A base aliada no Congresso está prestes a contabilizar mais uma baixa. Irritados com os vetos de Dilma às indicações do partido para o Ministério do Trabalho, os líderes do PDT resolveram adotar uma posição de independência, deixando o alinhamento automático com a base do governo. Na manhã desta quinta-feira (15), a cúpula do PDT reuniu-se no núcleo de articulação política do Palácio do Planalto e, novamente, não houve acerto na escolha do ministro. O partido chegou a cogitar a hipótese de repetir a decisão tomada ontem (14) pelo PR, que deixou definitivamente de ser aliado do governo. Mas preferiu uma posição mais branda.
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Neste momento, o líder do PDT no Senado, Acir Gurgacz (SC), anuncia que o partido continuará a apoiar os projetos do governo que tenham identidade com o partido, mas que passará a uma posição de independência. Lembrando que o PDT participou “ativamente” da campanha de Dilma, Acir deu o seguinte recado ao Planalto. “Não precisamos estar no Ministério para apoiar a nossa presidenta. Esse é o ponto importante que queremos colocar nesta tarde”, discursou, observado em plenário pelos correligionários Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT).
O recado foi tornado ainda mais claro por Cristovam, para quem a presidenta Dilma “prestaria um serviço à República” se permitisse a um “partido em construção” passar a ter “certa independência” em relação ao governo. “O ministério atrela o partido ao governo. Nós podemos ser da base de apoio sem atrelamento. Nesse sentido, creio que não devemos indicar [nome ao ministério] e devemos torcer para que ela não escolha ninguém do PDT”, emendou o ex-ministro da Educação no governo Lula.
Imagem e semelhança
A queixa do PDT é semelhante à do PR, que estava descontente com a perda de comando do Ministério dos Transportes e, ontem, anunciou a guinada à oposição. No caso, o PDT estava insatisfeito desde a saída de seu presidente, Carlos Lupi, do Ministério do Trabalho. O PDT indiciou para a pasta do Trabalho o deputado Vieira da Cunha (RS) ou o secretário-geral do partido, Manoel Dias (SC). Dilma não aceitou nenhum dos dois nomes, e insistia na escolha do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), nome que a cúpula pedetista não queria. Diante do impasse, o partido resolveu abrir mão do ministério.
Os três dos cinco membros do PDT no Senado – os outros são João Durval (BA) e Zezé Perella (MG) – estavam presentes ao plenário para anunciar a permanência na base, mas os recados continuaram. Na análise do contexto da crise, Pedro Taques fez questão de lembrar o papel dos partidos da base para a chamada governabilidade.
“O PDT foi o primeiro partido a apoiar a ainda pré-candidata a presidente da República – hoje, a presidente Dilma – em um jantar. (…) Antes do PT, o PDT apoiou. Apoiamos a coligação e estamos na coalizão. Agora, coalizão não quer dizer submissão. Coalizão quer dizer a possibilidade de críticas nos momentos em que entendermos, de forma política, com ‘p’ maiúsculo”, emendou Pedro Taques, para quem o partido não deve apoiar o governo em questões “não republicanas”. “Um partido político não pode ser um partido que só pleiteie cargos de ministro.”
Embora a ameaça de abandono não tenha se concretizado desta vez no Senado, o caso do PDT na Câmara tem outros desdobramentos. É lá que, afinal, três nomes do partido estão na linha de frente do pleito ao Ministério dos Transportes. Na contramão do que acontece com o PR – cuja bancada no Senado deixou o governo, mas não foi acompanhada pelos membros “independentes” da Câmara –, deputados do partido não descartam o rompimento. No fim do ano passado, no calor da crise ministerial, o deputado fluminense Miro Teixeira (PDT), ao criticar o “presidencialismo atrofiado” da gestão Dilma, disse que a presidenta adotava a prática de “fritar” ministros, em uma crítica clara ao tratamento diferenciado entre ministros petistas e de outros partidos.