O ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Herton Araújo foi chamado a explicar, no Senado, denúncias de que houve ingerência política no órgão durante as eleições do ano passado. O convite, de autoria do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), foi aprovado, nesta terça-feira (18), pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle.
Caiado quer que Herton confirme o teor do depoimento que prestou à Justiça eleitoral em ação que pede a cassação da chapa encabeçada pela presidente Dilma Rousseff por abuso de poder econômico e político. O ex-diretor alega que foi orientado a adiar, para depois da campanha eleitoral, a divulgação de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que apontavam o crescimento da pobreza no Brasil. Segundo Herton, a pressão política o motivou a pedir para deixar a direção do Ipea.
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“O Ipea foi censurado pela campanha de reeleição da presidente como parte do imenso estelionato eleitoral que escondeu a real situação do país e ajudou a quebrar ainda mais a nossa economia. Os envolvidos terão que responder”, afirmou Caiado ao justificar o convite ao ex-diretor.
Por se tratar de um convite, e não de uma convocação, Herton Araújo não está obrigado a comparecer. A data da audiência, que ainda não foi marcada, será definida conforme a agenda do convidado.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, em depoimento prestado em maio deste ano, o ex-diretor afirmou que a nova Pnad mostrava que a ”pobreza tinha aumentado de 3, alguma coisa para 4, alguma coisa”. “Aí eu recebi a notícia de que eu não podia falar com a imprensa por causa da lei eleitoral”, contou à Justiça eleitoral.
O Ipea é vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Ele disse ter recebido, em seguida, e-mail de outro diretor do órgão com o seguinte teor: “‘É, Herton, acho que nesse período de eleição’, ele até brincou assim, ‘o que é terra vira mar e o que é mar vira terra. Eu estou com um monte de produto aqui que eu estou querendo divulgar e foi pedido para a gente divulgar só depois das eleições'”.
O ex-presidente do Ipea Serguei Soares argumenta que a decisão de não divulgar o estudo foi tomada pela diretoria colegiada, por unanimidade, antes de o instituto ter acesso aos dados. Segundo ele, apenas trabalhos com periodicidade regular foram publicados. “Herton jamais [pode] dizer que foi para beneficiar quem quer que seja”, declarou à Folha.
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