Fábio Góis
Em épocas
de deslizamentos de encostas devido a chuvas e falta de infraestrutura,
entidades como o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) foram à Esplanada
dos Ministérios, em Brasília, protestar contra a construção da Usina Belo Monte,
no Pará, cujo empreendimento atingirá populações indígenas e ribeirinhas. Hoje
(segunda, 12), mais de mil integrantes de movimentos sociais como o próprio MAB
e lideranças do Parque Indígena do Xingu percorreram a avenida ministerial com
panfletos e bandeiras contra o projeto. O ato teve participação
hollywoodiana: o diretor James Cameron e a atriz Sigourney Weaver, do
blockbuster Avatar, reforçaram o
protesto.
Cameron afirmou que vai levar o assunto aos congressistas
norte-americano, uma vez que, em sua visão,trata-se de interesse internacional.
“Está tudo conectado, estamos todos no mesmo planeta. Os ventos, as correntes
marítimas e a atmosfera não respeitam as fronteiras dos países”, declarou o
diretor, segundo a Agência Brasil.
Cameron lembrou que
reservatórios de hidrelétricas alagam a vegetação nativa e produzem gás
tóxico metano, principal causador do efeito estufa. O diretor disse ainda
que estuda a hipótese de fazer um filme sobre a Amazônia, uma vez que está
“muito envolvido” com o tema.
“Existe uma oportunidade de fazer um
documentário na Amazônia e dividir as suas palavras com o Brasil e com o resto
do mundo”, acrescentou.
Natureza S.A.
“Água e energia não são mercadorias!”, protestaram os manifestantes vindos de
municípios como Altamira, onde estão as instalações da usina. Ao chegar ao
Ministério de Minas e Energia, o grupo exigiu o cancelamento da licença prévia
já concedida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), bem como o leilão marcado para 20 de abril.
“Entendemos que a hidrelétrica veio para acabar com a Amazônia e privatizar a
água e a energia no país. Ela vem atender apenas as grandes empresas
interessadas na construção e no consumo da energia que será produzida”, disse
uma integrante da coordenação do MAB, Daiane Huhn. Ela diz que o alvo do
protesto são justamente os interesses comerciais de grandes empresas na
região.
De acordo com os representantes da mobilização, não houve diálogo do governo
federal com os grupos indígenas e populações ribeirinhas, diretamente afetados
com a construção da usina. Nada foi oficialmente definido como reposta aos
eventuais transtornos causados pelas obras no local (como futuras indenizações
ou realocação de comunidades), reclamam os manifestantes, que colheram
assinaturas de adesão ao movimento e entregaram-no à assessoria do Ministério de
Minas e Energia.
Pré-candidata do Partido Verde à Presidência da República, a senadora Marina
Silva (AC) declarou que o projeto deveria ser adiado, exatamente para que o
assunto fosse mais discutido com as populações envolvidas. “Antes que a gente
tenha algum prejuízo social ou econômico, que a gente faça o adiamento do leilão
para poder analisar, com acuidade, todas as questões colocadas”, disse Marina,
ex-ministra do Meio Ambiente, após participar de debate sobre emissão de gases
em São Paulo.
O leilão da usina hidrelétrica, que está situada no Rio Xingu, envolve
números caudalosos. Os investimentos globais estão orçados em quase R$ 20
bilhões, com preço-limite estimado em R$ 83 por megawatt-hora. Consórcios e
corporações que apresentarem a menor tarifa operacional levam o leilão.
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