Bezerra Couto
É CPI demais para tão pouco governo. Agora, serão três. Mal começou a dos Correios, lambuzando de lama o PT e o governo, entrarão em cena a dos Bingos, ressuscitada pelo Supremo, e a do Mensalão. Lula agüentará?
Os podres da república revelam-se aos poucos. Os acusadores, tão suspeitos quanto os acusados, lançam chamas que podem atear fogo às suas próprias gravatas lilases. Como se dissessem: erramos, mas Beltrano e Fulano fizeram pior ainda.
De todos os males, o melhor que o tragicômico momento político atual nos traz é o farto fornecimento de material humorístico.
Zé Dirceu na planície, voltando à Câmara com claque organizada para aplaudi-lo, repete pela milésima vez: “Este govêêrrrno não rouba nem deixa roubar”. Maravilha, não? E aí pinta Bolsonaro, o marketing a serviço da direita nervosa. Um saco de lixo para simbolizar o mensalão, que o deputado rebatiza como “Lullão”.
Calma lá! Epa! Estão trocando empurrões no plenário. A Perpétua empurrou o Bolsonaro, eu vi. Caramba, quem está batendo no Carlito? Daqui não dá pra ver direito. Sai da frente, mermão! Olha, parece que é o João Fontes…
Severino se atrapalha na votação do salário mínimo. Os deputados que não trocam socos estão tão perdidos que aprovam inadvertidamente o aumento do mínimo para mais de R$ 500. Agora, consertaram. O mínimo, menos de uma hora depois, volta a valer R$ 300.
Alguém do governo diz que é bom ter uma CPI só para investigar o mensalão. Ahn? O escândalo que não mereceu até agora nenhuma explicação minimamente satisfatória do governo e do PT? Serão kamikazes?
Roberto Jefferson, o denunciante mais talentoso, não é tratado apenas como réu e testemunha. Virou celebridade. Entre uma ópera e outra, dá autógrafos e é entrevistado sobre reforma política! Sem dúvida, aí está um especialista qualificado para apontar o caminho a seguir no rumo da moralização dos costumes políticos.
Aquilo que mestre Millôr chamou de mensalama tem muitos personagens. Um deles, Mabel, mesmo com o nome de biscoito, dá um depoimento indigesto. É desmascarado pela conterrânea, a também deputada Raquel.
Há ainda dois Pedros, um Henry e outro Corrêa, ambos sumidos. E Valdemar, o mulherengo. E Bispo Rodrigues, também desaparecido. Sem esquecer Janene e seu fiel escudeiro, João Mercedão.
João Mercedão, mensalão… É uma crise superlativa no significante e no significado, embora pobre nas rimas. Como sacou o deputado Bolsonaro com seu Lullão, ela recoloca a letra “ele” na crista da onda. L que está em Dilma, Lula, mensalão, lama e em outros dois fantasmas que voltam a assombrar: Waldomiro e loterias. Seria o caso de lembrar o ele de limpeza?
Nesse teatro de horrores, coube ao MST, à CUT e a outras entidades o ridículo papel de empreender uma cruzada contra as tentativas de desestabilizar o governo! Ué, e contra a corrupção vão cruzar o quê? O cheque?
E, finalmente, Severino, esse retrato perfeito do que é hoje a Câmara. Presidindo a tumultuada sessão de ontem (quarta, 22.05), ele sapecou: “Aqui todos são pessoas de corações bons (sic)”.
Acho que também sou. Talvez por isso, fico com a sensação de que levamos a pior nessa história. Rimos, mas pagamos caro à beça pra assistir ao espetáculo. Será que rimos tanto deles quanto eles riem da gente?
Deixe um comentário