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Yoani disse que, ao criar o blog Generación Y, não pensou que sua vida fosse mudar tão drasticamente. Com indagações, a blogueira acentuou o tom crítico. “Por que um blog teria que trazer como consequência a vigilância policial, a satanização pública por meio da propaganda oficial? Por que um blog pacífico, moderado – em que falo do dia-a-dia, de minha família, de meus amigos, meus compatriotas –, por que um blog assim teria que me trazer como castigo a impossibilidade de sair do meu próprio país? Por que um simples blog teria como consequência a lapidação pública de minha imagem, de meu nome, na imprensa oficial?”, acrescentou Yoani, ela mesma dando a resposta.
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“Porque em Cuba vivemos uma censura, um grande monopólio informativo que estão nas mãos de um único partido permitido. Um partido que não permite a existência de outras forças políticas, que pensa que pode falar em nome de uma nação”, fustigou a cubana da capital Havana, muito aplaudida ao final da fala e com flores brancas à sua frente. “Cuba não é um partido, uma ideologia, um homem. Cuba é plural, diversa, com muitas cores.”
Depois de 20 tentativas frustradas, em seis anos, de viajar pelo mundo (o governo cubano só recentemente flexibilizou a concessão de passaportes), a também filóloga agradeceu pelo “respeito e consideração” recebidos de parte dos brasileiros – apesar da claque de entidades como União Nacional de Estudantes (UNE) e Central de Movimentos Populares (CMB) que, impedidas de adentrar a sala onde o filme foi exibido, gritavam e exibiam cartazes com palavras contra a estrangeira.
“Obrigado por receber hoje uma pequena cidadã com uma grande responsabilidade. Com a responsabilidade de narrar essa Cuba real, silenciada pela propagada oficial. Essa Cuba das ruas, do povo, uma Cuba onde opinião é traição, onde abrir um blog e relatar as questões cotidianas e narrar o dia-a-dia se converte em um problema político”, disse Yoani, sentada à mesa do auditório entre o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), responsável pelo evento, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Maioria tucana
Participaram da cerimônia, além dos parlamentares já mencionados, os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Alvaro Dias (PSDB-PR) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP); e os deputados Rubens Bueno (PPS-PR), Alfredo Sirkis (PV-RJ), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Carlos Sampaio (PSDB-SP), Glauber Braga (PSB-RJ) e Mara Gabrilli (PSDB-SP), entre outros. A presença mais polêmica foi a do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Egresso do militarismo, Bolsonaro teve direito até a assento à mesa e, ao lado de Suplicy, criticou a democracia praticada pelo governo petista. Não mereceu resposta do senador, que pouco falou no evento.
Além de Suplicy, Glauber Braga era o outro governista na audiência. Ao contrário do petista, que apoia publicamente a causa de Yoani, Braga questionou a iniciativa do PSDB em exaltar o papel da cubana. Foi contraditado e até ironizado (“Vai pra Cuba!”, brincava Mendonça Filho) pelos tucanos, antes de ser respondido ponto a ponto por Yoani em questões como a opinião da cubana sobre a base naval de Guantánamo, mantida pelos Estados Unidos na costa cubana. Há denúncias de tortura contra presos políticos no local.
Por sua vez, Suplicy – que chegou a chorar em plenário, ontem (19), ao repudiar a manifestação em Feira de Santana – leu uma carta por ele escrita ao embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora, ressaltando a impotrância da visita de Yoani. Na segunda-feira (18), acompanhando Yoani naquele município baiano, Suplicy bateu boca com manifestantes contrários à ideologia defendida pela blogueira.