A entrevista exclusiva concedida ao Congresso em Foco pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), membro suplente da comissão especial da reforma da Previdência, provocou indignação no Palácio do Planalto e em alguns governistas na Câmara, onde a matéria está em fase final de discussão. Com o prognóstico de que o texto da Proposta de Emenda à Constituição 287/2016 será integralmente rejeitado pelos pares, Onyx diz que o governo pratica “terrorismo fiscal” para promover ajustes, “perdeu a guerra da comunicação” e não tem força para aprovar qualquer reforma estruturante, por carecer de legitimidade. O parlamentar disse ainda que Temer repete os erros da antecessora no Planalto, Dilma Rousseff, e chega a defender a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde está em curso o julgamento de uma ação por abuso de poder econômico.
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Diante da metralhadora verbal de Onyx, o Planalto entrou em campo. Segundo informações de bastidor, foram muito mal recebidas na cúpula do Executivo as declarações do deputado do DEM – partido que se mantém na base governista na Câmara e no Senado, com direito a cargos no primeiro, segundo e terceiro escalões (é do DEM, por exemplo, o comando do Ministério da Educação e Cultura, chefiado pelo deputado pernambucano Mendonça Filho). O estrago provocou pronta reação do presidente nacional do partido, senador José Agripino (RN), um dos principais aliados de Temer no Senado.
Por meio de nota encaminhada a este site, Agripino ponderou que a opinião de Onyx foi proferida em caráter pessoal, sem refletir o posicionamento do partido. “A entrevista do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) concedida ao site Congresso em Foco traduz opiniões pessoais do parlamentar, sem que as mesmas possam ser interpretadas como posições oficiais do partido. O parlamentar emite suas próprias opiniões”, argumentou o senador.
Mas partiu do vice-líder do governo na Câmara Darcísio Perondi (PMDB-RS), fiel aliado de Temer, a bronca mais pesada contra a entrevista. Com a ressalva de que gosta e respeita muito Onyx, Perondi lamentou enfaticamente a postura do colega, que “precisa ler jornal, conversar com os consultores da Câmara”. Segundo Perondi, o próprio presidente da República lhe autorizou a rebater a fala do representante do DEM, que talvez esteja mal informado a respeito da macroeconomia, avalia o deputado peemedebista – durante a entrevista, ele cita indicadores econômicos, como índices recentes da inflação, e a tendência de queda de juros como sinais claros de recuperação das contas públicas.
“Acho que esta entrevista é uma facada na história política do Onyx, uma facada no partido que o recebe. Um partido que teve a inteligência, a independência e a coragem de apoiar o impeachment e a proposta de transformação do país. Inclusive o próprio Onyx estava entusiasmado conosco. É uma facada contra todas as teses liberais que ele defendeu no plenário, no Parlamento e no Rio Grande do Sul. Ele esqueceu todas as teses liberais, está dando uma facada no partido que ele representa há 20 anos no Parlamento”, lamentou Perondi à reportagem.
“Chegar a defender a eleição de um novo presidente é não ver a grave crise fiscal que nós vivemos ainda! Deixa a Lava Jato andar e fazer o trabalho dela. Mas, defender, como o PT defende, uma nova eleição é não ver a gravidade do quadro fiscal brasileiro”, protestou Perondi, que também defendeu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, responsável pela condução da política econômica no governo Temer e o principal patrocinar de uma reforma previdenciária mais rígida.
Publicidade“A Previdência tem deficit há cinco anos. Agravou-se com a recessão, e isso é indiscutível, mas tem um deficit há cinco anos. O deficit é crescente, geométrico e exponencial. Hoje, o gasto da Previdência ocupa 56% da despesa primária e, daqui a quatro anos, vai ocupar 83%. Portanto, o gasto da Previdência está expulsando os orçamentos da saúde, da agricultura, da educação, a infraestrutura, da segurança, das emendas parlamentares. Daqui a 20 anos, de cada cem reais que o governo vai arrecadar, 107 vão ser gastos em Previdência – quer dizer, todo o dinheiro, e ainda vamos ter deficit de 7%”, avaliou o deputado.
