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Os grampos mostram que, em diálogo interceptado em abril de 2011, Yanko tentou receber tratamento preferencial nos procedimentos de emissão de passaportes com o fim de acelerar a entrega dos documentos para dois filhos – uma viagem estava marcada para Las Vegas, daí a pressa de Yanko. Depois de receber o telefonema do policial legislativo, Dadá acionou um servidor da Polícia Federal, que facilitou a liberação dos passaportes.
Seria mais um caso de jeitinho brasileiro se não fosse o contexto em que Yanko está inserido: é ele o responsável pelo monitoramento noturno das três salas-cofre que guardam, no subsolo de um dos prédios anexos do Senado, o conjunto de arquivos enviados à CPI com informações das operações Vegas e Monte Carlo, cujas investigações desbarataram o esquema criminoso operado por Cachoeira com a participação de políticos, empresários e outros agentes públicos e privados. A sala – que é dividida em duas e acomoda dez computadores de consulta – é vigiada por câmeras e seguranças em tempo integral, em troca de turno que envolve policiais do Senado e terceirizados.
Como Dadá é um dos investigados pela Comissão Parlamentar de Inquérito, Yanko, na qualidade de quem tem relação com o espião, poderia facilitar o acesso a pessoas ligadas à quadrilha de Cachoeira. Além de parlamentares envolvidos com os trabalhos do colegiado, há uma lista de servidores credenciados autorizados a fazer consultas, e em uma das salas é permitido fotografar ou filmar documentos cujo sigilo de Justiça já foi derrubado. No compartimento ainda sob segredo judicial, não é permitida a entrada com aparelhos eletrônicos (celulares, laptops etc). Áudios com interceptações telefônicas, dados sobre sigilos bancário, telefônico e fiscais dos investigados, relatórios de inteligência e demais documentos das operações estão entre os materiais em poder da CPI.
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A sala-cofre foi um das primeiras iniciativas determinados por Vital do Rêgo para salvaguardar a privacidade dos trabalhos da CPI, uma vez que diversas informações – muitas das quais sigilosas à época – vazaram para a imprensa por pessoas com acesso aos autos dos inquéritos. Assim que soube da reportagem da revista Época, avisado pelo próprio veículo de imprensa, Vital disse que determinaria imediata abertura de investigação à polícia do Senado. Yanko confirmou à revista que era amigo de Dada e que fez o pedido referente à emissão dos passaportes, mas negou que tal relação representasse ameaça à inviolabilidade da sala-cofre. “As chaves ficam com o presidente da CPI”, alegou o chefe de segurança.
“Caso haja a comprovação do envolvimento do citado policial ou de qualquer outro servidor ou empregado terceirizado, esta Presidência solicitará às autoridades administrativas competentes o imediato afastamento de suas atividades, bem como a adoção das cabíveis medidas disciplinares e judiciais”, registra Vital em esclarecimento distribuído à imprensa. No ofício, o senador peemedebista ressalva sua “confiança” na polícia legislativa, “que vem realizando um trabalho de excelência em todas as tarefas que lhe foram atribuídas por esta CPMI [comissão parlamentar mista de inquérito], como a guarda e transporte da documentação, segurança das reuniões do colegiado e a entrega das correspondências de convocação aos depoentes”.
A reportagem do Congresso em Foco foi à sala-cofre no final da tarde desta sexta-feira (29), e conversou com dois agentes de segurança no local – um deles terceirizado. Um dos servidores, que pediu para não ser identificado, disse que nunca viu Yanko durante os diversos turnos noturnos de que havia participado.