Referindo-se ao resultado das urnas, a petista disse que “resultados apertados” por vezes representam, com mais fidelidade, mudanças mais “fortes e mais rápidas” do que aquelas promovidas por vitórias “muito amplas”. “Não acredito que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo que elas mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas no sentido da busca por um país melhor”, declarou a petista. “O calor das discussões pode e deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no Brasil.”
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Dilma disse ter recebido telefonema de saudação do senador tucano Aécio Neves, que recebeu 48,36% dos votos válidos, e reforçou a ideia de conciliação com os grupos opositores. Ela defendeu que, encerrada as eleições, as forças políticas e sociais devem encontrar “pontos em comum” e buscar uma “base de entendimento” para viabilizar o governo.
“Sei que estou reeleita para fazer as grandes mudanças que a sociedade brasileira exige. Naquilo que meu esforço, meu papel e meu poder alcançam, podem ter certeza: estou pronta para atender a essa convocação”, disse Dilma, lembrando das “limitações e do poder” que cada presidente tem para promover “avanços sociais”. “E eu o farei. A minha disposição mais profunda é liderar da forma mais pacífica e democrática este momento transformador.”
Reformas
Ao iniciar a referência à reforma política, Dilma foi interrompida mais uma vez, desta vez por aplausos e ovações seguidos de palavras de ordem como “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”. Depois de pedir a colaboração da claque e lembrar que estava com dificuldades na voz, afirmou:
“Vamos encontrar a força e a legitimidade para fazermos a reforma política. Meu compromisso é deflagrar essa reforma, que é responsabilidade constitucional do Congresso e deve mobilizar a sociedade em um plebiscito, por meio da vontade popular”, garantiu a presidenta, interrompida várias vezes.
“Não significa que eu não saiba a importância das demais respostas que temos, também, a responsabilidade de promover. Terei um compromisso rigoroso, também, com o combate à corrupção, fortalecendo as instituições e promovendo mudanças na legislação para acabar com a impunidade, que é a protetora da corrupção”, acrescentou.
A questão de sua política econômica, muito questionada nos debates de segundo turno, não ficou de fora. “Promoverei mudanças localizadas, por exemplo, na economia, para retomarmos o desenvolvimento, os níveis altos de emprego e a valorização dos salários. Vamos dar mais impulso à atividade econômica e a setores como o industrial. Seguirei firme no combate à inflação, buscando avanços no terreno da responsabilidade fiscal”, prometeu.
Chuva
Realizado por volta das 22h em um hotel de Brasília, o pronunciamento reuniu em um palanque, além de Lula e Temer, figuras como os presidentes nacionais do PT, Rui Falcão; do PCdoB, Renato Rabelo; e do PDT, Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho de Dilma. Também participaram do evento os senadores Wellington Dias (PT-PI), eleito em primeiro turno governador do Piauí, e Ciro Nogueira (PP-PI), que também é presidente nacional do PP, entre outros.
Ao chegar ao local, Dilma viu a militância petista entoar palavras de ordem como “É um, é três, é Dilma outra vez” e “quem não pula é tucano”, e foi interrompida diversas vezes em sua tentativa de saudação. A militância fez festa durante todo o discurso, em uma noite chuvosa na capital federal.
No começo da fala, ao tentar se referir ao presidente Lula, Dilma foi surpreendida pela gritaria e passou a fazer coro com a plateia, com menção recorrente desde a campanha do antecessor (“olé, olé, olé, olá, Lula, Lula”). Depois de iniciar o discurso sobre a “eleição histórica”, Dilma saudou o “militante número um das causas do Brasil, o presidente Lula”, no que ambos foram ovacionados.
“O Brasil saiu ainda maior dessa disputa, e eu sei da responsabilidade que pesa sobre meus ombros. Quero ser uma pessoa ainda melhor do que a que tenho me esforçado, ainda, por ser”, disse Dilma, com a plateia aos gritos de “Coração valente! Coração valente!” – um de seus motes de campanha. “Brasil, mais uma vez, esta filha tua não foge à luta. Viva o Brasil! Viva o povo brasileiro!”, finalizou Dilma, antes de cantar o hino nacional com a militância.