As notícias de que o presidente Temer avaliza compra de silêncio do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado há 15 anos e quatro meses de prisão por envolvimento no petrolão, e de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi gravado pedindo dois milhões em propina para o dono da JBS, caíram como uma bomba no mundo político em Brasília. E, como já aconteceu durante a divulgação da lista de Fachin sobre políticos investigados na Operação Lava Jato, esvaziou o Congresso em dez minutos. Até pedido de impeachment já foi protocolado na Câmara, sob responsabilidade de Alessandro Molon (Rede-AP). Coincidência ou não, uma tempestade caia nos arredores do Parlamento no instante da divulgação do furo de reportagem de Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo.
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Na Câmara, onde deputados votavam medidas provisórias, e no Senado, que acabava de aprovar mais uma renegociação das dívidas dos estados, parlamentares de partidos como PT, PCdoB, Psol e Rede passaram a se revezar nos microfones dos dois plenários, lendo a notícia de O Globo, enquanto seus pares protestavam aos gritos de “fora, Temer”. Diante da inviabilidade de consecução da sessão plenária, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou o fim dos trabalhos. Detalhe: há sete MPs na pauta a trancar votações das sessões ordinárias.
Glauber Braga (Psol-RJ) foi um dos que subiram à tribuna durante a sessão plenária da Câmara para ler a notícia sobre Temer ter acertado a compra do silêncio de Cunha. “Fica mais que demonstrado que esse governo não tem legitimidade para continuar à frente do Brasil e não há outra alternativa além da saída de Temer e de seus ministros”, bradou o deputado, pedindo convocação de eleições diretas.
Em seguida, deputados começaram a entoar “fora, Temer” no plenário. O petista Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que, pela gravidade da denúncia, era necessária a instalação do processo de impeachment de Temer. Rodrigo Maia até tentou continuar a sessão para votar as MPs que estavam na pauta do plenário, mas não conseguiu. A deputada Alice Portugal também subiu à tribuna e afirmou que tratavam-se “dois flagrantes absurdos” e que Temer “não merece a alcunha de presidente”.
“Esta casa não tem condição de funcionar, não tem como votar MPs editadas por um governo ilegítimo, que não tem chancela popular e desmoralizado por toda mídia, inclusive a mídia que apoiou o impeachment”. Rodrigo Maia encerrou a sessão sob clima bastante tenso no plenário.
Conversa com o presidente
No Senado, com a pauta igualmente cheia, o líder da Minoria no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), foi ao microfone ler a matéria do colunista, no que foi contestado pelo senador Magno Malta (PR-ES).
“E delação agora vale? Porque, para o PT, delator nunca valeu nada, delação não é nada, delação não vale nada, delator não vale nada; agora, o delator do Temer vale”, disse Magno.
“Vale, porque tem prova, tem gravação, gravação de conversa com o presidente”, rebateu Lindbergh, depois de anunciar reunião dos oposicionistas para formalizar pedido de impeachment de Temer.
A sessão do Senado transcorreu por mais alguns minutos, mas também foi interrompida pelo presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Tanto o senador peemedebista quando Rodrigo Maia também são investigados no petrolão.
Dono da JBS grava Michel Temer avalizando compra de silêncio de Eduardo Cunha