Fábio Flora*
Comigo é sempre a mesma coisa: volto das férias no dia e hora marcados, mas as férias não voltam de mim. Dão um jeito de negociar um nevoeiro com os cambistas da Fifa e não decolam nem por medida provisória. Aí fico eu naquele salão de embarque meio kafkiano, com ares e tapumes de Galeão, à espera do voo que enfim me devolva à realidade.
Mas a culpa não é só das estrelas (ou da falta delas). É minha também. Quem manda um sujeito com fraco por fadas e ficções viajar para um lugar como Orlando? Quem manda fazer amizade com piratas, princesas, ETs, dinossauros e ianques? Quem manda cheirar pó de pirlimpimpim traficado por meliantes feito a Sininho e os Meninos Perdidos?
Agora sério: não é fácil para um aficcionado (com dois cês mesmo) aterrissar no aeroporto dos fatos depois de uns dias na capital mundial do faz de conta – que acontece. Lá um castelo é tão real quanto qualquer padaria. Uma viagem no tempo ou no espaço é tão comum quanto qualquer passeio de metrô. Uma partida de quadribol é tão banal quanto qualquer Fla-Flu.
Naquela cidade sem montanhas nem praias (a não ser as de cloro), pasmem: até a paz galáctica é possível. De repente vejo americanos e árabes, cristãos e muçulmanos, brasileiros e argentinos dividindo a mesma rua, a mesma calçada, a mesma fila, a mesma língua – a da alegria de saborear um mundo onde a palavra terror só aparece no letreiro de um hotel mal-assombrado.
It’s a small world after all? Só se for na velha canção. Orlando é tão vasta quanto suas planícies e tão plural quanto o Epcot, o parque temático que abriga de vikings a marroquinos, além de astronautas, arraias e um dragão lilás. É capaz de abraçar todas as diferenças – de sexo, idade, religião e reticências – e ainda tratá-las como guests, convidados de honra de um baile que jamais vira abóbora depois da meia-noite.
Já sei o que o leitor está pensando: ele passou por uma lavagem cerebral. Verdade. Passei mesmo. Voltei com neurônios e artérias limpinhos. Zerados. Tão zerados que me aflige colocá-los de novo em campo para enfrentar os sete a um com os quais as manchetes nos goleiam diariamente.
Quisera eu viver belo adormecido para sempre.
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