Wellington Miareli Mesquita *
Há oito anos, quando o mestre de cerimônias do Vaticano pronunciou o Extra Omnis, ordenando que apenas os cardeais eleitores permanecessem na Capela Sistina para a eleição, o conclave já estava decidido. Diante das incertezas geradas após o longo pontificado de João Paulo II, o cardeal alemão Joseph Ratzinger chamara para si a responsabilidade de conduzir a Igreja Católica num período de transição. Nesta terça-feira (12), o quadro parece ser bem diferente.
Não há ainda um nome de consenso entre os eleitores. Em um conclave, isso não é novidade. Em outubro de 1978, o impasse entre as candidaturas italianas Giuseppe Siri e Giovanni Benelli abriu espaço a um terceiro nome, um jovem até então desconhecido, um certo Karol Wojtyla. Dois meses antes, o mesmo Siri havia perdido a eleição para Albino Luciani, que morreria 33 dias após ser escolhido. Detalhe: naquele conclave, pela primeira vez na história, um brasileiro recebeu votos, Dom Aloisio Lorscheider.
Desta vez, outro gaúcho com ascendência alemã figura entre os papabili, Dom Odilo Scherer, homem que preenche muitos dos requisitos necessários para ocupar o trono petrino: moderado, guia uma das maiores arquidioceses do mundo (São Paulo), e é jovem. O cardeal gaúcho também compõe a comissão que cuida do polêmico Instituto para as Obras Religiosas (Banco Vaticano), epicentro de escândalos de corrupção e fraturas no núcleo da igreja. A origem alemã de Scherer rende-lhe, ainda, o apoio do clero germânico, pouco numeroso, mas poderoso. Lembre-se que Alemanha é o segundo maior financiador da Santa Sé, atrás apenas dos EUA, e à frente da Itália.
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Qualquer que seja o eleito, deverá enfrentar com sabedoria as principais questões que afligem a Igreja Católica: celibato, divórcio, papel da mulher na instituição, conflito com a ciência, relação com as outras religiões, pedofilia, entre outros. Ao mesmo tempo, o novo pontífice deverá reformar a pesada e obsoleta estrutura da Santa Sé, dar maior transparência às decisões, democratizar alguns processos e redefinir as competências do Vaticano, de modo a impedir que as lutas pelo poder a paralisem.
O conclave de Viterbo, na Itália, em 1271, entrou para história como o mais longo. A Sé ficou vacante por 33 meses! Impaciente pela falta de consenso, a população passou a fornecer aos cardeais apenas pão e água. Depois de tanta confusão, a surpresa. O eleito não vinha da Cúria. Tratava-se de Teobaldo Visconti, homem honesto e reformista, que passou para história como Gregório X. Certamente, a escolha do sucessor de Bento XVI não durará todo esse tempo. Os cardeais estarão bem alimentados e alojados no Vaticano. Espera-se, portanto, que elejam um sucessor que conduza a nau católica para águas mais calmas.
Publicidade* É jornalista e autor do livro Sucessão no Vaticano, que narra a morte de João Paulo II e a eleição de Bento XVI.
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