Documentos do Sistema Nacional de Informações (SNI) guardados no Arquivo Nacional e obtidos pela Revista Época revelam que o modus operandi da Odebrecht, a maior empreiteira brasileira, para conseguir contratos com a administração pública por meio compra de apoio de políticos, do aliciamento de servidores públicos e da oferta de favores não é recente. A prática remonta à década de 1980.
Segundo a reportagem, ainda em 1989, mais de 20 anos antes da Operação Lava Jato, a empreiteira era acusada pelo então candidato à Presidência da República, Luis Inácio Lula da Silva, de se beneficiar indevidamente com as obras da Barragem Pedra do Cavalo, na Bahia. “Não serve para nada e foi construída para que as empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa mamassem US$ 650 milhões”, disse Lula durante um comício na época. A empresa era considerada “a favorita” do então governador baiano, Roberto Santos, do PMDB.
Outro informe do SNI, de 1984, diz que a Odebrecht fez repasses ao então pré-candidato à prefeitura de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), que somaram R$ 500 milhões. O valor teria sido usado para o político comprar uma fazenda de R$ 700 milhões no Mato Grosso. Iris nega que tenha recebido ajuda financeira da empreiteira e disse que as fazendas adquiridas antes das eleições foram pagas com o dinheiro da herança de seu pai e com recursos de serviços que prestou como advogado. “Não existe um item que possa colocar em dúvida minha honradez na política”, disse Iris, e acrescentou que só passou a contar com a ajuda de empreiteiras a partir das eleições para o Senado de 1994.
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O deputado Wolney Siqueira também se beneficiou do modus operandi da Odebrecht. Um ofício de 1983 do SNI diz que o deputado (na época filiado ao PDS) recebeu “ajuda” de 500 milhões de cruzeiros da empreiteira para sua campanha em 1982. Naquela época, a Odebrecht tocava as obras da hidrelétrica do rio Corumbá, e Wolney era secretário de Minas e Energia do Estado de Goiás.
As revelações dos documentos do SNI – somadas aos recentes depoimentos de ex-secretárias da Odebrecht que confirmam que o pagamento de propina a políticos era uma prática antiga da empresa – devem dificultar as tentativas de negociação de um acordo de leniência entre a empreiteira e a União. Será difícil comprovar que os procedimentos descobertos pela Lava Jato são restritos a uma diretoria da empresa, e não consistem em uma regra geral – aplicada há décadas.
Leia a reportagem completa da revista Época
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