Futuro
Para ilustrar seu grau de desalento, o deputado gaúcho relatou o encontro que teve, na última quinta-feira (6), com um grupo japonês – algo que, com sua postura, Onyx estaria por ignorar. “Nós temos filas de investidores. Eu vou te dar um depoimento. Eu recebi o diretor do segundo maior fundo de investimento japonês. Conversamos e aí eu perguntei para ele: o que vai acontecer se aprovarmos a reforma trabalhista e a reforma da Previdência neste ano, em relação aos investidores internacionais? E ele me disse: ‘Perondi, os investidores ficarão loucos, virão correndo. O Brasil ainda é um mercado extraordinário. É só acertar essas duas reformas que sobrarão investidores externos e internos’”, relatou.
Para o peemedebista, seu conterrâneo talvez esteja pensando nas eleições de 2018 – na esteira do crescimento da rejeição à gestão Temer – ao se posicionar de forma tão incisiva contra o governo. “Estou surpreso. Defender, como o PT defende, a cassação do Michel no Supremo [Tribunal Federal] é olhar pelo retrovisor. Ou pensar na eleição [geral de 2018]”, arrematou, projetando que a questão sobre a chapa presidencial será resolvida no STF, e não no TSE.
Guinada
Para Perondi, Onyx já dava sinais de que não apoiaria a reforma previdenciária concebida por Temer desde os primeiros movimentos do governo no Congresso. “Na primeira audiência [da comissão especial] ele já mostrou que seria contrário [à reforma da Previdência], e eu o respeito. Mas é uma surpresa o comportamento dele em relação à reforma”, lembrou.
Para demonstrar sua decepção com Onyx, o peemedebista chega a compará-lo a um petista, partido cujo ideário é diametralmente oposto àquele defendido pelo DEM. “Onyx está pensando igual ao Henrique Fontana [PT-RS]. Respeito os dois, mas são cabeças completamente diferentes, ideologicamente”, comparou Perondi, referindo-se a outro deputado gaúcho, ex-relator da reforma política durante o governo Dilma. “Ele está esquecendo que foi um dos líderes do impeachment. Não sei o que aconteceu com este deputado, que é aguerrido, estudioso e brilhante, e que eu respeito muito. Não entendo”, acrescentou.
Perondi lembra que conversava com Onyx sobre as mais diversas questões, quando oposicionistas, e debatiam as medidas das gestões Lula e Dilma, como a própria reforma trabalhista. Ambos sempre estiveram alinhados nas críticas à política petista, recorda o deputado. Nesse ponto da entrevista, o peemedebista aproveitou para enumerar algumas queixas que ele e Onyx tinham em comum a respeito da era petista, principalmente no governo Dilma.
“Farra com o dinheiro público, descontrole dos gastos, pedaladas fiscais. Dilma governou isolada, não ouvia ninguém. Destruir a Petrobras e a Eletrobras, não dialogava com o Congresso. E mais: jogou o Brasil na sua maior depressão em toda a história, desde 1900, quando o PIB [Produto Interno Bruto] começou a ser medido. Recessão assustadora, inflação descontrolada, juro altíssimo, desemprego de 12,5 milhões de pessoas. Aumentou a dívida bruta em 50% e entregou para o Michel [Temer] em 70% do PIB, fechamento de milhares de empresas e lojas. Um orçamento de fantasia, que o próprio Congresso aumentava essa fantasia quando votava”, listou o deputado, para quem Onyx ajudou o grupo de Temer a derrubar Dilma e, dessa forma, mudar os rumos do país.
Ainda segundo Perondi, a entrevista de Onyx surpreende também porque sua fala é contra um modelo político que seu partido defende com veemência ainda maior que a manifesta pelo PMDB a respeito dos mesmos temas. Para o deputado gaúcho, Onyx não está compreendendo o que Temer almeja fazer com reformas tão impopulares.
“Temer é o [Gerhard] Schröder, que há 20 anos fez a reforma trabalhista. Foi odiado, mas sua reforma foi um instrumento poderoso que levantou a Alemanha nos últimos anos”, comparou o deputado, referindo-se ao social-democrata alemão que exerceu o posto de chanceler entre 1998 e 2005. “O Michel foi ousado como o [Winston] Churchill, que disse para o povo inglês: ‘Sangue, suor e lágrimas’. Até foi afastado, mas depois voltou nos braços dos ingleses. Mesmo impopular, ele levantou a Inglaterra”, acrescentou, desta vez comparando o presidente ao ex-primeiro-ministro do Reino Unido.
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