Embora permaneça em cima do muro sobre o apoio ao governo Michel Temer, o PSDB dará mais um sinal, a partir da noite desta quinta-feira (17), de que vai desfazer a aliança com o PMDB e desembarcar da base aliada no Congresso. Em vídeo de cerca de dez minutos, os tucanos vão veicular propaganda partidária em cadeia nacional de rádio e TV com uma crítica definitiva sobre a gestão do peemedebista.
Sem mencionar diretamente Temer ou a concessão de verbas e benefícios que o Palácio do Planalto pôs em campo, nas últimas semanas, para livrá-lo da denúncia por corrupção passiva, o filmete vai sugerir que o governo exerce um “presidencialismo de cooptação”. A expressão é muito utilizada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos caciques da sigla – e, na política, significa algo como aceitar qualquer tipo de parceiro, com todos os seus vícios e desmandos, para obter governabilidade.
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A propaganda foi antecipada em primeira mão pelo site Poder360, do jornalista Fernando Rodrigues. Em determinado instante do filmete (a partir do 5º minuto), em uma espécie de desenho animado, deputados são representados por bonecos recebendo dinheiro em troca de apoio ao governo.
Antes, o PSDB remonta ao seu manifesto de criação, em 1988, para lembrar que sempre defendeu o parlamentarismo como sistema de governo. “Pois é. Governos em crise, presidentes sem força para governar e sem apoio popular. Tudo isso está acontecendo agora. Mas tudo isso já é muito antigo também”, diz o roteiro lido por um ator jovem.
“E onde está o problema? Nas pessoas, apenas? Não existe salvador da pátria. O problema está no sistema, no chamado presidencialismo de coalizão – o que, no Brasil, virou um presidencialismo de cooptação”, completa uma atriz negra, em fala entrecortada com a pergunta “O que é o presidencialismo de cooptação?”.
“Melhor traduzir, né?”, replica a atriz, dando início à animação mostrando deputados recebendo dinheiro – e, neste momento, tendo os olhos transmutados em cifrões.
Veja no filme:
“Presidencialismo de cooptação é quando um presidente tem que governar negociando individualmente com políticos ou com partidos que só querem vantagens pessoais e não pensam no país. Uma hora, apoia. Outra, não. E quando apoia, cobra caro”, continua o vídeo no trecho seguinte.
“O programa do PSDB foi produzido a partir do pensamento quase solitário do presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE). Tasso já provocou forte reação dos tucanos quando ‘teasers’ da propaganda foram transmitidas em spots de 30 segundos na TV na semana passada”, diz o registro feito por Fernando Rodrigues.
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Partido rachado
Entusiasta da pauta reformista de Temer, o PSDB foi um dos principais artífices do enfrentamento que culminou com o impeachment Dilma Rousseff – ofensiva iniciada já a partir de 2014, quando o partido ajuizou, naquele outubro de pleito eleitoral, primeiro um pedido de auditoria no sistema de apuração de votos, e em seguida, em dezembro, quando anunciou uma ação por abuso de poder econômico contra a chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Depois de consumado o afastamento da petista, viu-se na inusitada situação de, como autor do processo, ter representado uma ameaça ao mandatário cujo governo apoiava. Fosse outro o voto de Minerva dado em 9 de junho pelo presidente do TSE, Gilmar Mendes, o partido teria derrubado o chefe de Executivo que ajudara a levar ao poder.
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Atualmente, o partido tem quatro ministros: Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antonio Imbassahy (Secretaria-Geral da Presidência da República), Bruno Araújo (Cidades) e Luislinda Valois (Direitos Humanos). Mas, desde de que 21 deputados tucanos votaram a favor da denúncia por corrupção passiva contra Temer, suspensa enquanto o peemedebista estiver na Presidência da República, cresce entre aliados a pressão para o governo promova uma reforma ministerial e contemple partidos mais fiéis que o PSDB, retirando-lhe as pastas. Em 2 de agosto, quando o parecer de Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) contra a denúncia foi aprovado no plenário da Câmara, 22 deputados tucanos votaram a favor de Temer, evidenciando o racha na legenda.
Depois das delações do Grupo JBS, que levantaram suspeições de Temer por corrupção passiva, obstrução de Justiça e associação criminosa – estas duas últimas hipóteses ainda sob exame da Procuradoria-Geral da República (PGR) –, o PSDB tem navegado segundo as circunstâncias e na iminência de “fatos novos”, ou seja, do aparecimento de mais denúncias com potencial explosivo contra o Planalto. A expressão tem sido recorrentemente utilizada por caciques do partido para condicionar o desembarque (ou a permanência) da base aliada. Além daqueles 21 deputados, Tasso e seu colega senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), por exemplo, têm defendido o rompimento com o governo, mas mantendo o apoio às reformas por ele patrocinadas.
Presidente licenciado do partido, o senador Aécio Neves (MG), também alvejado pelas delações da JBS, é um dos principais fiadores da parceria com Temer. Com pedido de prisão pendente de análise pelo Supremo Tribunal Federal, por solicitação da PGR, o tucano tem evitado exposições e aposta na atuação de bastidor para viabilizar a governabilidade e as pautas do Executivo. Ultimamente, depois que foi beneficiado com a permissão para retomar o exercício do mandato, tem se reunido com Temer no Palácio do Planalto e defendido em declarações à imprensa, nessas ocasiões, o programa de reformas do governo.
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