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Nos áudios, Renan diz a Machado que é preciso que o presidente do Conselho de Ética, João Alberto Souza (PMDB-MA), peça diligências para não parecer que a investigação estava parada e sugere que o ex-petista escreva uma carta em tom humilde. “Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A mulher pagou…”. O novo teor foi divulgado com exclusividade pela repórter Camila Bomfim, no Jornal Hoje, da TV Globo, na última quinta-feira (26).
Ex-assessor de gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o interlocutor designado pelo peemedebista para ouvir e repassar orientações à defesa do então senador Delcídio do Amaral (MS) é pai de um dos advogados que defendiam o ex-petista no Conselho de Ética. Identificado nos áudios apenas como “Vandenbergue”, o intermediário de Renan se chama Vandenbergue dos Santos Sobreira Machado. Ele é pai do advogado Luis Henrique Alves Sobreira, que defendeu Delcídio no Conselho de Ética até a revelação de que o ex-líder do governo havia feito acordo de delação premiada que comprometia, entre outros políticos, o senador alagoano.
O papel do assessor de Renan na defesa de Delcídio
Os diálogos entregues pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado indicam que, antes de saber da delação premiada de Delcídio, Renan agia para evitar sua cassação. “O que que ele (Delcídio) tem que fazer… Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A mulher pagou”, recomendou o presidente do Senado ao pai do advogado do ex-petista.
“Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora”, respondeu Vandenbergue. “Conselho de Ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras… O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado”, insistiu Renan.
Publicidade“(João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada”, prosseguiu Vanderbergue.
Em nota divulgada por sua assessoria nesta tarde, Renan transferiu para Delcídio a relação de proximidade com Vandenbergue. “Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou”, informou a nota. Mas o histórico aponta laços do interlocutor é com o peemedebista. Por indicação de Renan, Vandenbergue dos Santos foi nomeado pelo presidente Lula para assumir uma vaga no conselho consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ele foi designado como representante do Senado e por lá permaneceu até 2013, quando terminou seu mandato.
CBF
Funcionário aposentado da Casa há mais de 15 anos, Vandenbergue é figura carimbada nos corredores e auditórios do Congresso. Logo após se aposentar, assumiu o posto de lobista da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e não largou mais o cargo. Resistiu à queda dos ex-presidentes Ricardo Teixeira e José Maria Marin, ambos apeados após denúncias de corrupção. Como diretor de Assuntos Legislativos da CBF, ele recebe salário de R$ 100 mil. Um de seus trabalhos, no momento, é defender os interesses da entidade nas duas CPIs do Futebol em funcionamento no Congresso.
Delcídio do Amaral afirmou ter “boas relações” no período em que a conversa foi gravada. “Esse Vandenbergue é um cara que eu conheço há muito tempo”, afirma Delcídio em matéria do Estadão. “Ele é diretor da CBF, mas se criou sempre no PMDB. Começou como chefe de gabinete do Marco Maciel no Ministério da Educação (Governo Sarney) e depois fez carreira no PMDB, especificamente com o Renan”, acrescenta.
“Mas achei estranho que ele ia ao meu gabinete aparentemente para prestar solidariedade, para me visitar e o caramba, mas agora percebo que ele ia a mando do Renan para sondar, para saber se eu ia mesmo fazer delação premiada. A conversa gravada entre eles mostra que estavam mal informados. Pelo que vi, a conversa foi no dia 24 de março. Eu já havia fechado o acordo antes de ser solto em fevereiro. Vandenbergue sempre frequentava o meu gabinete, sempre uma relação boa, amistosa, mas o interesse dele era efetivamente me monitorar. Não só a mim como a minha família. A mando do Renan”, pondera o senador cassado.
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