O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU-SP) divulgou nota nesta terça-feira (1º de maio) em que critica o poder público, “em todas as esferas”, pelo descaso em relação ao quadro urbanístico das cidades brasileiras e pela ausência de políticas nacionais de habitação. O comunicado é uma reação ao incêndio, seguido de desabamento, de um prédio da União no centro de São Paulo, onde viviam 50 famílias, na madrugada desta segunda para terça-feira.
A entidade pede urgência na implementação de ações consistentes nos setores de habitação e patrimônio cultural. “O edifício, projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol, em 1961, era um dos melhores exemplos da arquitetura moderna na cidade […]. No entanto, já estava degradado por abandono, falta de manutenção e sucessivas ocupações informais e outras organizadas. Sem se entenderem, o governo, nas diversas esferas, e a Justiça permitiram que o cenário fosse se perpetuando”, lamenta a entidade.
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A nota lembra ainda que, como também já disse o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), há outros prédios sob risco de desabamento no município de São Paulo. “Há muitas outras construções em situação idêntica na área. Antes que novas tragédias aconteçam, é hora de uma ação política urbana articulada, séria e eficaz a respeito. Não apenas pelos edifícios icônicos, mas sobretudo por justiça social”, acrescenta a entidade, que reúne cerca de 50 mil arquitetos e urbanistas em atuação em todo o país.
Construído para ser a primeira sede da Companhia Comercial Vidros do Brasil, o edifício Wilton Paes de Almeida foi tombado como patrimônio histórico, em 1992, por ter sido considerado “bem de interesse histórico, arquitetônico e paisagístico”. Propriedade da União desde 2002, o prédio já abrigou unidades da Polícia Federal e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Tragédia social
Profissionais do Corpo de Bombeiros Militares e da Defesa Civil de São Paulo executam as providências imediatas após o desabamento do edifício. Ainda não há informações sobre quantidade de mortos ou sobre a origem do incêndio.
Mas ao menos uma vítima fatal da tragédia já foi identificada. Trata-se de Ricardo “Tatuagem”, que morava no prédio há quatro anos e tinha esse apelido devido às diversas tatuagens que tinha pelo corpo. Com cerca de 30 anos, Ricardo já havia saído do local instantes depois de iniciado o incêndio, mas voltou para ajudar moradores dos andares mais altos que tiveram dificuldades de sair do prédio de 24 pavimentos.
Segundo o portal G1, Ricardo morava sozinho e sobrevivia descarregando produtos importados chineses no centro de São Paulo. O bombeiro que tentou resgatá-lo, sargento Diego, relatou que chegou a se comunicar e até mesmo visualizar o morador, mas por pouco não conseguiu retirá-lo dos escombros.
“Fui orientando ele para ir se amarrando. A ideia era que passasse fita em volta do tórax dele. E depois ficaria preso. E depois a gente tiraria ele dessa situação. O problema maior foi que na hora que a gente ia retirar, o prédio caiu, tencionou a corda e ela não aguentou o peso. Não daria 30, 40 segundos, pra gente finalizar”, reporta o texto de Paula Paiva Paulo e Luiz Gerbelli.
Leia a íntegra da nota do CAU-SP:
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo se solidariza com as famílias das vítimas do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida e lamenta que a tragédia torne explícito mais um exemplo do descaso do Poder Público, em todas as esferas, com o atual quadro urbanístico das nossas cidades e com ausência recorrente de uma Política Habitacional Nacional consistente aliada a preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo.
O edifício, projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol, em 1961, era um dos melhores exemplos da arquitetura moderna na cidade e foi tombado, em 1992, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.
No entanto já estava degradado por abandono, falta de manutenção e sucessivas ocupações informais e outras organizadas. Sem se entenderem, o governo, nas diversas esferas e a Justiça permitiram que o cenário fosse se perpetuando, o que adiou sua possível recuperação e nova destinação, com potencial para amenizar a precária situação habitacional do centro e dar melhor uso à infraestrutura da região.
Há muitas outras construções em situação idêntica na área. Antes que novas tragédias aconteçam, é hora de uma ação política urbana articulada, séria e eficaz a respeito. Não apenas pelos edifícios icônicos, mas sobretudo por justiça social.