Em depoimento prestado à Justiça, o empresário Alexandre Margotto, ligado ao doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que é apontado como operador financeiro do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, revelou detalhes sobre a suposta ligação do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) com um esquema de corrupção na Caixa Econômica Federal. A delação premiada de Margotto foi gravada em vídeo pelo Ministério Público em Brasília. O Fantástico teve acesso aos vídeos e revelou trechos da gravação em reportagem desse domingo (19).
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Uma parte do esquema já havia sido detalhado por outro delator, o ex-presidente de Fundos de Governo e Loterias do banco Fábio Cleto, indicado para o cargo pelo ex-deputado peemedebista Eduardo Cunha (RJ). De acordo com Margotto, o grupo de Cunha operava com Cleto e também com Geddel Vieira Lima, ex-secretário de governo de Michel Temer e ex-deputado federal pela Bahia. Na época, Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa.
Para Lúcio Funaro, segundo o delator, Geddel era mais eficiente para o esquema do que Fábio Cleto. Em depoimento, o empresário afirmou que o doleiro ganhou muito dinheiro com o ex-ministro. “Somente o que Lúcio me comentava, que ganhava mais dinheiro com o Geddel do que com o próprio Fábio”.
Em outro trecho revelado pela reportagem, Margotto contou que Funaro tinha grande influência sobre o peemedebista na Caixa. “Quando eu cheguei no escritório, eles já tinham esse relacionamento. Segundo o Lúcio, ele mandava no Geddel”, disse em depoimento.
A ligação do ex-ministro com o esquema foi revelada no dia 13 de janeiro, durante a Operação Cui Bono da Polícia Federal. Geddel Vieira Lima foi alvo de busca e apreensão em sua residência, em Salvador. A operação investiga um esquema de fraudes na liberação de créditos junto à Caixa Econômica Federal, que teria ocorrido, pelo menos, entre 2011 e 2013.
A delação de Alexandre Margotto foi homologada pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília. Os depoimentos também trazem mais indícios de envolvimento do empresário Joesley Batista, dono do grupo J&F, com as operações irregulares no banco. Margotto está preso no presídio da Papuda em Brasília.
O delator contou como era feita a divisão da propina, separada com base em percentuais. A maior parte do dinheiro deveria ir para Eduardo Cunha, mas outros políticos como Geddel e Henrique Eduardo Alves, que foi presidente da Câmara e ministro dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, são citados como beneficiários da propina.
Margotto disse que 20% da propina ficavam com ele, Fábio Cleto e Funaro. Já o maior montante, os outros 80%, eram destinados a Eduardo Cunha, Henrique Alves e “aliados” dos parlamentares. Cunha era o responsável pela distribuição dos 80% aos amigos congressistas.
Segundo Margotto, Geddel e Cleto foram fundamentais para tornar viável uma operação de compra de debêntures da Eldorado Celulose pelo fundo de investimento do FGTS. A Eldorado pertence ao grupo J&F e já é investigada desde a Operação Sépsis da Polícia Federal, a mesma que levou Funaro à prisão.
Lava Jato
Geddel foi citado por vários delatores presos na Lava Jato, em depoimentos ou troca de mensagens, como beneficiário de esquema de corrupção. Em um recado eletrônico, Lúcio Funaro acusa o peemedebista de pressionar em favor de uma operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS, da Caixa Econômica. Funaro chama o ex-ministro de “boca de jacaré” para receber propina e de “carneirinho” para trabalhar.
O nome do baiano também aparece em relatórios da Polícia Federal solicitando “apoio financeiro” e fazendo negócios pouco republicanos com Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, preso na Lava Jato. O ex-ministro é citado nas mensagens do empreiteiro como um operativo lobista para a liberação de prédios em Salvador. Ele deixou o governo após ser acusado de utilizar o cargo em proveito próprio.
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