Na mira da Operação Lava Jato, o presidente Michel Temer não mencionou o tema da corrupção no tradicional pronunciamento de fim de ano em cadeia nacional de rádio e TV. Na gravação, em que o peemedebista aparece com o Palácio da Alvorada ao fundo, nenhuma palavra sobre o fato de que não só ele, mas diversos de seus correligionários com papel central em sua gestão são acusados por executivos da Odebrecht, empreiteira-pivô do petrolão, de terem recebido dinheiro desviado de contratos fraudulentos com a Petrobras – o que Temer e seus pares sempre negaram. O presidente preferiu mencionar o que classificou como conquistas de seu governo, como a aprovação do teto de gastos públicos por 20 anos e a inflação dentro da meta, e disse que o Natal de 2017 será melhor do que o deste ano.
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“Nesses poucos meses do nosso governo, muito já foi feito. Com os esforços que fizemos, a inflação caiu e voltou a ficar dentro da meta, o que vai colocar um freio na carestia que você sente no supermercado”, discursou o presidente nacional licenciado do PMDB, definitivamente no comando do país há quase quatro meses.
Veja a íntegra do pronunciamento no vídeo:
Temer preferiu centrar sua fala nas questões da economia e nas aprovações que sua base aliada assegurou no Congresso, mas também não citou estimativas negativas feitas pelo Banco Central para o próximo ano – redução de 1,3% para 0,8% na expectativa de crescimento econômico em 2017, segundo projeção do Relatório Trimestral de Inflação divulgado na última quinta-feira (22).
PublicidadeMesmo assim, segundo Temer, “2017 será o ano em que derrotaremos a crise”. “Os juros estão caindo e cairão ainda mais. Os empresários voltarão a investir e vamos recuperar os empregos perdidos”, disse o cacique peemedebista.
Alem de mencionar a melhoria do índice inflacionário, Temer elogiou a relação com o Congresso e fez menção à emenda constitucional do limite de gastos – disse que ampliou o dinheiro da saúde, mas omitiu que, nos próximos anos, haverá redução de gastos no setor, tendo como base o que era estimado no orçamento antes da promulgação da lei, em 15 de dezembro. “Aprovamos a lei que bota ordem nos gastos públicos pelos próximos 20 anos. E a lei que moraliza e dá transparência à administração das estatais. Estamos começando a reforma da Previdência, para que sua sagrada aposentadoria esteja garantida agora e no futuro. […] Ampliamos em mais de 8 bilhões de reais o orçamento da saúde, área para qual não pouparei recursos”, acrescentou Temer.
Em cerca de três minutos e 30 segundos de pronunciamento, Temer disse ainda que o desemprego cairá nos próximos meses, assim como os juros. Na menção à Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, o presidente trata do recuo de 14,25% para 13,75% no percentual fixado pelo Banco Central nos últimos meses. No entanto, o presidente não disse que os juros do rotativo do cartão de crédito, bem como os do cheque especial, bateram recorde no mês passado. Recentemente, o governo anunciou plano de redução pela metade das taxas de juros do rotativo, algo que depende de regulamentação do Conselho Monetário Nacional.
No final do discurso, Temer homenageou Dom Evaristo Arns, líder progressista da Igreja Católica morto em 14 de dezembro. O presidente não compareceu ao velório ou ao enterro do ícone religioso. “Quero encerrar essa minha mensagem prestando homenagem a um grande brasileiro que nos deixou recentemente: o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. A esperança foi seu lema, a coragem sua marca. Coragem e sentimento de esperança não me faltarão”, prometeu.
Temer ainda não divulgou sua agenda para os próximos dias, mas passará os últimos dias do ano em Brasília. Em seguida, o presidente festejará o Réveillon com a primeira-dama, Marcela Temer, e o filho de dois anos do casal, conhecido como Michelzinho, na Restinga de Marambaia, litoral do Rio de Janeiro. No local está instalado o Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (Cadim), base da Marinha construída ao sul da Baía de Sepetiba.
Leia a íntegra do pronunciamento:
“Boa noite!
Nesta noite de Natal, dirijo-me a você e a todo povo brasileiro para transmitir mensagem de renovada esperança.
O ano que está terminando trouxe imensos desafios.
Assumi definitivamente a Presidência da República há pouco mais de cem dias.
Tenho trabalhado dia e noite para fazer as reformas necessárias para que o país saia dessa crise e volte a crescer.
O Brasil tem pressa. E eu também.
Nesses poucos meses do nosso governo, muito já foi feito. Com os esforços que fizemos, a inflação caiu e voltou a ficar dentro da meta, o que vai colocar um freio na carestia que você sente no supermercado.
Aprovamos a lei que bota ordem nos gastos públicos pelos próximos 20 anos. E a lei que moraliza e dá transparência à administração das estatais.
Estamos começando a reforma da Previdência, para que sua sagrada aposentadoria esteja garantida agora e no futuro.
Aprovamos, na Câmara, a reforma do Ensino Médio, que estava parada havia anos.
Ampliamos em mais de 8 bilhões de reais o orçamento da saúde, área para qual não pouparei recursos.
Mudamos a Constituição para mudar o Brasil.
Tudo isso, volto a lembrar, em poucos meses.
Tenho a perfeita consciência dos problemas do país e da missão que me foi dada.
Os brasileiros pagam muitos impostos e pouco recebem em troca. Meu desafio é desburocratizar o Estado e melhorar a qualidade da administração pública. É o que eu chamo de democracia da eficiência.
2017 será o ano que derrotaremos a crise. Os juros estão caindo e cairão ainda mais. Os empresários voltarão a investir e vamos recuperar os empregos perdidos.
Precisamos crescer. Trabalhamos para voltar a crescer. Vamos crescer! Desta vez, um crescimento sustentável e responsável.
Estamos mudando as estruturas do nosso país. É um desafio complexo e árduo, mas indispensável a ser vencido a todos nós.
Que nos deixemos, portanto, guiar pelas virtudes da temperança e da solidariedade. E pelo entendimento de que na humildade do diálogo e na coragem da ação construiremos juntos o caminho para fazer o futuro.
A verdade virá. O Brasil, repito, está no caminho certo. O próximo Natal será bem melhor que este.
Quero encerrar essa minha mensagem prestando homenagem a um grande brasileiro que nos deixou recentemente: o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. A esperança foi seu lema, a coragem sua marca.
Coragem e sentimento de esperança não me faltarão.
Chegaremos em 2018 preparados e fortes para avançar ainda mais.
Peço a você que acredite no Brasil.
Desejo um Feliz Natal.
Que seu gesto de amizade e de fraternidade nesta noite se estenda por todo o Ano Novo.
Vamos juntos reconstruir o nosso país.
Muito obrigado a todos. Boa noite, Brasil!”