“Como líder do governo, agi. O presidente Lula me pediu isso [interferência nas investigações]. E, em outras situações também, a própria presidente Dilma. Curioso… Eu fui chamado de mentiroso. Pô, um líder de governo chamado de mentiroso? Eu fui líder dela aqui no Senado. E mentiroso? Pergunta para qualquer senador se, ao longo da minha liderança, alguma coisa que eu falei pra eles eu não cumpri”, desafiou o ex-petista, referindo-se à trama de fuga que chegou a articular para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, um dos presos da Operação Lava Jato. Descoberta em áudio gravado pelo filho de Cerveró, Bernardo, a negociação o levou para a prisão em condição de flagrante.
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“Vocês viram as outras colaborações [premiadas] que foram feitas depois da minha, né?”, continuou, dirigindo-se aos jornalistas. “Tem algum erro naquilo que eu falei? Tudo está sendo confirmado e, agora, no final de semana, em uma notícia lá de Curitiba, o próprio Marcelo Odebrecht está confirmando aquilo que eu afirmei com relação ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça] Marcelo Navarro”.
O senador se refere ao roteiro inicial de delação premiada apresentado pelo ex-presidente da empreiteira que leva seu nome. Ao citar o magistrado, Delcídio lembra a acusação de que Dilma o orientou a procurá-lo para expedir habeas corpus para tirar Marcelo Odebrecht e outros investigados da cadeia.
Ausência justificada?
O senador justificou que faltou às convocações do Conselho de Ética porque não tinha condições psicológicas de comparecer. “Eu fiquei recluso 87 dias. É como se um Fórmula 1 batesse a 300 km/h. Imaginem tudo que minha família sofreu e meu estado psíquico”, lembrou. “Fiz uma cirurgia em que os pontos não cicatrizavam”, contou o senador.
O ex-líder do governo ainda rebateu a denúncia de que teria ido de moto à manifestação de 13 de março, contra o governo, na Avenida Paulista, em São Paulo, publicada pela revista Veja. “Minha carteira de motorista está vencida há dez anos. Andar de motocicleta, só se fosse na garupa”, disse. Segundo Delcídio, “a notícia foi plantada por um jornalista a quem eu neguei uma entrevista exclusiva”, atacou.
Ao lado de seu advogado, Figueiredo Bastos, Delcídio condenou a “traição” de Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que, segundo o senador, era amigo de sua família e gravou uma conversa que acabou o levando para a cadeia. Emocionado, Delcídio aproveitou a volta ao Senado para pedir desculpas à sua família e à família de seus assessores Diogo Ferreira Rodrigues e José Eduardo Marzagão.
No diálogo gravado pelo filho de Cerveró, o ex-líder do governo no Senado oferece uma rota de fuga e uma mesada de R$ 50 mil mensais à família de Cerveró para que ele não fizesse acordo de delação premiada. Delcídio se defendeu dizendo que a conversa era informal, que a fuga é um plano “mirabolante” e que jamais se concretizaria.
Delcídio repetiu inúmeras vezes que assume a responsabilidade de seus erros, mas que suas falhas não justificam a perda do mandato. “Não roubei, não desviei dinheiro, não tenho conta no exterior. Estou sendo acusado de obstrução de Justiça”, disse o ex-líder do governo alegando que esta não é uma irregularidade grave – onde caberia a perda do mandato.
Para depois
A CCJ adiou a votação do parecer do relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES), favorável à cassação de Delcídio, marcada para esta segunda-feira. Caso o colegiado aprove o parecer, conta-se até cinco sessões para a defesa e o processo é encaminhado ao Plenário do Senado, onde os parlamentares votarão pela cassação ou não do mandato de Delcídio.
No Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, 13 senadores votaram pela aprovação do relator Temário Mota (PDT-RR), que concluiu ter ficado caracterizada a quebra de decoro parlamentar por parte de Delcídio Amaral.