A intenção de Dilma é transmitir serenidade à base aliada e, ao mesmo tempo, reforçar a defesa do governo no Congresso, por meio dos próprios parlamentares. Segundo a versão online da Folha de S.Paulo, um dos aliados explicou que, “diante desse clima de impeachment”, auxiliares de Dilma a aconselharam a reunir a base para tratar do problema antes de seguir para a reunião de cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A petista embarca amanhã (terça, 7) e só retorna ao Brasil no fim de semana.
Nas últimas semanas, cresceram as críticas – inclusive de setores do PT – em relação à alegada falta de diálogo de Dilma com o Parlamento, e mesmo com sua própria base aliada. O ex-presidente Lula, que tem se mantido próximo ao Planalto, também passou a fazer reclamações públicas e privadas à gestão da sucessora – e foi além, quando a exortou, na semana passada, a ir às ruas “conversar com o povo”.
“Eu penso que ela [Dilma] tem que priorizar andar por esse país. Ela tem que botar o pé na estrada. Ao invés de ficar na televisão ou na internet ouvindo os que falam mal dela, ela tem que ir para a rua conversar com o povo, que está torcendo e querendo que ela governe esse país da melhor maneira possível”, disse o ex-presidente.
Ninho tucano
Ontem (domingo, 6), dia em que o PSDB reelegeu o senador Aécio Neves (MG) como presidente da legenda, o líder tucano na Câmara, Carlos Sampaio (SP), veiculou artigo na Folha por meio do qual defende a possibilidade de impeachment de Dilma. Para Sampaio, que foi reconduzido como vice-presidente jurídico na Executiva Nacional do PSDB, o Congresso deve iniciar um processo de cassação caso o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeite as contas do governo em decorrência das “pedaladas fiscais”. O deputado Roberto Freire (PE) diz concordar com o colega de oposição.
“Pode chegar o momento em que ele [impeachment] se torne quase como uma necessidade. Basta se instalar efetivamente um clima de ingovernabilidade. Pode acontecer de ninguém querer, mas ele se impor”, observou Freire, presidente nacional do PPS, para quem “o clima no país é de pós-Dilma”.
Na semana passada, as oposições no Congresso chegaram a discutir, novamente, a possibilidade de impeachment em um momento de agravamento da fragilidade do governo, com diversos integrantes mencionados nas investigações da Operação Lava Jato. Diante dos movimentos da oposição, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, contra-atacou. “É de um profundo despudor democrático e de um incontido revanchismo eleitoral falar em impeachment da presidente como têm falado alguns parlamentares da oposição”, declarou Cardozo, para quem “o desejo de golpe sob o manto da aparente legalidade é algo reprovável do ponto de vista jurídico e ético”.
Vice-presidente da República e responsável pela articulação política do governo, Michel Temer (PMDB) também saiu em defesa do governo. Negando crise e garantindo que continuaria na função de mediador do Planalto junto ao Congresso, Temer disse que Dilma se mantém “inteiramente tranquila” e reafirmou que a possibilidade de impedimento presidencial é “impensável”.
“Fizemos uma análise da conjuntura política e estamos todos muito tranquilos em relação às providências que o governo está tomando. Fizemos essa avaliação conjuntural para revelar que o governo continua tranquilo em relação ao que vem fazendo e ao muito que fará ainda pelo país. […] Um impedimento da presidenta da República poderia revelar uma crise institucional que é indesejável para o país, nisso há uma certa uniformidade dos partidos da base”, disse Temer, segundo registro da Agência Brasil.
Defesa
Interlocutora frequente de Dilma, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) não esperou a reunião para iniciar a defesa da presidenta e os ataques aos responsáveis pelo “golpe” de tirá-la do poder. Em discurso na tribuna do Plenário, Gleisi questionou os reais propósitos do PSDB em insistir na tese do impeachment, depois de enumerar uma série de supostos desmandos praticados na gestão tucana, com o presidente Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
“É legítima a crítica, é legítimo o debate. O que não é legítimo é o golpe, dizer que tem de afastar uma presidenta da República sem mostrar o motivo. Qual é o motivo? O motivo são as denúncias da Lava Jato? Quais são as denúncias efetivas que maculam a campanha da presidenta Dilma?”, quis saber Gleisi, lembrando que a vitória de Dilma sobre Aécio nas urnas foi “estreita, mas por efetiva margem”.
“Não é possível que tenha crescido, no último final de semana, tanto o desejo da oposição e de alguns setores da política brasileira de querer fazer o impeachment e o afastamento da presidenta Dilma. Qual é a razão para isso? Eu gostaria de saber, concretamente, qual é a razão, senão o puro interesse de fazer a discussão política”, completou a senadora, depois de discurso sobre temas como a situação da Grécia e avanços no setor produtivo registrados no programa Globo Rural (TV Globo).
Atento ao discurso da petista, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato a vice na chapa presidencial de Aécio, rebateu a versão de que seu partido promove um “golpe” para tirar Dilma do cargo. “Não há golpe coisa alguma. O que há, efetivamente, é o andamento de ações judiciais, de um exame do Tribunal de Contas. E, sobretudo, tendo como pano de fundo, não há queda de popularidade – é grave a queda de popularidade –, mas aquilo que está por trás da queda de popularidade, que é a mentira, a falsidade, o estelionato eleitoral praticado pela presidente Dilma, em uma das campanhas mais agressivas e mais mentirosas de que este país já teve notícia”, vociferou o tucano.
Na Câmara, o líder do governo, José Guimarães (CE), também já partiu para o contra-ataque à oposição. Em coletiva de imprensa, o deputado disse que, caso o PSDB ou outro partido de oposição queiram governar o país, que antes vençam eleições presidenciais. “Primeiro, eles precisam ser eleitos. Esse negócio de querer cargo sem ser eleito são os velhos atalhos autoritários”, provocou o petista, referindo-se às práticas da ditadura. “É um desserviço isso que o PSDB está fazendo. Eles, que quebraram o Brasil”, completou Guimarães, elencando registros negativos do governo tucano.
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