algo com “alto grau de politização”.
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“Pedi para que o Ministério Público mostre quais são as provas de que eu cometi corrupção passiva ou lavagem de dinheiro. Primeiro porque eu não tive contato com Paulo Roberto Costa [ex-diretor de Abastecimento da Petrobras], nunca tive ascendência na Petrobras, nunca facilitei ou dei condições ou me relacionei com fornecedores da Petrobras para beneficiá-los. Isso teria que estar caracterizado no processo para estarem me acusando como estão”, reclamou a senadora, que é ré no STF devido à acusação de que recebeu R$ 1 milhão em propina, no âmbito do esquema de corrupção instalado na estatal petrolífera e descoberto pela Polícia Federal.
PublicidadeNo início de 2015, o nome de Gleisi apareceu na relação de políticos com foro privilegiado suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Em setembro do ano passado, o STF aceitou a denúncia contra a senadora e o seu marido, o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo. Gleisi e os colegas Fernando Collor (PTC-AL) e Valdir Raupp (PMDB-RO) são os integrantes no Senado que responde a ação penal na Lava Jato. Diversos outros senadores, como Aécio Neves (PSDB-MG), Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Benedito de Lira (PP-AL), também são alvos de denúncia, mas os ministros ainda não analisaram pedidos da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O casal Gleisi e Paulo Bernardo é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, acusados de receber R$ 1 milhão desviados da Petrobras, para a campanha dela ao Senado, em 2010. O repasse, segundo o Ministério Público Federal, foi feito por empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef, um dos delatores originais do petrolão, para que o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa fosse mantido no cargo. O casal refuta a história, mas a PGR, autora da ação, aponta a irregularidade.
“O montante era oriundo do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro estabelecido na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, na época ocupada por Paulo Roberto Costa, o qual solicitava e recebia quantias ilícitas de empresas interessadas em celebrar irregularmente contratos com a estatal e em obter benefícios indevidos no âmbito das contratações”, diz o despacho de acusação.
Em novembro o Supremo abriu outro inquérito contra a senadora, conduzida em 2017 à liderança do PT. Em junho do ano passado, Paulo Bernardo chegou a ser preso pela Polícia Federal, acusado de envolvimento em irregularidades no Ministério do Planejamento, durante sua gestão. Ele foi solto por determinação do ministro Dias Toffoli, do STF, que julgou ter havido “constrangimento ilegal” na decisão decretada por Sérgio Moro.
Ao arquivo
Se ainda tem que se preocupar com a ação penal, Gleisi pode respirar aliviadamente em relação à denúncia por crime eleitoral. Também nesta segunda-feira (28), o ministro Celso de Mello determinou a devolução, à Justiça Eleitoral do Paraná, do caso que investiga a senadora por suspeita de boca de urna, algo proibido pela Justiça Eleitoral, nas eleições de 2014. Naquele pleito, Gleisi foi candidata ao governo do Paraná, mas não conseguiu se eleger e voltou ao cargo no Senado.
O caso subiu para o STF devido ao foro privilegiado que garante a Gleisi julgamento apenas na corte máxima – o processo teve origem em pedido da Promotoria de Justiça da comarca de Santa Fé, no Paraná, com o objetivo de investigar a ilicitude eleitoral no primeiro turno daquele pleito, em outubro de 2014. No despacho ao Supremo e ao Ministério Público Eleitoral, uma juíza de Santa Fé noticiou às autoridades o recebeu de uma mensagem de celular com propaganda da então candidata petista ao governo.
Mas ao se manifestar sobre a petição, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse não haver indícios suficientes da participação de Gleisi no caso, pedindo o arquivamento da ação iniciada na âmbito da Justiça Eleitoral. “O feito não deve transcorrer sob supervisão do Supremo Tribunal Federal, ante a inexistência de mínimos indícios de envolvimento da Senadora Gleisi Hoffman nos fatos em apuração”, disse Janot.