Como acontece em situações de demissão nas altas esferas da República, diversos foram os posicionamentos de pré-candidatos à sucessão presidencial sobre o pedido de demissão apresentado pelo agora ex-presidente da Petrobras Pedro Parente. Mantido por Michel Temer (MDB) mesmo em meio à mais grave crise dos combustíveis dos últimos tempos, que resultou na maior greve dos caminhoneiros da história, Parente foi acusado por parlamentares oposicionistas e petroleiros de atuar em favor de grupos estrangeiros, como este site mostrou na última sexta-feira (25/maio), mas recebia elogios de governistas por ter saneado as contras da empresa depois das gestões petistas.
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Presidente da Câmara e presidenciável do DEM, Rodrigo Maia (DEM) disse que a demissão de Parente “era o que a sociedade esperava”. Mas, de certa forma, o deputado lamentou a saída do gestor. “Ele tinha muita credibilidade e estava fazendo um ótimo trabalho. A questão do preço dos combustíveis poderia ter uma saída sem nenhum tipo de intervenção”, disse Maia ao Broadcast Político, serviço fechado do jornal O Estado de S. Paulo.
Leia a íntegra da carta de demissão de Pedro Parente
Mas teve comemoração do lado quem não concordava com a política de preços de Parente, que determinava reajuste de acordo com a variação do câmbios e do preço internacional do barril de petróleo, ambos em alta. Para Ciro Gomes, nome do PDT para a corrida presidencial, a demissão de Pedro Parente “era uma de duas providências que tinham que ser tomadas”. Identificado como candidato de esquerda, o ex-ministro de Lula veiculou vídeo em redes sociais e aproveitou para atacar a política neoliberal dos tucanos.
“A primeira deve-se a ele mesmo. No meio de uma crise extraordinariamente grave, o cidadão ainda tem o desplante, o despudor de aumentar a gasolina em quase 1% em apenas um dia, no meio da crise. Essa falta de respeito é a política do PSDB. É a política que quer valorizar o financismo, a especulação financeira, em detrimento de seja qual for o interesse – principalmente o interesse popular e o interesse nacional brasileiro”, disse Ciro, ao encontro da tese, defendida pelos petroleiros, de que Parente favorecia interesses de grupos estrangeiros.
“Mas não basta demitir o senhor Pedro Parente. É preciso exigir que a política de preços que ele impôs seja trocada. E ela não pode ser trocada por nada de demagogia. Apenas o seguinte: hoje, ele estão transferindo o preço do barril de petróleo da especulação estrangeira para dentro do Brasil, quando o custo da Petrobras é muitas vezes menor do que o custo do petróleo lá fora”, acrescentou.
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Pré-candidato do Psol, Guilherme Boulos escreveu que “Pedro Parente já vai tarde”. “A desastrosa política de preços da Petrobras e a privatização branca causaram um estrago que o povo brasileiro está sentindo no bolso. Parente já foi, agora falta o Temer!”, fustigou coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Na mesma linha foi a ex-deputada federal gaúcha Manuela d’Ávila, presidenciável do PCdoB. “Ouvi Eliseu Padilha dizer em entrevista que Pedro Parente não podia ser afastado da Petrobras porque fazia parte da equipe dos sonhos de Temer. Sonho do mercado, pesadelo de milhões. Já foi tarde”, escreveu a comunista, que aproveitou para ironizar uma frase da carta de Parente, por meio de um meme (imagem abaixo), que faz alusão à fama de “entreguista” de Parente entre os oposicionistas.
Defesa
Do lado da chamada direita ideológica, o tom foi de lamento. “Esse é o ambiente que temos hoje. a velha política afasta os bons profissionais. Reverter esse quadro é um dos nossos objetivos”, disse João Amôedo, candidato do Partido Novo, em sua conta no Twitter.
Também alinhado à direita brasileira, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin preferiu exaltar o agora ex-presidente da Petrobras – afinal, partiu do PSDB, partido de Alckmin, a indicação de Parente para o comando da estatal. “Com a saída de Pedro Parente, o importante nesse momento é não desperdiçar o trabalho de recuperação da Petrobras. Precisamos definir uma política de preços de combustíveis que, preservando a empresa, proteja os consumidores”, disse o tucano, também no Twitter.
Ex-membro do PSDB no Senado, onde agora defende o Podemos, Alvaro Dias (PR) se limitou a escrever no Twitter que “a greve dos caminhoneiros fez a primeira vítima no governo: o presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão”. Junto com a frase, o senador registra um link para reportagem do portal G1 sobre o assunto. Aproveitou, na postagem seguinte, para veicular uma charge do cartunista Claudio no jornal Agora SP (imagem abaixo).
Disposto a ser visto como candidato de centro, o ex-ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles, também saiu em defesa de Parente, com quem se assemelha em relação à desenvoltura como “homem de mercado” – entre suas funções recentes, foi ex-presidente do conselho de administração da J&F, controladora da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista,. Pré-candidato do MDB, Meirelles disse ao site do jornal O Globo que Parente deu importante contribuição ao país ao livrar a Petrobras da “quase destruição provocada pelo governo anterior”.
“A companhia tinha perdido as condições de assumir o custo de absorver as eventuais diferenças entre um preço mais estável e previsível e o custo de produção que varia com o preço do petróleo. É preciso criar um fundo de estabilização que amorteça eventuais oscilações no preço do petróleo e seja fiscalmente neutro no longo prazo”, declarou o ex-ministro.
Pré-candidatos da Rede Sustentabilidade e do PSL, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ) não se haviam se manifestado sobre Parente até a publicação desta reportagem. Bolsonaro avisou, por meio de sua assessoria, que não comentaria a demissão.
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