O novo prefeito de Betim (MG), Vittorio Medioli (PHS), abriu mão do salário de R$ 21 mil, entre janeiro e dezembro deste ano, devido à grave crise financeira enfrentada pelo município. Dono do maior patrimônio declarado entre os mais de 5,5 mil prefeitos, Medioli deixará de receber R$ 273 mil ao longo do ano, incluindo o décimo-terceiro salário. Brasileiro naturalizado, o empresário italiano informou à Justiça eleitoral, em 2016, possuir uma fortuna de R$ 352,5 milhões.
Vittorio Medioli decretou estado de emergência financeira e administrativa no município, que tem 417 mil habitantes e faz parte da região metropolitana de Belo Horizonte. A prefeitura não tem recursos para a folha de pagamento de dezembro dos servidores municipais. “O pessoal está fazendo as contas para ver o que vai entrar nos próximos dias. Ainda não temos previsão”, declarou.
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O valor da dívida pública da cidade é de R$ 900 milhões, quase a mesma receita líquida do município. Apenas com os fornecedores da saúde, os débitos somam R$ 74 milhões, segundo a prefeitura. O antecessor de Medioli, Carlaile Pedrosa (PSDB), já havia decretado estado de calamidade financeira em março do ano passado.
O novo prefeito determinou a suspensão do pagamento dos restos a pagar não inscritos na Lei Orçamentária, da realização de horas-extras, da criação de cargos e de novas contratações ou investimentos. As medidas emergenciais valem por 180 dias, prazo que pode ser prorrogado.
PublicidadeFortuna e aliança
No Brasil desde 1976, o italiano naturalizado brasileiro foi deputado federal pelo PSDB entre 1991 e 2006. Para se eleger prefeito, Medioli declarou à Justiça eleitoral ter gastado R$ 4,48 milhões do próprio bolso. Isso representa 99,94% do total declarado por ele. Companheiro de partido do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), ele chegou ao comando de Betim com o apoio de 16 legendas, do PSDB ao PCdoB.
Se o município enfrenta grave financeira, o mesmo não se pode dizer do novo prefeito. Ele é dono de jornais como o Tempo, o Supernotícias (que tem a terceira maior tiragem do país, segundo o Instituto Verificador da Circulação), e o Pampulha.
Um dos polos da indústria automobilística no Brasil, Betim abriga há 40 anos uma montadora da Fiat. Vittorio Medioli tem exclusividade no transporte dos carros da fábrica em todo o território nacional. Exclusividade que se mantém em relação à nova planta da gigante italiana, em Pernambuco. Segundo reportagem de agosto do ano passado do Valor Econômico, o grupo Sada, de Medioli, faturou R$ 3 bilhões em 2015, por meio de suas 47 empresas. Bem mais que o orçamento destinado a Betim, em 2016, que foi de R$ 1,8 bilhão.
Em 2015, uma juíza federal condenou Medioli a cinco anos e cinco meses de prisão por evasão de divisas de US$ 595 mil em quatro operações em 2002 por meio de um doleiro via Banestado. O empresário recorre da sentença e afirma que fez uma correção na declaração do Imposto de Renda e incluiu as operações. Como a decisão não foi colegiada, ele não esteve sujeito a questionamentos com base na Lei da Ficha Limpa.
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