Professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado pela Universidade de Paris, ele é consultor político, autor de diversos livros e articulista dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Uma das principais expressões acadêmicas do que tem sido chamado de “nova direita”, ele condena os conteúdos “esquerdizantes” do ensino no país.
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A nova edição da Revista Congresso em Foco destaca a visão de sete pessoas dos mais diversos perfis sobre a atual crise política e econômica e os caminhos apontados por elas para tirar o país da atual encruzilhada. Interpretações diferentes à parte, todos concordam em um ponto: nunca o Brasil viveu uma crise como a atual.
Com a palavra, Denis Rosenfield:
“O Brasil está vivendo uma enorme crise política. Não vejo saída imediata. O país está sendo engolido pela confluência de diversos fatores. Na economia, a inflação está batendo em 10%, desemprego em 10%, PIB em queda. Aguentaremos mais três anos assim? Minha resposta é não. Estou preocupado com os jovens. Como vão chegar ao mercado de trabalho? E quem já está no mercado, como vai progredir? Do ponto de vista do jovem, do cidadão brasileiro, a situação é extremamente negativa. E não vejo como melhorar com a atual condução política da presidente Dilma. Primeiro, porque a presidente se candidatou com um discurso ilusório em relação à situação econômica e social do país. Depois, foi obrigada a dar um cavalo de pau, mas não reconheceu a manobra brusca. Deveria ter reconhecido o erro, pedido desculpas e proposto um governo de unidade nacional. Esse é o gesto que ela deveria ter feito para tirar o país do buraco. Em vez disso, ela diz que está tudo certo, culpa sempre a crise externa, e todos sabem que não é assim.
PublicidadeHá países que andam bem e continuam bem. Tem a irresponsabilidade fiscal, por exemplo. O governo gastou mais que a receita. Os problemas internos foram produzidos pela presidente, pela opção errada de política econômica. A expressão disso são as ditas pedaladas fiscais e a ausência de controle dos gastos públicos. Em segundo lugar, tivemos a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que mostra o nível de corrupção existente no Estado brasileiro. E que foi produzida pelo aparelhamento dos cargos públicos pelo PT e outros partidos coadjuvantes. O projeto de poder petista está dando com os burros n’água. Portanto, a resolução da crise deveria ser política, porque foi produzida politicamente. Só que não estamos vendo, entre os interlocutores e protagonistas políticos, alguém seja capaz de liderar uma solução para a crise.
Um governo de unidade nacional teria de ser encarnado por outro personagem, porque a presidente já se mostrou incapaz disso. Acho que o vice-presidente Michel Temer deveria assumir o posto. Na história do Brasil, tivemos vices que precisaram conduzir o país. Com a morte de Tancredo Neves, assumiu José Sarney, que foi um desastre na política econômica e social, mas pôde assegurar a transição democrática, seu grande mérito. Com o impeachment de Collor, assumiu o vice, Itamar Franco, que fez um governo esplêndido. Foi ali que começou o real. As pessoas falam muito do Fernando Henrique. Não tiro o seu mérito como ministro da Fazenda de Itamar, mas quem decidiu pelo real foi o presidente que um ano e meio depois foi embora.
O Brasil precisa de uma solução assim: o vice assume, conclui o mandato da presidente Dilma e faz as reformas de que o país precisa, num governo de unidade nacional. Sem a reeleição de Temer. O impeachment é aconselhável e constitucional, por razões como as pedaladas fiscais e a omissão da presidente em relação ao aparelhamento do Estado. Mas isso teria de ser uma decisão política. Só assim o país poderia se reinventar, se recuperar. Meu temor é com a omissão, que também é um tipo de decisão. Se nada for feito, o Brasil vai afundar três anos. E vamos precisar de pelo menos mais cinco, para começar uma recuperação e tentar igualar o Brasil ao que era há 20 anos. E nem sei mais quantos anos para voltar a crescer. Será uma década perdida.
