Protagonista de uma disputa regimental que ultrapassou cinco horas contra aliados do veterano Renan Calheiros (MDB-AL) sobre o rito da votação para a presidência do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) é um homem pouco propenso a fazer declarações públicas, mas que costuma ser muito ativo nas articulações políticas.
Na presidência interina do Senado, por ter sido o único remanescente da Mesa Diretora anterior em meio de mandato, Alcolumbre usou o microfone ontem (sexta, 1º) por mais tempo do que em todos os seus quatro anos anteriores de mandato como senador. Nesse período, discursou por apenas sete vezes, conforme os registros oficiais. No próximo dia 19 fará um ano em que fez o seu último discurso. Na ocasião, homenageou Macapá, capital de seu estado. Em 2017, ele sequer fez uso da tribuna.
Visto por alguns como uma zebra na disputa pelo comando do Senado Federal, o parlamentar amapaense foi bombardeado por apoiadores de Renan, que o acusam de ter usado a cadeira da presidência para beneficiar sua própria candidatura. Indiferente às pressões, Davi Alcolumbre disse que só deixaria de conduzir a sessão suspensa na sexta-feira e que será retomada neste sábado se o senador que viesse a substituí-lo – o mais idoso da Casa, José Maranhão (MDB-PB), um dos maiores aliados de Renan – assumisse o compromisso de manter respeitar a decisão do plenário pelo voto aberto.
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Nascido em Macapá em 19 de junho de 1977, Alcolumbre afirma em sua página no Facebook ser filho de um mecânico e de uma empresária. Segundo o portal do Senado, o parlamentar começou, mas não concluiu o curso de Economia no Centro de Ensino Superior do Amapá (Ceap). Comerciante, gosta de brincar com o fato de ser judeu. Em conversas de campanha, para defender o pagamento de certas despesas, costuma argumentar: “Não precisa ser tão pão-duro, o judeu aqui sou eu”.
Alcolumbre entrou para a política em 2000, quando se candidatou a vereador da capital amapaense ainda pelo PDT. Passou dois anos na Câmara Municipal e foi eleito deputado federal em 2006. Após cumprir três mandatos, elegendo-se pelo DEM para os dois últimos deles, conseguiu vaga para o Senado em 2014, com mais de 130 mil votos.
Como senador, Alcolumbre votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e, no ano seguinte, se opôs à cassação do ex-senador Aécio Neves (PSDB-MG), acusado no esquema de corrupção do grupo JBS.
Presidiu a CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apesar de ter recebido em 2014, ele próprio, R$ 138 mil em doações eleitorais da JBS, principal alvo daquela comissão. À época, alegou que não houve nenhuma contrapartida em troca dos recursos. Também foi presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado.
A construção da candidatura
Em 2018, com mais quatro anos de Senado garantidos, Alcolumbre concorreu ao governo do Amapá, mas não chegou ao segundo turno. Terminou em terceiro lugar, com 94 mil votos (23,75% do total). Pouco depois, começou a acalentar o projeto de disputar a presidência do Senado. Dois políticos influentes do DEM logo compraram a ideia: os então senadores Ronaldo Caiado (GO) e José Agripino Maia (RN).
Não demorou e toda a cúpula nacional do partido já havia adotado a candidatura. O presidente nacional da legenda, ACM Neto, chegou a autorizar a contratação de jatinho particular, com as despesas pagas pela agremiação, para que Davi Alcolumbre visitasse alguns estados com o objetivo de apresentar o seu nome a outros senadores.
Seu nome ganhou visibilidade com as movimentações de bastidores do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). As intervenções de Onyx incomodaram até o senador Major Olímpio (PSL-SP), colega de partido do presidente Jair Bolsonaro e também candidato à presidência do Senado.
Major Olímpio atuava nos bastidores em favor da Simone Tebet (MDB-MS), derrotada por Renan em votação da bancada. O que ele a princípio ignorava é que Alcolumbre tinha o entusiasmo apoio de dois ilustres membros do PSL, os irmãos Eduardo e Flávio Bolsonaro, filhos do presidente. Com o primeiro, deputado por São Paulo, tem forte amizade e jogou futebol várias vezes em Brasília. O segundo rapidamente encampou a candidatura.
Alcolumbre tinha e tem um sério problema. Sua aspiração se choca com o fato de o DEM, uma bancada relativamente pequena, possuir três ministros e a presidência da Câmara. “Querem o Senado também?”, estranham vários senadores. Mas ele se alimenta de um sentimento que é mais forte em uma instituição fortemente renovada: o de absoluta rejeição a Renan, visto como expressão mais odiosa da “velha política”. O receio é que uma quinta passagem do alagoano pela presidência do Senado comprometa a imagem de todos os senadores. Daí porque os parlamentares anti-Renan, inicialmente distribuídos em diversas candidaturas, há semanas não param de se reunir. O plano é todo mundo se juntar no segundo turno contra o adversário comum.
Diversos senadores da nova legislatura contribuíram para a articulação pró-Alcolumbre. Pelo menos três merecem menção: Sérgio Petecão (PSD-AC), Izalci (PSDB-DF) e Randolfe (Rede-AP), aliado regional de Davi.