Um dos nomes mais emblemáticos da chamada “velha política”, o deputado preso Paulo Maluf (PP-SP) teve que se adequar à era digital e suas inúmeras redes sociais, versão pós-moderna dos santinhos, calendários e materiais congêneres das candidaturas de outrora. No ditado popular, seu sobrenome passou a verbalizar, principalmente em São Paulo, atos de corrupção, em que “malufar” virou sinônimo de “roubar”. Mas, no território livre das redes, ele não hesitou em postar no Instagram, em 29 de setembro de 2014, às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, a seguinte mensagem:
“Bandido bom é bandido preso!”
Ao registrar a sentença de forte apelo popular, o deputado caía sem saber na chamada ironia do destino. Condenado a mais de sete anos de cadeia por malfeitos, aos 86 anos Maluf se encaminhava para mais um Natal em família quando foi surpreendido pela decisão, nesta semana, em que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin determina o imediato cumprimento de sua sentença. Resultado: Maluf está no folclórico presídio da Papuda, em Brasília, na companhia de nomes como o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), o do “bunker” com R$ 51 milhões em dinheiro vivo (e de corrupção, segundo investigadores), e do também “deputado presidiário” Celso Jacob (PMDB-MG), que perdeu o direito de exercer o mandato mesmo preso.
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Antes de ir em cana, Maluf era relativamente assíduo nas postagens em redes sociais, muitas delas um tanto quanto peculiares ou curiosas. Por exemplo, o registro em que ele faz referência à responsável pela manutenção de sua prisão em épocas natalinas, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. Em 21 de setembro deste ano, Maluf retuitou uma mensagem do Festival piauí GNews com o seguinte anúncio: “A ministra Cármen Lúcia e o deputado @paulosalimmaluf são os convidados da Conversa com a Fonte. Ingressos em http://bit.ly/2wXxdEI”.
Este foi o último registro de Maluf no Twitter antes de ser preso. O deputado talvez não tenha imaginado que, dali a três meses, Cármen Lúcia viria a negar pedido de sua defesa para suspender a execução penal.
Em 28 de junho passado, também no Twitter, Maluf aparece em atividade típica da política tradicional, em um encontro com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) – o mesmo Maluf que, em junho de 2012, na campanha do antecessor de Doria, o petista Fernando Haddad, apareceu ao lado dele e do ex-presidente Lula em uma foto que já entrou para os anais da literatura política, no capítulo referente às alianças inusitadas. No registro com Doria, Maluf escreve: “Estive agora pouco com @jdoriajr, meu amigo e excelente prefeito da nossa amada São Paulo”.
No Facebook, Maluf também gosta de compartilhar momentos de desconcentração ao lado de colegas de labuta. Uma das fotos registradas em sua “timeline” (a “linha do tempo” daquela rede social, como preferem os puristas) mostra um sorridente Maluf em plenário ao lado do colega deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que atualmente franze o cenho em busca de um partido que acolha suas ideias e exigências com vistas à corrida presidencial de 2018. Bolsonaro, alias, já integrou o Partido Progressista de Maluf – legenda que, descobrir-se-ia a partir de 2014, tem o maior número de representantes às voltas com a Operação Lava Jato. O registro é de 3 de agosto de 2016, quando o Senado estava na reta final do impeachment de Dilma Rouseff.
Outro momento “ironia do destino” foi registrado por Maluf no Twitter em 29 de janeiro de 2016. Trata-se de uma ilustração, que ele atribui a “malufistas”, em que se lê o que seria um resumo de sua vida pública. A ironia está na quinta frase da figura: “Paulo Maluf nunca recebeu uma condenação penal”, diz a gravura, que exibe um simpático “boneco” minimalista segurando um coração, para completar: “Demais políticos, sejam como Paulo Maluf”. Ao comentar a postagem, o próprio deputado diz se tratar de uma “brincadeira”.
Cinco vezes réu
Em setembro de 2015, Maluf já havia virado réu no STF pela quinta vez. Além da condenação em pauta, o deputado foi condenado por lavagem de dinheiro e terá de pagar uma multa de aproximadamente R$ 1,3 milhão. Durante o tempo em que foi prefeito de São Paulo, apontou a investigação, mais de US$ 170 milhões teriam sido lavados entre 1998 e 2006, dinheiro relativo às obras da Avenida Água Espraiada.
O entendimento foi de que Maluf “ocultou e dissimulou” valores oriundos de corrupção passiva. Devido à gravidade do crime, ministros do STF dedidiram que ele teria de cumprir a sentença em regime fechado. Durante o julgamento, o ministro Luís Roberto Barroso, ao declarar seu voto, afirmou que o rotineiro desvio de dinheiro público é “uma das maldições” da República e “tem nos mantido atrasados e aquém do nosso destino”.
Ao decidir que o ex-prefeito deveria cumprir pena em regime fechado, os ministros decidiram também pela perda do mandato, uma vez que o regime fechado é incompatível com o exercício do cargo de deputado federal. Contudo, a decisão não é imediata. A Mesa da Câmara já foi notificada da decisão, publicação no Diário de Justiça Eletrônico (DJE) no primeiro semestre.
Graças às complicações judiciais que tem enfrentado, o deputado consta da lista de procurados da Interpol, a polícia internacional. Nessa situação, Maluf pode ser preso caso deixe o país, seja qual for seu destino.
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