O grande problema hoje, para os jovens, é a falta de esperança. As pessoas não estão acreditando mais em nada. Veja os políticos. Pense na Dilma, no Eduardo Cunha. Todos envolvidos em processos, ameaças de cassação. Imagine como isso chega para o jovem. Ele tem um exemplo negativo. Agora, há a questão da educação que esses jovens estão recebendo. O sistema educacional está muito ideologizado. Nas provas do Enem, a resposta correta de uma questão foi que “a globalização produziu desemprego”. A resposta certa é que a globalização produziu mais empregos. O capitalismo melhorou as condições de vida das pessoas. Antigamente, morria-se com 40 ou 50 anos. Hoje a vida se estende aos 70 ou 80, porque as condições de vida melhoraram.
Também não faz sentido aumentar o número de universidades para dar curso de Direito, Pedagogia ou Letras. O que o Brasil necessita é de mais profissionais nas áreas de Medicina, Engenharia, Física. Precisa reformular os currículos, mudar tudo, e ninguém quer mexer nisso. O jovem quer saber é do emprego e do salário que vai ganhar quando se formar. Isso é que dá esperança. Você poder fazer um curso técnico e ter um bom emprego. Ou então fazer um curso superior, mas para atender ao mercado de trabalho. No Brasil, há universidades especializadas em curso de Direito. Nada contra a profissão de advogado, claro. Mas será que o país ainda precisa de mais profissionais dessa área?
As crianças deveriam estudar Português e Matemática. Falar bem, redigir bem, raciocinar bem e fazer cálculos. E com professor que ensinasse tabuada. A solução é simples. Temos que reformular os currículos escolares. Tem matéria demais: Filosofia, Direitos Humanos, Ética. Lá pelas tantas, História da África. Meu Deus, que importância tem a história da África? Claro que temos de olhar as outras culturas, mas cultura que produziu o saber foi a ocidental. Senão, me mostra o Goethe africano, o Flaubert africano. As pessoas não devem ser oprimidas, é outra coisa. Tem de distinguir o juízo de valor sobre a cultura de uma formação provavelmente cultural. Por que estudantes africanos vão estudar na Europa, nas férias? Por que a Coréia e a China mandam seus jovens para fazer formação científica nos Estados Unidos e nas melhores escolas da Inglaterra, da Europa? Temos de reconhecer as culturas como iguais, mas reconhecendo também as excelências de cada uma, de onde vêm os grandes matemáticos, os grandes físicos.
A Coréia do Sul, por exemplo, estava no mesmo nível do Brasil. Já nos ultrapassou na produção cientí- fica e tecnológica porque investiu seriamente em educação, tecnologia e formação profissional nos grandes países europeus e americanos. Os jovens precisam ler livros sérios e as obras fundadoras da cultura universal. A Bíblia, os clássicos gregos, Aristóteles, Flaubert. Entre os brasileiros, Machado de Assis, Guimarães Rosa, José de Alencar. E não essas porcarias que dão para ler na escola, esses livros ditos didáticos. O jovem deve pensar por si mesmo. E para isso tem que aprender a ler os grandes textos, a cultura clássica. Hoje há uma abordagem marxista, esquerdizante, que só existe no Brasil e nesses países bolivarianos que agora são narcotraficantes. Estamos na contramão da história. No Brasil, ser de esquerda é progressista. Por quê? Não consigo entender. Mas os olhos estão se abrindo.
Estamos vivendo um choque não apenas moral, mas ideológico. O nível de aprovação da presidente Dilma, de 8%. A grande rejeição do ex-presidente Lula. A imagem do PT lá no chão, e petistas que já querem criar um novo partido. O povo está rejeitando a classe política. E nossa oposição tem sido de uma incompetência atroz, não soube aproveitar o momento político. O PSDB vai para lá e para cá, não tem uma linha, um norte político a seguir. Votou contra políticas da Fernando Henrique, como o fator previdenciário, só para fustigar a Dilma. Por outro lado, tem o Eduardo Cunha. É a degradação da classe política. Se você tivesse algum líder político ou partido de oposição que se apresentasse como alternativa, a coisa seria diferente. Não é o que acontece.”
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Uma das principais expressões da chamada “nova direita”, filósofo critica Dilma e a oposição e defende que o vice-presidente assuma o Planalto e conduza um “governo de unidade nacional”
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