Em depoimento à Justiça eleitoral, o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff sabia que os pagamentos pelos serviços prestados por eles à sua campanha à reeleição, em 2014, eram, em parte, feitos por meio de caixa dois em contas no exterior. O casal, que fez as três últimas campanhas presidenciais para o PT, reiterou o que havia dito na semana passada ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, e complicou a situação de Dilma no processo que pede a cassação da chapa que a elegeu juntamento com o atual presidente Michel Temer (PMDB). E também a do próprio peemedebista, seu ex-vice.
As novas declarações foram prestadas, em Salvador, pelo processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na avaliação de ministros do tribunal, se ficar comprovado que a então candidata sabia das irregularidades, ela deverá ser punida com a inelegibilidade. Se for constatado que ela não tinha conhecimento, a pena poderá ser mais branda para a petista: apenas a cassação da chapa. Em ambos os casos, porém, está em jogo o mandato do presidente Michel Temer. O peemedebista insiste na tese de que suas contas eram separadas da prestação de Dilma e de que não houve ilícitos em sua arrecadação.
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No depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator do caso no TSE, os dois disseram que se encontraram duas vezes com Dilma para discutir pagamentos, em maio e no final de 2014. Segundo eles, em nenhum momento foi utilizada a expressão caixa dois. Mesmo assim, reiteraram, a presidente sabia que os recursos não seriam contabilizados na campanha daquele ano.
Mônica contou que Dilma perguntou se a conta que o casal mantinha no exterior, indicada para receber os pagamentos, era segura. De acordo com eles, a petista perguntou se a offshore que receberia os repasses estava fora do alcance da Lava Jato. Até aquele momento, o casal havia recebido somente a parte oficial dos pagamentos, que totalizava R$ 70 milhões. Outros R$ 35 milhões foram repassados por caixa dois em contas no exterior, apontam as investigações.
A ex-presidente Dilma reagiu às declarações do casal. Segundo ela, João Santana e Mônica Moura fizeram “afirmações desprovidas de qualquer fundamento ou prova”. Ela alega que os marqueteiros foram induzidos a incriminá-la para tentar atenuar suas penas na Justiça.
“Dilma Rousseff nunca negociou diretamente quaisquer pagamentos em suas campanhas eleitorais, e sempre determinou expressamente a seus coordenadores de campanha que a legislação eleitoral fosse rigorosamente cumprida respeitada”, afirma a nota divulgada pela assessoria da ex-presidente. A petista sustenta que não houve caixa dois, e somente o pagamento oficial de R$ 70 milhões declarado ao TSE em 2014. Valor que, segundo ela, fez deles “os profissionais de marketing mais bem pagos na história das eleições no Brasil”.
O julgamento da chapa Dilma e Temer foi iniciado em 4 de abril, mas interrompido logo em seguida, a pedido da defesa de Dilma, que pediu novos depoimentos, como o do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. A expectativa é que o julgamento seja retomado em maio.
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