Ciosos quando se trata de evitar o risco de tirar dos armários os esqueletos das violências e arbitrariedades cometidas durante a ditadura militar, os oficiais da reserva tratam de colocar as dragonas sobre os ombros dos seus pijamas para protestar. Ontem (18), o general da reserva Luiz Eduardo da Rocha Paiva, ex-comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, divulgou nota em que critica durante a proposta de criação da Comissão da Verdade. O argumento é o recorrentemente utilizado sempre que se propõe investigar o que foi feito pelos governos durante a ditadura: o de que foi aprovada a Lei da Anistia, que teria perdoado todos os crimes cometidos, de um lado e de outro.
Quem contesta tal argumento lembra que a Lei da Anistia foi aprovada ainda durante o regime militar, e era no momento a única forma possível de reintegrar brasileiros que estavam no exílio, como Leonel Brizola ou Fernando Gabeira. Para o general, tal posicionamento “é um primarismo”, uma vez que a Lei da Anistia, segundo ele, foi aceita sem contestação por 30 anos.
Para o general, o que se deseja, na verdade, é “desgastar as Forças Armadas”. A Comissão da Verdade seria, na sua opinião, parte dessa estratégia. O desgaste das Forças Armadas seria uma “ação da estratégia de neutralização das instituições democráticas para apoiar o permanente propósito de tomada do poder pela esquerda socialista radical”. Para o general, ainda permanece viva a disputa que ele presenciou durante a ditadura, mesmo após a queda do Muro de Berlim e diante do fato de que hoje o único país que se mantém de fato comunista é Cuba.
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Por outro lado, alguns daqueles que lutaram conta a ditadura militar também são céticos quanto às possibilidades da Comissão da Verdade. É o caso do jornalista paulistano Celso Lungaretti, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). “Parece um mero prêmio de consolação”, declara. Autor do livro Náufrago da utopia – Viver ou morrer na guerrilha aos 18 anos (2005), ele prefere esperar a criação da comissão para depois emitir conclusões, e diz que o sucesso do colegiado vai “depender da composição”.
“Que seja uma espécie de antídoto, para criar anticorpos contra coisas absurdas, escabrosas, terríveis, que a gente tem de fazer tudo para nunca mais se repetirem. Coisas deprimentes, degradantes, aviltantes, que envergonharam o Brasil. [A comissão] tem que deixar bem registrado o que aconteceu”, disse Lungaretti ao Congresso em Foco. Em artigo publicado na seção Fórum do Congresso em Foco, Lungaretti colocou-se como uma espécie de “anti-candidato” a uma vaga na Comissão da Verdade.
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